Temer continua sem legitimidade e o PT ou muda ou morre

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

A imensa e inegável derrota da esquerda nas eleições municipais do último domingo como que tocou a ordem unida da direita triunfante: os resultados provariam que teria sido sepultada na urna a tese que Michel Temer chegara à Presidência da República através de um golpe. Menos de dois dias depois, uma pesquisa do Ibope mostra que a maioria dos brasileiros não tem nenhuma simpatia pelo golpista.




Temer tem hoje a mesma baixa aprovação que Dilma arrastava quando foi apeada do Palácio do Planalto. Mesmo com a cumplicidade e condescendência dos meios de comunicação, é um presidente em início de mandato que não pode aparecer em público e nem permite que seu nome seja anunciado diante de multidões. Tem medo do povo.

Lembrando que é universal a tradição que governos entrantes sejam recebidos com esperança e boa vontade pela população. O soturno da mesóclise criou essa nova jabuticaba: a caneta cheia desprezada pelo cidadão.

Está tudo bem, então? Não, a baixa popularidade de Temer não esconde a dura realidade que vive a esquerda brasileira. Pior, era o momento de confrontar o governo golpista se as forças progressistas não estivessem quase no chão. Existe um mundo de oportunidades e necessidades de se contrapor ao que está e ao vem por aí. Mas ninguém que não esteja delirando pode apostar que partidos e movimentos sociais tenham no final do triste 2016 energia para o combate.

A direita exultante exige “autocrítica” do PT. É acompanhada, no outro extremo, dos tradicionais grupelhos de sem-voto de olho no butim do PT. Dois campos oportunistas tentam dar o tiro de misericórdia no maior partido de massas da História da esquerda brasileira. Mas, assim como os que querem lustrar o golpe com resultados de eleições municipais, será um imenso, e aí sim talvez derradeiro, equívoco o PT fazer cara de paisagem ao que saiu da urna.

Existe um claro desencanto de setores pobres da população com o PT. Ok, talvez a maior parte desse desalento tenha sido causado por uma inédita, em termos de volume, aliança entre endinheirados, meios de comunicação e Judiciário para quebrar a legalidade e os avanços civilizatórios dos últimos anos. Mas é inegável também que o tempo passou e o partido de Lula tem agora que correr atrás do que foi perdido pelo caminho.

A discussão é complexa. Passa pela acomodação e troca da rua pelos gabinetes. Sim, isso aconteceu. Não é por acaso que a juventude está fora do PT, mesmo que muitas medidas dos anos Lula tenham assegurado um mínimo de cidadania a quem, por exemplo, antes jamais sonhara em entrar na Universidade. Os quadros dirigentes do PT perderam a capacidade de interlocução com quem não tinha nascido na década de 80. Esconder essa sangria de energia boa é apostar em morte precoce.

As relações de trabalho sofreram uma brutal mudança nas duas últimas décadas, mesmo que permaneça a premissa de classes. Onde estavam, com exceção de setores minoritários e geralmente mais velhos, os movimentos sindical e social na luta pela defesa do mandato de Dilma? A esquerda perdeu a rua, mesmo que momentaneamente, mas perdeu. Não é um fenômeno brasileiro. O vento mundial é pela direita. E nem é a primeira vez. A História não é linear e nunca foi fácil para a esquerda. Mas a realidade brasileira exige sim um autocritica da esquerda.

Lê-se muito nos últimos dias teóricos e papagaios de ultra esquerda e do “pós tudo” vaticinando uma nova hegemonia na esquerda. Pode até ocorrer, mas nem os números das municipais e nem a História avalizam a aposta. Não se tem notícia de nenhum partido de esquerda de massas criado sem base social. E não sairá da USP, PUC e zona sul carioca. A chance dessa outra jabuticaba nascer namora com o zero.

Quem tem base social ainda, bem menor do que já teve, é o PT. Mas se não correr rápido, renovar na direção e nas práticas, o que resta irá embora. Uma parte já foi e caiu no braço da direita golpista. A que ficou é estigmatizada pela sucessão de erros políticos e éticos que inegavelmente ocorreram, mesmo não enterrando os muitos avanços dos governos do PT.

A oposição empurra o PT para a esquerda e isso, paradoxalmente, pode ser sua salvação. As alianças com o atraso e a assimilação em muitos casos de seus métodos custaram caro. Podem ter o preço final se o discurso ficar apenas na vitimização. Mesmo após o golpe, alguns setores do PT parecem não entender como a banda toca. Serão atropelados pela História. Quem ficou deve ter a coragem de combatê-los. Ou muda ou morre. E aí não adianta culpar o golpismo.

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