“Acabamos de sair de uma pandemia, se é que saímos dela, que podia ter sido muito melhor gerida se tivéssemos um presidente da República sensível à dor alheia. Lamentavelmente, no momento em que o Brasil precisou de um presidente, ele virou as costas para a dor das famílias e negou a vacina no braço. Eu sei porque estava lá na CPI, estudei os documentos”.
Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência
Esta frase é da senadora Simone Tebet, candidata à Presidência da República pela Coligação Brasil pra Todos, encabeçada pelo MDB, cuja base eleitoral é o estado do Mato Grosso do Sul. Ela foi membro atuante na chamada CPI da Pandemia, que apurou os graves problemas cometidos pelo atual governante no combate à Covid-19.
No debate realizado na TV Bandeirantes, no último domingo, Tebet confirmou, após pergunta realizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o governo do genocida Bolsonaro havia tentado comprar vacinas da Índia, Covaxin, a preços superfaturados, onde havia um “ágio” de um dólar (cerca de R$ 5,10) em cada unidade adquirida, gerando milhões de reais em propinas. Seriam adquiridas cerca de 20 milhões de doses.
O perfil de Simone Tebet é bastante conservador. Ela foi eleita senadora no Mato Grosso do Sul e pertenceu à base de apoio do governo no Congresso Nacional. Naquele estado, nas eleições de 2018, Bolsonaro obteve 872.049 votos (65,22%) contra 465.025 votos (34,78%) de Fernando Haddad. O bom desempenho eleitoral do genocida naquela região sacramentou a indicação dela para presidir o Senado, defendendo os interesses governistas naquela Casa, quando não conseguiu votos suficientes para se eleger. Acabou presidindo a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), extremamente estratégica em qualquer parlamento.
Certamente as ações de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia e as constantes denúncias de omissão e corrupção durante a CPI da Covid levaram Simone Tebet a se distanciar do governo e também fazer oposição, mesmo que moderada, ao bolsonarismo. Isso lhe custou muitos problemas em seu estado, fortemente ligado ao agronegócio e apoiador do atual ocupante da cadeira presidencial.
Assim como Ciro Gomes praticamente impede a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turnos das eleições presidenciais, Tebet também é uma pedra no sapato do bolsonarismo. A tendência de crescimento da senadora nas pesquisas deverá ser exatamente sobre o eleitorado do atual mandatário. Bolsonaro tende a perder votos para ela exatamente em um dos redutos em que ele ainda resiste e que o possibilitam a chegar ao segundo turno.
Quem é Simone Tebet
Para dificultar o caminho de Bolsonaro, Simone Tebet deve ter se indignado com tudo o que presenciou no Congresso Nacional nas ações de Bolsonaro junto aos parlamentares. Ele foi fraco para enfrentar a Covid, mas um leão para cooptar parlamentares do Centrão, sobretudo com o chamado Orçamento Secreto. O atual presidente conseguiu botar contra si uma senadora que votou com o governo temas prejudiciais aos trabalhadores, como a Reforma da Previdência e a flexibilização dos direitos trabalhistas.
Ela é forte defensora do projeto de lei que garante indenização em dinheiro aos proprietários e totalmente contrária a demarcação de terras indígenas, Se colocou, por exemplo, contra as reivindicações dos Guarani-Kaiowá. Uma publicação do Cimi, de setembro de 2018, a traz como um dos 50 parlamentares, 10 senadores e 40 deputados, que mais atuaram contra os direitos indígenas no Parlamento.
O destaque da sua atuação contra os indígenas é o Projeto de Lei 494/15, apresentado ao Senado, que visa alterar a Lei nº 6.001/73, o Estatuto do Índio, com o objetivo de interromper qualquer ato de demarcação em “caso de turbação, esbulho ou ocupação motivada por conflitos” nos dois seguintes anos à sua desocupação. Ela apoia ainda a PEC 45/13, que altera o artigo 231 da Constituição Federal, para vedar a demarcação de terras indígenas em áreas tradicionais. Simone Tebet já defendeu o cumprimento imediato das reintegrações de posse de áreas que ainda não têm estudos antropológicos e a indenização em dinheiro (e não em títulos da dívida agrária) sobre benfeitorias e também sobre a terra nua, item nunca considerado pelo governo nos casos de desapropriações em terras indígenas.
Levantamento do Cimi aponta que a então candidata ao Senado recebeu em 2014, com base na lista do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um total de R$ 3.239.893,61 recebidos dos quais R$ 2.840.000,00 são originários dos grupos ligados ao agronegócio que ela defende. Segundo registrado na página de doadores do TSE, as maiores contribuições foram da JBS (R$ 1.720,000,00), Iaco Agrícola (R$ 700 mil), Rio Claro Agroindustrial (R$ 300 mil), Usina Eldorado (R$ 70 mil), Construtora J. Gabriel (R$ 70 mil) e Copersucar (R$ 50 mil).