Por Ricardo Senra, compartilhado de BBC News –
O paraense Manuel Valente está entre os mais de 240 homens católicos e casados da Amazônia que, nos últimos três meses, esperaram ansiosamente por um sinal verde do Vaticano para se tornarem padres.
Manuel e seus pares são diáconos permanentes, um grupo de homens que fica abaixo de padres e bispos na hierarquia da Iigreja, mas que pode celebrar batismos e casamentos, veste batina e clérgima (o colarinho típico dos sacerdotes), embora não precise optar pelo celibato.
Em outubro do ano passado, numa decisão histórica, 128 bispos contra 41 votaram a favor da “ordenação como sacerdotes de homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo, podendo ter família legitimamente constituída e estável” em regiões remotas da Amazônia.
A decisão preliminar do Sínodo da Amazônia, que dependia da chancela do papa Francisco e visava a responder à escassez de padres na região, era vista como a chance de reconhecimento pela igreja ao trabalho de homens que, como Valente, pregam a fé católica sem qualquer remuneração.
Na prática, eles são o rosto da Igreja em locais remotos, onde um único padre precisa se desdobrar entre dezenas de pequenas capelas espalhadas em longos arquipélagos fluviais. Em locais como Cametá (PA), município formado por centenas de ilhas onde vive Valente, comunidades católicas passam até um ano sem participar de nenhuma missa.