Tão longe, tão perto

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Por Claudio Lovato, jornalista e escritor – 

Ele tem 13 anos e está caminhando na praia. Pensa no time, só pensa no time, e pensa nele próprio com a camisa do time, imagina grandes lances com sua participação, o estádio lotado, e isso é tudo, ou quase tudo.

Agora ele tem 52 anos e pensa nas contas, pensa no emprego e em como está perto de perdê-lo,  pensa nos pais, velhos  e doentes, pensa em mudar de vida, mas sabe que isso não é possível, não nesse momento, não do jeito que ele queria, então volta a pensar nas contas.




Treze anos de novo, e ele não vê a hora de chegar o momento de partir para a escolinha do clube, sempre às quartas-feiras, o cheiro e os sons do vestiário, e o campo de pouca grama ao lado do estádio, e os braços levantados dos companheiros pedindo a bola, e a certeza de que está sendo observado, avaliado, e então ele parte com tudo para o ataque, zagueiro com a bola dominada, e isso é tudo, ou quase tudo.

Aos 52 anos, ele relembra coisas do tempo em que tinha 13 e só pensava em futebol, e em como tudo era simples, e em como precisava de pouco para estar bem, e agora pensa sobre o fato de que não importa o quanto faça (e ele faz muito), não importa o quanto se esforce (e ele se esforça muito), não, não importa, porque nada nunca é suficiente, nada nunca é o bastante.

Aos 13 anos, ele não imaginava como seria aos 52. Ninguém, aos 13 anos, imagina como será aos 52 – porque não consegue, porque não quer, porque não precisa.  Aos 13 anos, o mundo era o futebol e o resto. Até que algumas coisas começaram a acontecer (elas sempre começam a acontecer, mais cedo ou mais tarde), e então o menino passou a mover-se mais rapidamente em direção ao adulto, o menino de 13 anos e alma repleta correndo para os braços tensos e protetores do homem de 52.

Ele tem 52 anos e está caminhando na praia, a mesma praia em que caminhava quando era menino e só pensava em futebol. Alguém vem em sua direção, com uma bola debaixo do braço, pernas finas e pele descascada pelo excesso de sol, um menino de 13 anos. O homem para e percebe que não sabe o que fará, e então se dá conta de que, de tudo, essa é a melhor parte: o não saber o que fazer, o completo e absoluto não saber o que fazer, e isso é tudo, é maravilhosamente só isso, porque esta história, para todos os efeitos que realmente importam, encerra-se aqui.

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