Temer aposta na queda da inflação para ganhar legitimidade

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Por Mauricio Puls, publicado na Revista Brasileiros – 

Para André Biancarelli, da Unicamp, governo tentará capitalizar estabilização dos preços; Fernando Sampaio, da LCA, espera uma redução dos juros no segundo semestre

O futuro presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn - Foto: Divulgação/ BM&FBovespa
O futuro presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn – Foto: Divulgação/ BM&FBovespa

Não existe nenhuma perspectiva de que a economia brasileira retome o crescimento econômico até a votação final do processo de impeachment no Senado, em meados do segundo semestre. Na avaliação do economista André Biancarelli, professor da Unicamp, o governo Michel Temer aposta suas fichas na queda da inflação para ganhar alguma legitimidade e se consolidar na Presidência.Segundo Biancarelli, o novo governo é altamente questionável, dada a maneira como chegou ao poder. Propõe um extenso programa de reformas que não passou pelo teste das urnas: “É uma agenda que não venceu a eleição de 2014. Mais precisamente, ela perdeu quatro eleições consecutivas à Presidência”.




Como explica o economista, “a agenda do governo Temer é marcada por um extremo conservadorismo. É uma agenda de desmonte do Estado de Bem-Estar Social, uma agenda anterior à Constituição de 1988″. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, foi muito claro a esse respeito: é preciso transferir os serviços públicos à iniciativa privada. A agenda do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, é ainda mais radical: ela remonta à República Velha, quando a questão social era considerada uma questão de polícia.

Na área econômica, o ministro Henrique Meirelles está apenas radicalizando o ajuste fiscal iniciado pelo ex-ministro Joaquim Levy, em 2015, que afundou o país na atual recessão: seu objetivo é reduzir o papel do Estado na economia, cortando gastos obrigatórios, privatizando estatais e redefinindo o papel do BNDES: em vez de estimular as empresas nacionais, ele voltaria a desempenhar a função que exerceu sob o governo Fernando Henrique Cardoso: financiar a venda de empresas públicas.

Biancarelli acredita que o governo Temer enfrentará enormes dificuldades para aprovar essa agenda impopular em um ano eleitoral, mas adverte: “Também era difícil aprovar o impeachment de Dilma, mas foi criado um clima para isso”. O problema é que será complicado convencer os eleitores a aceitar cortes tão violentos na saúde e educação.

Para ele, a retomada da confiança não virá da redução do desemprego, que pode chegar a 14%, na avaliação do governo. O PIB deve cair mais um pouco, mas deve se estabilizar no segundo semestre: “A base de comparação com o ano passado é muito ruim”.

Para o economista Fernando Sampaio, diretor de Macroeconomia da LCA Consultores, o cenário econômico também deve apresentar alguns sinais de melhora no segundo semestre. O Banco Central deve começar a reduzir os juros em agosto, o que  traria um alívio significativo para as famílias, pois permitiria uma repactuação dos dívidas. Essas repactuações já vêm ocorrendo, mas ganhariam um grande impulso se os juros caíssem.

Além disso, o BC também deve mobilizar outros instrumentos para ampliar a oferta de crédito, agora que a inflação está cedendo. A recessão do ano passado teve um forte impacto sobre os preços, mas esse efeito ainda estava sendo mascarado pelos efeitos decorrentes da alta do dólar e pelos aumentos da energia elétrica e dos combustíveis (gasolina, etanol, gás). Agora que esses preços se estabilizaram, a inflação caiu.

O dólar elevado beneficiou os setores exportadores e as indústrias que competem com similares importados, mas os segmentos voltados para o mercado continuam deprimidos. O ritmo de contração da atividade econômica, porém, já diminuiu.

Na opinião de Sampaio, o governo Temer deve concentrar esforços em cortar gastos. Recriar a CPMF é uma tarefa difícil, mas não impossível. Um imposto desse tipo teria muitas vantagens: ele facilita muito a fiscalização (o que contribui para aumentar a arrecadação) e, sobretudo, é um imposto cuja receita não diminui muito nas recessões. A CPMF seria a opção menos ruim, mas talvez não passe no Congresso Nacional.

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