Carlos Eduardo Alves para o Bem Blogado –
No futebol, costuma-se dizer que quando um time está abusando do acaso, desprezando demais o risco, está “pedindo para tomar um gol”. Na Política brasileira, pode-se dizer que o governo Michel Temer está fazendo tudo para tomar um gol.
As duas últimas semanas têm sido trágicas para o pessoal do golpe. Começou com a constatação de que a prometida recuperação econômica empacou. Não houve o milagre rápido prometido para os incautos. A cada semana, pioram os indicadores, vai se fazendo mais água na previsão de crescimento do PIB em 2017 e o desemprego cresce.
O episódio Calero e Geddel deixou nu a fraude dos falsos probos que se apossaram do Poder sem voto para tal. A desmoralização pública gerada pelo flagrante de um presidente da República se empenhando para tentar dar legalidade a uma picaretagem do ministro e amigo causou um rombo na já precária popularidade de Temer. É o tipo de escândalo de fácil entendimento para o cidadão comum, justamente aquele que começa a ouvir, aqui e ali, alguma coisa sobre retirada de direitos sociais.
A sintomática e raríssima convocação de uma entrevista coletiva dominical é o atestado da crise. De articuladores da impopular anistia ao caixa 2, Temer, Renan e Maia passam a combatê-la para tentar apagar o incêndio das traficâncias imobiliárias em palácio. Verdade que, no caso específico, uma parcela considerável da oposição também deixou suas digitais na manobra. Tem gente que ainda não entendeu que a música da banda agora é outra. Vale mais, para a turma do golpe, entregar os anéis e salvar os dedos ameaçados pela ira à manobra da anistia.
Para completar o fim de ano ruim, Temer foi abalado na segunda-feira pela divulgação das agora explicitadas ameaças de seu sócio político Eduardo Cunha. Mesmo vetadas pelo juiz Moro, as perguntas feitas por Cunha ao antigo aliado, no âmbito da Lava Jato, passaram do recado. É o “eu sei o que você fez e não foi bonito”. Cunha sabia que as indagações seriam barradas por Moro, mas alcançou o objetivo: para cair sozinho, terá que haver alguma recompensa. Jogo de chantagistas profissionais de PMDB.
Não é provável, porém, apesar de todo “esforço” de Temer e seus amigos enrolados, que o governo esteja já em estado terminal, como acham alguns bem-intencionados que confundem análise com torcida. O governo tem uma missão dada pelos patrocinadores do golpe, a elite que conseguiu, com manipulação e antipetismo, ganhar a classe média e no mínimo até agora neutralizar os pobres: é necessário, custe o que custar, aprovar o ajuste que vai retirar direitos sociais. Ás favas eventuais pruridos éticos. O que interessa é a mercadoria.
O PSDB não tem interesse em tirar Temer antes de conseguir passar o trator do ajuste. É o PMDB quem foi escalado para fazer o serviço sujo, que obviamente custará a inviabilidade eleitoral de quem o comandar. A disputa presidencial de 2018 está logo ali e não é lógico nenhum tucano querer assumir a cara de medidas que vão atingir o cidadão no cotidiano. É bonito falar em necessidade de cortar gastos, mas só até a hora em que o cidadão que precisa de Estado recorrer ao SUS e constatar que ele não funciona, que vai ter que trabalhar mais até se aposentar, que a escola da filha piorou…
O apoio de TODOS os líderes do PSDB a Temer na sexta-feira da demissão de Geddel não foi por acaso e nem formal. Como disse FHC, o governo Temer “é o que temos para hoje”. Respaldo político no lamentável Congresso atual também não falta, como é atestado no resultado de todas votações relevantes até hoje. E o Judiciário, bem, o Judiciário de Gilmar e Moro está aí….
Com tudo a seu favor, Temer pode, por causa da precariedade moral de equipe e apoiadores, ser vítima mesmo assim de tiros no pé. “Potencial” para o desastre, vê-se, não falta. Ajudaria muito a tarefa de complicar os farsantes se setores da oposição tivessem entendido o recado das últimas eleições, quando muitos bons candidatos populares pagaram o preço de erros que voltam a rondar muitos parlamentares petistas, principalmente. Mas seria talvez pedir demais. Hoje, é mais fácil os velhacos tropeçarem pelo excesso de esperteza e espertos do que pela ação articulada de opositores. Infelizmente. Mas, numa leitura à esquerda da maldade de FHC, é o que temos por enquanto.