Por André Caramante, Viomundo –
Após três anos, chacina do Jardim Rosana vira símbolo da impunidade da PM de São Paulo
Conheça detalhes inéditos sobre atentado que matou sete moradores do Jardim Rosana, periferia da na zona sul de SP, em janeiro de 2013, e como nove dos dez PMs acusados de participação na chacina escaparam de sentar no banco dos réus. Único PM que seria julgado pelo crime fugiu de presídio militar há quase um ano
O velho Monza, marrom e com os vidros escurecidos, foi o primeiro veículo a se aproximar, lentamente, do Bar do Rob na noite de 4 de janeiro de 2013, sexta-feira. No comboio sorrateiro que chegava, às 23h20, ao nº 75 da Reverendo Peixoto da Silva, rua em formato de ferradura no Jardim Rosana, zona sul da cidade de São Paulo, também estavam uma Spacefox, preta, um Agile, verde escuro, e um Gol, preto e “modelo geração III”.
Na noite anterior (3/01/13), a mesma Spacefox fora vista no atentado contra o deficiente visual Rodrigo Barbosa, 27 anos, também morador do Jardim Rosana e morto com um tiro na nuca. Um amigo de Barbosa escapara dos atiradores e descrevera o carro como parte de um comboio da morte que rondava o bairro.
O veículo preto, assim como também policiais militares fardados e em horário de trabalho, apavorava os moradores do Jardim Rosana, na região do Campo Limpo, havia quase dois meses, desde quando um morador da rua em forma de ferradura gravou a ação da Polícia Militar de São Paulo que terminou com a morte a tiros de um suspeito de roubo, em novembro de 2012.
Ao perceberem a aproximação da Spacefox, sete jovens que conversavam na calçada do Bar do Rob, três deles degustando caipirinha, tiveram certeza de estar à beira de uma tragédia. “Vai, é polícia, ninguém corre!”, gritaram os encapuzados. Nenhum dos sete rapazes ficou parado. A velocidade do grupo em um beco-escadão, bem ao lado do bar, foi a mesma com a qual os encapuzados desceram dos quatro carros.
Com pistolas de calibres .380 e .40 e potentes escopetas “mata elefante” calibre 12, os encapuzados, cerca de 14 deles, segundo quem viu a morte naquela noite e sobreviveu para contar, dividiram-se para começar a chacina que hoje, três anos mais tarde, pode ser considerada símbolo da impunidade em torno da letalidade que envolve membros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Parte dos encapuzados entrou no Bar do Rob e parte parou na frente do beco-escadão e por onde os sete jovens correram rumo à rua Dr. Frederico de Azevedo Antunes.
Horas antes da chacina no Bar do Rob, o mesmo Gol preto integrante do comboio dos matadores fora visto em um petshop, distante cerca de 350 metros do local do atentado. O que chamou a atenção de quem viu o carro foi o fato de que seus ocupantes pararam o veículo no petshop, desceram e foram conversar com militares de um dos carros da Força Tática do 37º Batalhão da PM.
No momento da invasão ao Bar do Rob, o dono do lugar atendia e conversava com clientes já bem conhecidos, praticamente seus amigos: Láercio de Souza Grimas, 33 anos, conhecido no Hip Hop brasileiro como DJ Lah, do grupo de rap paulistano Conexão do Morro, o manobrista Carlos Alexandre Claudiano da Silva, 27, os instaladores de alarmes de segurança Ricardo Genoíno da Silva, 39, e Almando Salgado dos Santos Júnior, 41, o pedreiro João Batista Pereira de Almeida, 34, e o tosador Edilson Lima Pereira Santos, irmãos de 34 e 27 anos, respectivamente.
Perto de inaugurar uma sorveteria no Jardim Rosana, DJ Lah estava no Bar do Rob, distante apenas 230 metros de sua casa, para conversar com um rapaz contratado para fazer grafites nas paredes de seu empreendimento. Como ainda não havia feito as pinturas artísticas e a sorveteria abriria as portas na semana seguinte, o rapaz ficara de devolver o valor já pago pelo DJ.
Lah saíra de casa às 22h daquela sexta-feira para encontrar o grafiteiro e, como não retornara logo, a mulher do DJ ligou no seu celular. A breve conversa terminara com Lah dizendo que o rapaz estava para retornar com o seu dinheiro. Ao desligar, a mulher do DJ ouviu estampidos. Ela pensou, erroneamente, serem de fogos de artifício, ainda pela comemoração da chegada de 2013.
Preocupada com os barulhos, a mulher de Lah resolveu ir até o bar. Poucos minutos haviam se passado desde os estampidos. Ao ver o lugar cercado por policiais militares, ela teve certeza de que se tratava, na realidade, de tiros, muitos tiros.
Highlanders, os militares cortadores de cabeças
Os PMs à porta do bar eram do 37º Batalhão, a mesma unidade da Polícia Militar de SP na qual, em 2008, foi descoberta como quartel general do grupo “Os Highlanders”, assim chamados por integrar, segundo a Polícia Civil e Promotoria, um grupo de extermínio responsável por cortar as cabeças e as mãos de 12 vítimas.
Os militares impediam a aproximação das pessoas ao Bar do Rob e o cercavam com uma fita amarela e preta, tradicional nas cenas de crimes. Eram muitos os moradores da rua em formato de ferradura que se aglomeravam, choravam e gritavam. Queriam saber quem eram as pessoas feridas pelas quase cinco dezenas de tiros.
No meio dos vizinhos da rua em formato de ferradura, a mulher do DJ Lah viu dois corpos esticados na porta do Bar do Rob. Um deles calçava tênis brancos e vestia calça de moletom vermelha e blusa branca, empapada de sangue. Ela não teve dúvida, era o pai de sua filha, o homem com quem vivia há 17 anos.
Com um grande hematoma roxo na parte superior no olho esquerdo, que tinha um corte de 3 cm na parte inferior, Lah estava à direta de quem olhava da rua para o comércio, perto da porta principal. O DJ estava ferido com um tiro de escopeta calibre 12, disparado depois de ele já ter sido atingido por outros tiros de pistolas .40 e .380.
Os peritos concluiriam mais tarde que o tiro da “mata elefante” contra Lah foi dado à queima roupa, a curta distância, com ele já deitado. Vários dos pequenos projéteis (bolinhas de chumbo) que formavam o balote da calibre 12 usada no crime transfixaram o corpo do DJ e abriram buracos no piso de cerâmica bar. Foi o tiro do “confere”, ou seja, o disparo para confirmar sua morte, caso ele ainda não tivesse morrido em função dos tiros das pistolas.
A raiva maior dos atiradores era contra Lah. Estava claro para os investigadores. O DJ foi golpeado no rosto e ainda ferido com a bala da “mata elefante” e também das pistolas .40 e .380. Dias após a chacina, a investigação descobriria que os encapuzados acreditavam que Lah tinha feito a gravação incriminando outros PMs do 37º Batalhão na morte do suspeito de roubo.
De joelhos para São Jorge
Na parede dos fundos do Bar do Rob, encoberto pelo balcão de alvenaria (para quem também olhava da rua), o corpo do instalador de alarmes de segurança Ricardo Genoíno da Silva estava na posição descrita pelos peritos como “genuflectida” (de joelhos).
Silva tinha vários ferimentos na lateral esquerda da barriga e no antebraço, o que também indicava a tentativa de se defender dos tiros. Ele fora atingido quando, agachado e encolhido, encostou a lateral direita do corpo na parede, estava acuado. Na mesma parede desgastada do bar, centímetros acima de onde jazia o corpo de Silva, uma imagem toda branca de São Jorge, com sua lança em luta contra o dragão, permanecia intacta, mesmo sendo de gesso.
À frente de Silva, espremidos entre o balcão de alvenaria e um freezer, espaço onde o dono do Bar do Rob atendia seus clientes, com as cabeças voltadas para a porta de entrada, estavam os corpos do instalador de alarmes de segurança Almando Salgado dos Santos Júnior, chamado pelos amigos de Júnior, e o do manobrista Carlos Alexandre Claudiano da Silva.
Santos Júnior e Claudiano da Silva tinham ferimentos no peito e na cabeça. O espaço onde buscaram abrigo era mínimo e ainda foi dividido com o dono do bar, que se agachou atrás do mesmo balcão, abaixo de um pôster do Santos Futebol Clube e de um quadro, também com a imagem de São Jorge na luta contra o dragão, para não ser visto e morto pelos encapuzados.
Ao lado do corpo do DJ Lah, ainda mais próximo da porta de entrada do Bar do Rob, estava o corpo do tosador Edilson Santos, com vários tiros no peito e nas mãos, também usadas para tentar, em vão, se defender e bloquear os tiros. Naquela noite, Santos havia ido tomar cerveja com o irmão, João Batista Pereira de Almeida.
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Mesmo com a frente do Bar do Rob tomada por encapuzados, o pedreiro João Almeida havia conseguido correr e seguir pelo mesmo beco-escadão por onde fugiram os sete jovens que estavam na porta do boteco no momento do atentado dos encapuzados.
Com os sete jovens e o pedreiro rasgando a pé o estreito beco-escadão, os atiradores não tiveram dificuldades de, mesmo no escuro, atingir metade do grupo com seus disparos. Dois dos quatro feridos com mais gravidade foram João Almeida e o estudante Brunno de Cássio Cassiano Souza, de 17 anos. Socorridos, os dois morreram em hospitais públicos da região do Campo Limpo.
Antes de ser levado para o hospital, João Almeida entrou em uma casa no fim do beco-escadão e lá ficou, sentado em um sofá puído, até ser levado para o Hospital M´Boi Mirim. O socorro foi prestado pelos mesmos PMs que também levaram um dos rapazes do grupo ferido sem gravidade na coxa esquerda.
Um pouco acima do peso, Brunno Souza não conseguiu acompanhar os amigos na corrida e caiu ao sentir o impacto da bala contra seu corpo, quando ainda estava na escuridão do beco-escadão.
Desesperado, o estudante ainda pediu ajuda a um amigo, então com 21 anos e que, mesmo baleado, voltou para tentar erguê-lo. No momento do socorro, o amigo de Brunno Souza foi ferido novamente. Em choque e sem força para levantar o estudante, ele foi obrigado a fugir para outro bar, sem levar o jovem de 17 anos.
O jovem de 21 anos (cujo nome é preservado nesta reportagem) ficou no segundo bar até a chegada de mais PMs do 37º Batalhão ao Jardim Rosana. Com medo de ser assassinado, o rapaz não queria ser socorrido por aqueles policiais, segundo dissera depois no hospital.
A ajuda só foi aceita quando vários vizinhos confirmaram que o jovem de 21 anos estava vivo. E foi assim que ele chegou ao Pronto Socorro do Hospital Campo Limpo, onde ficou internado. O mesmo não aconteceu com Brunno Souza. O estudante foi socorrido por PMs do 37º Batalhão com vida, mas chegou morto ao hospital.
Parentes do estudante lembram ter visto apenas um ferimento de tiro no corpo dele, logo após o atentado no Bar do Rob e no beco-escadão. No IML (Instituto Médico Legal), os médicos legistas encontraram três entradas de bala em Brunno Souza.
O quarto ferido na fuga pelo beco-escadão foi um homem de 24 anos (nome também preservado pela reportagem). Ele bebia a caipirinha com Brunno Souza e o amigo deles de 21 anos, o mesmo que só aceitou entrar no carro da PM para ser socorrido após seus vizinhos comprovarem que ele estava vivo. O tiro o atingiu na coxa esquerda, mas sem gravidade. Levado para o hospital, esse homem de 24 anos foi liberado rapidamente.
Quando chegou à rua Dr. Frederico de Azevedo Antunes, acessada pelo beco-escadão na correria, um daqueles jovens que fugiam dos encapuzados pulou o muro da primeira casa que viu.
Assim que aterrissou seu corpo no chão, o rapaz, ainda incrédulo por não ter sido atingido pelos tiros, viu um carro da Força Tática (espécie de grupo especial de cada batalhão da PM de SP) cruzar a rua lentamente. Sim, enquanto os encapuzados atiravam no bar, policiais militares, fardados e em um carro oficial, estavam na rua de cima daquela onde está o Bar do Rob, acessada pelo beco-escadão. O veículo da PM estava com todas as luzes de sinalização apagadas.
Ao todo, naquela noite de 4 de janeiro de 2013, os encapuzados do comboio da morte mataram sete homens e feriram outros dois. Foram 47 tiros disparados dentro do Bar do Rob e no beco-escadão.
Ao mesmo tempo em que vários outros carros da PM atracavam na porta do Bar do Rob, moradores do Jardim Rosana viram os primeiros militares a chegar ao lugar vasculhando o boteco, o beco-escadão e parte da rua em formato de ferradura. Até mesmo PMs em folga ou de férias, alguns com parentes, foram ao local do crime, já na madrugada do sábado (5/01/13).
Alguns desses primeiros PMs contrariavam o procedimento policial em cena de crime e recolhiam cápsulas e pedaços de chumbo, função exclusiva dos peritos da Polícia Técnico-Científica. Muitos moradores viram essa interferência dos PMs do 37º Batalhão e para quem o material era entregue, um oficial da Polícia Militar paulista.
Como a população do Estado de São Paulo ainda estava traumatizada com a onda de violência do segundo semestre de 2012, quando grupos de extermínio agiram nas periferias das grandes cidades paulistas para vingar a morte de policiais atacados pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), o então delegado-geral da Polícia Civil de SP, Maurício Blazeck (1963-2015), foi ao Jardim Rosana, por ordem do governador Geraldo Alckmin (PSDB), para tentar entender a chacina no Bar do Rob.
O retorno do chefe da Polícia Civil para Alckmin, na manhã de 5 de janeiro, ainda em meio à repercussão da chacina, foi direto: PMs eram os principais suspeitos pelos assassinatos. O governador, como sempre faz ao ser questionado pela imprensa em casos de violência policial, soltou: “Tudo vai ser investigado com profundidade e rigor até prendermos os responsáveis”.
Apesar da tentativa dos primeiros PMs que chegaram ao Jardim Rosana de sumir com estojos e chumbo dos projéteis usados pelos encapuzados no atentado, a incompetência os venceu.
Os peritos da Polícia Técnico-Científica de SP localizaram 41 estojos de pistola .380, três de pistola .40 (arma de uso restrito às forças de segurança) e três de escopeta “mata elefante” calibre 12, entre o Bar do Rob e o beco-escadão. Duas buchas de calibre 12 e 25 projéteis, alguns deles despedaçados, também foram apreendidos pela perícia.
No laboratório do Núcleo de Balística do IC (Instituto de Criminalística), os peritos descobriram três estojos de projéteis calibre .40, justamente os que estavam embaixo de um freezer do Bar do Rob e embaixo dos corpos do DJ Lah e do tosador Edilson Santos, com números de série do fabricante da munição grafados em suas bases: AHI57, AGX12 e AIQ38.
Ao rastrear para quem a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) tinha vendido os lotes com essa numeração, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de SP, chegou até a Polícia Militar paulista, que, por sua vez, havia repassado as balas para o 37º Batalhão da corporação, localizado na zona sul de São Paulo e responsável por atender, entre dezenas de outros bairros daquela região, o Jardim Rosana.
As armas dos policiais militares da 5ª Companhia (subdivisão, destacamento) do 37º Batalhão que patrulhavam o Jardim Rosana foram apreendidas e, na perícia, descobriu-se que uma pistola .40, número de série SBT 02954, havia disparado os tiros contra dois dos cinco homens mortos dentro do Bar do Rob. A arma pertencia à Polícia Militar de SP e estava em poder do soldado Gilberto Eric Rodrigues, hoje com 31 anos.
Com o resultado positivo da perícia para a utilização da arma do PM Rodrigues no atentado e os relatos das testemunhas, a investigação rastreou a rede de contatos do soldado na corporação e chegou aos nomes de mais nove militares, dentre eles um oficial, o capitão Sandro Andrey Alves. A jogada seguinte fora destrinchar o que cada um daqueles PMs ligados a Rodrigues fazia na noite de 4 de janeiro.
No começo da investigação, ainda com a chacina do Jardim Rosana repercutindo nos meios de comunicação, foram presos temporariamente os soldados Gilberto Eric Rodrigues, Carlos Roberto Alvarez, Fábio Ruiz Ferreira, Anderson Francisco Siqueira, Antonio Marchetti Júnior e Luis Paulo Uchoas Ungur, os sargentos Antonio Luis Ribeiro Munduruca e Adriano Marcelo do Amaral e a cabo Patrícia Silva Santos. Apenas o oficial capitão Sandro Andrey Alves ficou fora da prisão.
Oito dos dez PMs do 37º Batalhão foram denunciados pelo promotor João Carlos Calsavara, do 1º Tribunal do Júri, à Justiça por participação nos sete homicídios no Jardim Rosana e tiveram suas prisões preventivas solicitadas pela Polícia Civil.
Gilberto Rodrigues, Fabio Ruiz, Antonio Munduruca e Antonio Marcheti agiram diretamente no atentado a tiros, de acordo com a denúncia da Promotoria à Justiça.
A cabo Patrícia Santos, o soldado Carlos Alvarez e o sargento Adriano do Amaral deram, também segundo a Promotoria, apoio para o atentado promovido pelos quatro primeiros, assim como o armeiro Anderson Siqueira, responsável pela guarda das armas do 37º Batalhão na noite da chacina do Rosana.
Na mesma denúncia à Justiça, a Promotoria acusou o soldado Luis Paulo Uchoas Ungur e o capitão Sandro Alves, o oficial da PM para quem os subordinados entregaram estojos e projéteis recolhidos criminosamente da cena do crime, de fraude processual.
A juíza Carla de Oliveira Pinto Ferrari, da 1ª Vara do Júri de São Paulo, recebeu a denúncia contra seis dos PMs: Gilberto Rodrigues, Fábio Ruiz, Patrícia Santos, Carlos Alvarez, Adriano do Amaral e Luis Ungur. A prisão preventiva (que poderia durar até um possível julgamento) dos cinco primeiros foi decretada pela magistrada.
“Quanto a Luis Paulo [Ungur] tem-se que também foi reconhecido como um dos responsáveis pela coleta de cartuchos vazios no local dos fatos, mas não há indícios, com a relação a ele, de que tenha aderido à conduta dos executores previamente, de modo que não pode responder por participação nos crimes de homicídios”, justificou a juíza Carla Ferrari.
Sobre Anderson Siqueira, Antonio Munduruca, Antônio Marchetti e Sandro Alves, os outros quatro militares acusados pela Polícia Civil e pela Promotoria de participação na chacina, a magistrada rejeitou a denúncia contra todos “por ausência de indícios suficientes de autoria ou participação”, assim como também o pedido de prisão preventiva contra eles.
Inconformado com a decisão da juíza, o promotor João Carlos Calsavara entrou com um recurso em sentido estrito para tentar a decretação da preventiva dos quatro PMs.
“Trata-se de chacina cometida por policiais militares, com requintes de extrema violência e crueldade, marcadas desde o início das investigações pelo temor evidente das testemunhas, haja vista que na exordial [inicial] constam três testemunhas protegidas, o que requereria certamente apreciação mais detida acerca dos indícios de autoria e das consequências nefastas da libertação dos acusados, ora recorridos [os quatro PMs]”, escreveu o promotor Calsavara.
“O que pensarão os moradores da comunidade onde foram praticados os delitos quando presenciarem os recorridos novamente na via pública?” e, “desta forma, equivocada a decisão proferida pela magistrada, que vislumbrou proteger o direito à liberdade dos acusados em detrimento da tranquilidade dos moradores da comunidade e do bairro, situado em local ermo e longínquo”, continuou o promotor, no seu recurso.
Ao analisar o recurso do promotor Calsavara contra a decisão da juíza Carla Ferrari, o juiz Alberto Anderson Filho aceitou apenas a manutenção da denúncia contra o soldado Gilberto Rodrigues e absolveu sumariamente todos os outros nove PMs ligados ao caso pela Polícia Civil, Corregedoria da PM e Promotoria.
O magistrado Anderson Filho também mandou soltar Patrícia Santos, Carlos Alvarez, Adriano do Amaral e Fábio Ruiz, que estavam presos preventivamente por ordem da juíza Carla Ferrari.