Taxa de juros no Brasil distorce situação fiscal e espanta investimentos, diz Jeffrey Sachs

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Economista norte-americano defende que o Brasil persiga crescimento com base em investimento público e reduza taxas de juros, “responsavelmente”

Compartilhado de Redação RBA




Na foto: Economista norte-americano e ex-ministra brasileira participam de seminário organizado pelo BNDES

São Paulo – O economista Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia (Estados Unidos), defendeu nesta terça-feira (21) que o Brasil persiga um crescimento com base em investimento público, inclusive com fontes de capital estrangeiro, e reduza a taxa de juros. Segundo ele, é necessário “abaixar, responsavelmente, mas abaixar as taxas de juros domésticas, através de uma estrutura de políticas no médio prazo, ao longo de uma geração”.

De acordo com o economista, a taxa oficial é alta no Brasil não porque a inflação esteja alta, já que a inflação no país está em índices comparáveis aos dos Estados Unidos e Europa. A taxa Selic no Brasil de 13,75% ao ano está cerca de 140% acima de inflação, na casa de 5,6%.

“Mas nos EUA os juros pagam 2%; no Japão (cerca de) zero e na Europa em torno de 1%. No Brasil, a situação fiscal é distorcida por taxas de juros extraordinariamente altas”, disse. Sachs participou do seminário Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século 21, realizado pelo BNDES.

O economista considera que o problema fundamental do Brasil é um crescimento econômico “baixo, e crônico, com todas as consequências sociais e econômicas adversas que decorrem disso”. A  taxa de investimento brasileira, de aproximadamente 17% do PIB em termos nominais, é “muito baixa”, afirmou o economista. “No setor público não vemos quase nenhum investimento em infraestrutura nos últimos cinco anos”, acrescentou, citando os setores de transportes, meio ambiente, comunicação e energia.

“Capital humano”

Sachs disse ainda que o Brasil carece de investimentos públicos em “capital humano”, como educação e saúde, que “são extremamente baixos, 2,5% do PIB para educação e sistema de saúde”. “A qualidade da educação está muito atrás do que deveria estar na comparação com qualquer padrão. O Brasil está atrás de uns 80 países que são medidos.”

Por isso, de acordo com Jeffrey Sachs, “não é surpresa que o Brasil esteja empacado nos últimos dez anos, com crescimento muito baixo”. Ele apontou que, no início dos anos 80, países da Ásia que eram muito mais pobres do que o Brasil chegaram a um crescimento de 30 vezes, e o Brasil “ficou estagnado”.

O economista da Universidade de Columbia sugere que, para alcançar um crescimento sustentável, o país precisa aumentar investimentos em quatro áreas:

  • capital humano (como em educação e saúde;
  • infraestrutura física;
  • investimento em negócios, que seriam decorrentes de melhores investimentos em infraestrutura;
  • “capital natural”, que, segundo Sachs, tem sido profundamente degradado nos últimos dez anos, com a degradação da terra, o desmatamento e consequências climáticas.

Agro: modelo bancado pelo Estado

Por sua vez, Tereza Campello, diretora do BNDES e ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome de 2011 a 2016, criticou o “peso gigantesco” da agricultura e agropecuária na economia brasileira. Para ela, “o modelo que temos é predatório e insustentável”.

Segundo estudos, mais de 31 bilhões de toneladas de CO2 foram lançados na atmosfera pelo desmatamento na Amazônia Legal brasileira de 1985 a 2020. O volume representa quase 70% do total de emissões causadas pela perda de florestas em toda a Pan-Amazônia (Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, as Guianas, Suriname e Brasil).

Esse modelo brasileiro se revela enormemente equivocado ao se constatar que o país produz sucessivos recordes de produção de alimentos. Mas ao mesmo tempo “recordes de fome”, disse Campello. “O Estado brasileiro criou isso”, apontou, por meio, por exemplo, de investimentos em tecnologia da Embrapa e em infraestrutura, com subsídios do Estado.

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