Em 1968, aquele timinho “ruim” do Botafogo, com Gérson, Roberto Miranda e companhia, foi a Bagé, no Rio Grande do Sul, numa excursão. Na folga, saímos para jantar, mas na porta do restaurante do Bagé Country Clube havia um cartaz: “Proibida a entrada de negros”.
Hoje morre-se por fanatismo religioso, em disputas políticas, na ganância pelo dinheiro… nas arquibancadas. O futebol deveria ser uma ferramenta para unir os povos, semear a paz, mas até dentro das quatro linhas os trogloditas estão ganhando terreno, ganhando voz.
Lembrei da minha mãe, que só entrava no Fluminense pela porta dos fundos e outras tantas humilhações sofridas por nossa gente. Quantas noites difíceis de dormir, um inferno. O que me livrou das gastrites e úlceras da vida foi o fato de sempre colocar a boca no mundo, denunciar, não deixar passar em branco, extravasar. Sempre acreditei que o tempo mudaria a mentalidade dos homens, pura ilusão.
Anos e anos depois, no mesmo dia em que a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento gay em todo o país, Dunga, o capataz da seleção, deixou aflorar o seu verdadeiro lado e disse que “sentia-se como os afrodescendentes, que gostam de apanhar”.
Ei, Jefferson, você gosta de apanhar? E você, Miranda? Abram a boca, Elias, Fred, Fernandinho, William, Robinho!!!! Posicionem-se!!!! Opinem!!!! Não tenham medo das chibatadas do “professor”!!! Ou ele pode impor trabalho pesado nos treinamentos?
O valor do homem está na atitude. Abaixar a cabeça é aceitar, é acovardar-se diante dessa declaração estúpida. A mistura de cores é o que move o mundo. A palavra raça deveria ser abolida dos dicionários. E não me venham com essa baboseira de “somos todos macacos”, porque somos todos homens, com diferentes pontos de vista, sim, mas maduros o suficiente para respeitar os quadrados alheios.