Por Ricardo Cintra, arquiteto.
Eu sou branco.
Sou homem
Nasci em São Paulo.
Bairro nobre.
Família tradicional.
Elite.
Mas…
Gay.
Ai me assumi.
E fui banido.
Tive de me reinventar, tive de me re-conhecer.
Meu lugar de fala mudou.
Passei a ser minoria.
Fui resistência.
Fui resistência por sobrevivência.
Nunca peguei uma bandeira, nunca fui pra rua.
Resisti vivendo como acreditava.
Resisti aos padrões que tentaram me impor.
Criei meu filho, um rapaz de 27 anos hoje, que daria orgulho a qualquer pai e me enche de Amor.
E fui vivendo um dia depois do outro.
E as coisas foram melhorando.
E fui reintegrado.
Bem… 2018.
Estamos aqui vivendo em paz em Paquetá, mas parece que o mundo tá me banindo de novo.
E eu continuo com um monte de amigos em São Paulo, a maioria elite e a maioria votando em Bolsonaro.
“-Calma Ri, ele só fala estas atrocidades da boca pra fora, mas não vai fazer nada disso…”, argumentam meus amigos.
“‘Ahhh Ri… Pelo amor de Deus! Não da pra votar em ladrão! O PT é ladrão!”
Argumentam meus amigos.
Eu entendo.
Bolsonaro fala pra eles.
Vai acabar com o “coitadismo” dos gays, negros e mulheres.
Vai acabar com as cotas.
“- Ufa , nossos filhos que se esforçaram a vida toda em escolas de elite (que nos custam uma fortuna por mês!), são os com mais conhecimento de fato, vão voltar a ter as mesmas chances no vestibular!
Fora pobres usurpadores!”
Vai dar retaguarda pro policial matar bandido;
Mas e se matar um inocente?
“Ahhh guerra é guerra.. E eu nem moro nem nunca fui em uma comunidade… Nem conheço ninguém que more… É chato né, mas é da vida.
Viver é perigoso, né? ”
Enfim, entendo o voto da elite em Bolsonaro.
É egoísta, mas tem lógica.
Agora…pobre, gay e negro votando no Bolsonaro.
Não entendo. Não entendo mesmo.