Por Prof. Franciney Palheta – Universidade Federal do Pará –
Estamos distantes geograficamente do Epicentro da Pandemia da COVID-19, que começou na China no final de 2019, de forma que tínhamos tudo para agir com inteligência e nos antecipar para o pior. Aprender com outras nações sobre as medidas que poderiam ser feitas para evitar uma situação de colapso no sistema de saúde do Brasil, seria uma medida prudente para minimizar efeitos devastadores sobre esta nação (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51937888). Infelizmente, o colapso no sistema de saúde pode realmente ocorrer em nosso país nos próximos dias, mesmo nos melhores cenários previstos para a epidemia no Brasil.
Inevitavelmente os brasileiros seriam acometidos pela pandemia do covid-19, mas muitas medidas poderiam ter sido feitas para tornar os efeitos de disseminação mais lentos e assim ter um sistema de saúde que não ficasse sobrecarregado. Em uma epidemia, parte da população é infectada, alcança uma quantidade máxima de pessoas, e depois, à medida, que a população vai adquirindo imunidade e uma parte morre, o número de infectados se reduz. O colapso do sistema de saúde ocorre quando a evolução no número de infectados cresce muito rapidamente de modo que o número de doentes supera a capacidade de atendimento pelo sistema de saúde do país. Uma medida correta seria evitar aglomerações, impor o distanciamento social, restringir a movimentação de pessoas pelo país, controlar as fronteiras, os vôos internacionais e fazer testes em massa na população, entre outras ações que poderiam controlar a disseminação do vírus pelo território nacional. Essas medidas (Intervenções não farmacêuticas) produzem sobre a população uma contaminação mais lenta de forma que o sistema de saúde do país não fique sobrecarregado. Essas medidas são conhecidas pelos epidemiologistas como ‘achatamento da curva’ (https://www.washingtonpost.com/graphics/2020/world/corona-simulator/).
No Brasil, há 55,1 mil leitos e 65.411 respiradores disponíveis para a população (https://exame.abril.com.br/brasil/ampliar-leitos-de-uti-e-meta-do-ministerio/). No entanto, mesmo nos cenários mais otimistas isto é insuficiente para atender a população infectada. Há estimativas de que até 80% da população de um país será infectada pelo novo coronavírus e desses 20% podem precisar de UTI. Para o Brasil isto corresponderia a mais de 160 milhões de brasileiros infectados e em torno de 33 milhões de pacientes necessitando de UTI (https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/). Supondo que apenas 50% dos brasileiros sejam infectados, ainda serão 100 milhões de pessoas com a doença e em torno de 20 milhões em estado mais grave. As estimativas mostram que se algumas nações, com condições de infraestruturas melhores que as brasileiras, como Reino Unido e Estados Unidos, não façam movimentos certos para conter a epidemia, pode acontecer de se chegar a 500 mil mortes no Reino Unido e mais de 2 milhões de americanos no Estados Unidos (https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-NPI-modelling-16-03-2020.pdf). Algumas simulações feitas sobre os efeitos dessa pandemia no Brasil estimam que 478 mil brasileiros podem falecer em virtude da covid-19 (https://theintercept.com/2020/03/16/coronavirus-estudo-mortos-bolsonaro/), mas este cenário pode ser mais grave quando se olha a quantidade de pessoas acima de 60 anos e as condições peculiares que existem no Brasil, como condições sanitárias e de higiene inadequadas, a falta de água potável para parte da população ou habitações precárias além de moradias em favelas que podem piorar a epidemia pelo nosso país. Essas características brasileiras devem ser levadas em conta em qualquer cenário epidemiológico. Uma característica importante no Brasil é quanto a faixa da população mais vulnerável, acima de 60 anos. Só os octogenários correspondem a 2% da população brasileira, ou seja, mais de 4 milhões de pessoas que pertencem ao grupo de risco, com mortalidade em torno de 9,3% pelo SARS-CoV-2. Desse grupo de brasileiros se somente 10% deles precisarem de cuidados em UTI já haverá um colapso no sistema de saúde do Brasil. A faixa da população com mais de 60 anos de idade corresponde a 15% da população (mais de 30 milhões de brasileiros) e com uma taxa de mortalidade pela covid-19 em torno de 16%. Ou seja, cerca de 5 milhões de brasileiros podem se tornar vítimas fatais do novo coronavírus.
Diante desse quadro é urgente algumas medidas. Decretar quarentena em todo o país. É essencial medidas drásticas diante da gravidade dos fatos e de nossas condições que diferem em relação a outras nações. É necessário provir as pessoas de condições mínimas para que os mais pobres possam se manter, o que pode ser obtido com algumas medidas, como: suspender pagamento de luz, água, telefone e aluguel (https://www.metropoles.com/mundo/coronavirus-macron-anuncia-quarentena-de-15-dias-na-franca). Além disso, criar imediatamente uma Renda Básica Universal de um salário mínimo (https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2018/08/renda-basica-universal-custaria-menos-do-que-se-imagina-segundo-especialista.html). Assim, a população de um modo geral poderia ter condições de mínimas de se manter. Os recursos poderiam vim da suspensão do pagamento da dívida púbica (https://www.brasil247.com/brasil/suspensao-do-pagamento-da-divida-publica-pode-liberar-trilhoes-de-reais-para-combate-ao-coronavirus) e revogação da Emenda Constitucional 95 (a Lei do Teto de Gastos). Essas são ações mínimas e urgentes para garantir que os efeitos da epidemia sejam minimizados. Estamos diante de uma crise grave e com condições existentes no Brasil, tanto populacionais, como de infraestrutura que precisam de ações especiais.
Portanto, é tardio o movimento feito pelo governo brasileiro, que pela sua irresponsabilidade e insanidade, ignorou o que estava acontecendo no resto do planeta. Perdemos uma vantagem preciosa de nos antecipar e agir de forma ágil e precisa sobre a pandemia. Resta pouco tempo para implementar medidas necessárias, mas a lentidão do governo pode produzir um genocídio inimaginável.