Televisão brasileira criou caixa-preta de propina do futebol, diz Blatter

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Por , publicado em Jornal GGN – 

Foto: Divulgação
Sucessor do brasileiro João Havelange, permaneceu no comando da Fifa desde 1998, por oito mandatos, abdicando do posto em junho de 2015, na deflagração do escândalo do futebol, a quem ele mesmo denominou em seu livro como “o caso Blatter”.
“27 de maio de 2015 começou o que se tornaria ‘o caso Blatter’: buscas na sede da FIFA, prisões em um palácio em Zurique, suspeitas de fraude e corrupção. O mundo do futebol não é mais redondo. Como o principal acusado, o epicentro do mundo do futebol, Sepp Blatter, o homem que trouxe este esporte da era do artesanato para a era industrial”, introduz a orelha de sua publicação lançada na Europa.
“De suas competições amadoras na Copa do Mundo no Qatar, Blatter evoca sua extraordinária ascensão do pequeno Valaisan para se tornar o todo-poderoso presidente da Fifa. Ele traça seu itinerário guiado por uma missão: tornar o futebol universal, torná-lo um elo de paz”, continua.
Mas a saga “heróica” de Blatter é interrompida quando fala de “negócios e geopolítica, e revela o que significa ter o posto de chefe de Estado, o orgulho e a incredulidade de ter sido um rei sem fronteiras”. Como toda orelha de um livro, é a publicidade que antecede a leitura.
Foi Jamil Chade, correspondente do Estado de S.Paulo em Genebra, que trouxe a revelação em manchete nesta sexta-feira (08): “Em livro, Joseph Blatter aponta ‘caixa-preta’ da ISL e de Havelange”. O jornalista teve acesso ao livro, atualmente na edição em francês, chegando a alguns dados inéditos para o público sobre o esquema de corrupção que envolveu o futebol e a Fifa.
Entre as narrativas das 240 páginas da voz de Blatter contando como ele vê os fatos hoje deflagrados, menciona as artimanhas envolvendo o seu antecessor, João Havelange, e Ricardo Teixeira, como ex-presidente da CBF. E que “descobriu” que o dinheiro de uma emissora de televisão brasileira teria sido desviado para a criação de uma “caixa-preta” no futebol.
Apesar de não mencionar diretamente “TV Globo”, Blatter estava se referindo, seguindo Jamil Chade, à falência da empresa de marketing esportivo ISL, que vendia direitos de transmissão de jogos e é acusada de pagar propinas incluindo aos cartolas brasileiros. O ex-presidente da Fifa já afirmava, antes, que desconhecia o bastidor envolvendo a ISL presente dentro da própria entidade.
Ao descrever como o caso passou a ser investigado, ainda em 2001, pelo tribunal da Suíça, abrindo um processo contra a ISL e realizando buscas na Fifa, Blatter mostrou-se surpreendido com o envolvimento da corrupção no Brasil: “Eu então descubro que uma caixa-preta foi constituída com o dinheiro desviado da televisão brasileira”, diz.
A Rede Globo tem seu nome mantido em segredo de Justiça nos autos que investigaram o caso. Mas era uma das investigadas, por ter tido os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006, quando a ISL intermediava.
Na versão de Blatter dos fatos, enquanto Teixeira e Havelange sabiam e recebiam os pagamentos de propina da ISL, ele próprio não. Disse que se recusava a acreditar que Havelange também estava envolvido, pensando somente em Teixeira. Blatter narra que quando viu “passar uma transferência de US$ 1 milhão (R$ 3,7 milhões em valor atual) da ISL para Havelange”, ele “imediatamente” mandou “devolver ao contador, achando que tinha sido um erro”, e que começou a entender após a abertura do inquérito.
“A ISL começou a pagar propinas para manter os contratos da Fifa. Levou uma década de inquérito e processo para eu entender com detalhes o sistema que foi criado por Havelange e Teixeira, um sistema que eu totalmente estava fora. Os documentos do Tribunal de Zug indicaram que Havelange ficou com US$ 1 milhão. Quanto ao seu genro, Teixeira, ele leva US$ 12,4 milhões (R$ 45,8 milhões na cotação atual)”, segue, segundo Jamil Chade, do Estadão.
O primeiro capítulo do livro foi divulgado pela editora. Inicia-se com o dia e o horário da deflagração do chamado FIFA Gate, com o títutlo “Você me pegou!” [Disponibilizamos o primeiro capítulo abaixo].
“Em que a justiça americana está interessada? E por que a polícia suíça está prendendo seis pessoas nesta manhã em Zurique para extraditá-las para os Estados Unidos? Loretta Lynch suspeita de subornos em contratos de marketing e direitos televisivos, bem como na concessão de algumas Copas do Mundo. O Relatório Garcia lança dúvidas sobre as Copas do Mundo. Existem contratos de marketing e direitos televisivos, não para competições da FIFA, mas para competições nas Américas do Sul e do Norte”, introduz.
“Os contratos cobertos por esta investigação são os da CONMEBOL, Confederação Continental da América do Sul, e CONCACAF, a confederação de futebol da América do Norte, América Central e Caribe, que comemorou o 100º aniversário da a primeira grande competição da seleção nacional, a Copa América, disputada pela primeira vez em 1916”, continuou.
E logo nas primeiras páginas, Blatter expõe os interesses dos EUA sobre o caso:
“A ideia era organizar esse centésimo aniversário não na América do Sul, mas na América do Norte, convidando equipes para participar, especialmente duas equipes populares com o público, México e EUA. Com tais participações, os direitos de TV se tornaram interessantes. Uma empresa brasileira começou a organizar este torneio e redigiu os contratos de direitos de TV por sua filial em Miami, o que permite que a justiça americana se interesse. Os direitos de TV eram muito lucrativos por causa a realização de jogos nos Estados Unidos. Como previsto neste tipo de contrato, as taxas são pagas em três parcelas, a primeira na assinatura, a segunda durante o contrato, a terceira no final do evento.”
“A CONMEBOL e a CONCACAF decidiram redistribuir o dinheiro da primeira parcela aos presidentes das associações nacionais envolvidas nesta operação. Com exceção do presidente da federação peruana, que poderia comprovar que havia pago a soma recebida à sua equipe nacional, os demais presidentes mantiveram o dinheiro, ou seja, de 3 a 4 milhões de dólares entre todos”, é a terceira página do livro.

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