Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado
A execução brutal da vereadora carioca Marielle Franco é uma das vergonhas maiores da triste História recente do Brasil. E trouxe junto mais uma chocante avalanche do esgoto fascista que inunda o País.
Nos dias seguintes à execução, grupos de extrema-direita, do Judiciário e políticos juntaram-se aos já habituais imbecis de rede social na tentativa de, com mentiras, justificar a barbaridade da execução. Seria mais um caso típico de culpar a vítima não fosse a relevância de alguns dos envolvidos no caso.
A desembargadora carioca que levianamente acusou a vereadora do PSOL de associação com o tráfico, entre outras muitas mentiras, serve para situar o atual impasse que a Civilização vive no Brasil.
Soube-se depois que a desembargadora é uma militante fascista desavergonhada, que defende as teses mais retrógradas possíveis. E é aí que a face obscura do Brasil atual bate de frente com a Democracia. Sabe-se já há algum tempo que o Judiciário nacional virou ponto de abrigo do atraso.
Sob o popular manto do combate à corrupção, Juízes, promotores, desembargadores e ministros do STF atropelam Constituição e leis e as interpretam, ou as reinventam, com a tinta do fascismo. Um poço de preconceitos, qual a isenção da desembargadora fascista, por exemplo, para julgar casos envolvendo negros, pobres e favelados? Zero, com certeza.
A cultura do todo poder ao guarda da esquina se espalha, como se viu na absurda condução a distrito policial de um dono de bar tradicional em Copacabana em que se realizava uma homenagem póstuma a Marielle Franco. Um membro da Polícia Rodoviária Federal, fora do horário de serviço, resolveu brincar de “otoridade” e cometeu o abuso.
Da caçada implacável ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o imbecil de Copacabana, repetem-se pelo País casos de abusos e perseguições. Militantes sociais são executados todas as semanas no Brasil escondido, fora dos grandes centros, diante do silêncio ou da inapetência vergonhosa da Justiça.
Enquanto isso, promotores, juízes e desembargadores exibem em redes sociais toda ignorância esclarecida no País que nega teto a milhões de pobres mas garante auxílio-moradia a essa casta de altos salários que não se envergonha desse privilégio. Ao contrário, luta abertamente pela continuação da imoralidade.
Não se sabe como vai seguir o processo eleitoral de outubro, mas mais uma prioridade está colocada para qualquer um que dispute por uma agremiação de esquerda.
É preciso, assim como no caso dos meios de comunicação oligopolizados, estabelecer mudanças no judiciário. Se é verdade que seus membros acessam a carreira por concurso, é bom não se esquecer que a disputa por vagas não se dá em condições iguais.
Dificilmente alguém oriundo da classe popular tem formação igual a quem estudou em escola particular e, muito menos, tempo para se preparar para a disputa. Não é por acaso que a grande maioria da nata do judiciário vem da classe média para cima. Há um corte de classe ali, claro e evidente.
É preciso também dar um basta no nepotismo para evitar, por exemplo, o escandaloso caso da escolha da filha do ministro Fux, do STF, para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aos 32 anos. Fux assumiu o lobby pela nomeação estapafúrdia, que atropelou todos os ritos e o bom senso. Em muitos outros tribunais espalhados pelo País, a proliferação dos mesmos sobrenomes marcam o local há décadas. São como uma capitania hereditária.
Aqui ainda não estamos falando de escandalosos dribles à ética quando magistrados com interesse, mesmo que cruzado, não se declararam impedidos para atuar nos casos. Está aí o ministro Gilmar Mendes para dar o carimbo de veracidade à afirmação.
É preciso, na campanha eleitoral que se aproxima, denunciar à população que não existe justiça imparcial no Brasil. É necessário mostrar que a cúpula do judiciário hoje é uma extensão dos desejos das Organizações Globo.
Enfim, é hora de deixar os modos diplomáticos e dizer claramente que judiciário e justiça não cabem na mesma frase no Brasil avacalhado de hoje.