Mais minitextos da ótima escritora e jornalista Sonia Nabarrete. Desta vez com dois minicontos que mostram o quanto que o corpo fala.
Live
Viu a live do moço, músico profissional, mostrando sua habilidade ao dedilhar o violão.
Ela nem reparou na cara dele, mas ficou impressionada com a forma como ele tocava, extraindo uma melodia conhecida.
Cantarolou a canção, mas não conseguia despregar os olhos daqueles dedos longos, que alternavam delicadeza e vigor, lentidão e rapidez.
Ficou imaginando aqueles dedos em seu corpo e se tocou.
Não ouviu mais a música, apenas os próprios gemidos de prazer
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Comunicação
Ambos tinham deficiência auditiva leve, mas conseguiam conversar bastante por meio de leitura labial.
Além da comunicação, a visão da boca do outro alimentava o desejo por beijos, lambidas, chupadas.
Às vezes nem entendiam direito o que o outro dizia, entretidos nos lábios que se moviam e alavancavam a imaginação libidinosa.
Na última vez em que se viram, não conseguiram conversar porque as máscaras tapavam as bocas, e tiveram que canalizar nos olhos tudo o que gostariam de dizer um ao outro.
Por meio de olhares safados, reafirmaram o desejo.
Despediram-se.
Ele de pau duro. Ela encharcada.
Inequívoca linguagem dos sinais.
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