Em depoimento, José Afonso Adriano Filho disse que até o presidente do Tribunal da Justiça Militar recebeu recursos das verbas desviadas do orçamento da polícia
Compartilhado de Brasil 247
Enquanto se ocupa de atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com uma postagem que o associa ao consumo de maconha, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, tem um problema grave para cuidar: há duas semanas, voltou à tona o rumoroso caso de corrupção na Polícia Militar de São Paulo, que ocorreu entre 2005 e 2012, e que pode ter causado prejuízo superior a R$ 200 milhões.
PUBLICIDADE
É que, durante depoimento à Justiça em 31 de agosto, o ex-tenente-coronel José Afonso Adriano Filho acusou o comandante da PM na época, coronel Alvaro Batista Camilo, e o próprio presidente do Tribunal de Justiça Militar, Eduardo Orlando Geraldi, de participarem do esquema e receberem parte do dinheiro desviado por meio de contratos fraudulentos.
Respondendo a uma pergunta de seu advogado, o ex-tenente-coronel disse que, quando era o responsável pelo Departamento de Suporte Administrativo do Comando-Geral da Polícia Militar de São Paulo, esteve diversas vezes no tribunal, mas não era para tratar de processos, já que, à época, não havia nenhuma acusação contra ele.
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
“Foi fazer o que lá (tribunal)?”, perguntou o advogado Oswaldo Duarte Filho. “Fui levar dinheiro para o coronel Eduardo Orlando Geraldi”, respondeu Adriano Filho, diretamente do presídio de Tremembé, onde cumpre pena por peculato. Além da condenação criminal, Adriano Filho teve a aposentadoria cassada e perdeu a patente de tenente-coronel.
O juiz Marcos Fernando Theodoro Pinheiro, que presidia o interrogatório, cortou imediatamente a fala do ex-tenente coronel Adriano.
“Essa questão, esse juízo é absolutamente incompente para tratar disso. Vamos nos limitar aos fatos da denúncia”, disse. E passou a palavra para outros advogados, que representavam outros denunciados.
O Ministério Público de São Paulo estava presente na audiência, mas, em vez de perguntar sobre a denúncia, o promotor Marcel Del Bianco Cestaro, fez indagações sobre os filhos do ex-tenente-coronel.
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Os filhos do coronel não faziam parte da denúncia, mas, nesse caso, o juiz Theodoro Pinheiro não interrompeu o promotor, o que fez parecer a intervenção do representante do MP um ato de intimidação.
Ao final da audiência, o juiz Theodoro Pinheiro disse que encaminharia a denúncia do ex-tenente-coronel a respeito do presidente Orlando Geraldi para a Corregedoria do Tribunal.
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Procurada, a assessoria do TJM informou que Adriano Filho já havia implicado o coronel Orlando Geraldi no passado, mas que o caso havia sido arquivado. A diferença é que agora o coronel foi além das palavras.
Um emissário dele fez chegar ao Brasil 247 cópia do comprovante de depósito de R$ 15 mil em cheque na conta do coronel-magistrado. Voltei a questionar a corregedoria sobre o cheque.
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
“A respeito de depósito na conta do juiz Orlando Eduardo Geraldi, é um documento antigo e foi objeto de investigação do Ministério Público no início do caso e já arquivado”, informou a assessoria. Por que o ex-tenente-coronel depositaria um cheque na conta do coronel?, questionei mais uma vez.
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
“Os oficiais se conhecem da Academia e da própria função. O fato do depósito, já foi esclarecido há anos no MP e comprovado que não houve relação com os crimes praticados pelo coronel José Adriano”, respondeu.
O ex-tenente-coronel Adriano diz que quer ter a oportunidade de depor mais uma vez e explicar por que esse dinheiro (e não só esse, o montante seria muito maior) está relacionado aos desvios na Polícia Militar de São Paulo. E, segundo diz, não foi só o presidente do Tribunal de Justiça Militar que recebeu recursos dele, fruto de desvio.
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
O comandante da Polícia Militar entre abril de 2009 a abril de 2012, coronel Álvaro Camilo, também se beneficiou dos recursos desviados.
O emissário do ex-tenente-coronel enviou também cheque da empresa dele depositado na conta da Clínica Atibaia, especializada em tratamento de dependentes químicos.
O cheque, no valor de R$ 12 mil, é de 17 de novembro de 2011, e tem uma anotação no verso de que se refere ao “assistido (…) Camilo” (imagem abaixo). O primeiro nome do filho do então comandante da PM foi emitido em razão de ser, à época, portador de uma doença.
O emissário do ex-tenente-coronel também enviou o recibo da clínica em nome do filho do coronel (imagem abaixo). Segundo o ex-tenente-coronel, muito mais recurso foi entregue ao coronel Camilo, direta ou indiretamente.
O coronel Camilo se elegeria depois vereador em São Paulo e deputado estadual. No governo de João Doria, foi secretário-executivo da Polícia Militar, cargo criado naquela gestão. Atualmente, Camilo é subprefeito da Sé, no governo de Ricardo Nunes.
Procurada, a assessoria de imprensa da Subprefeitura da Sé ainda não se manifestou. A defesa do coronel Adriano Filho, por sua vez, não quis dar entrevista e se manifestou por nota.
Diz que insistirá para que o ex-tenente-coronel seja ouvido e tenha a oportunidade de entregar todas as provas que possui.
Adriano Filho considera que foi usado como bode-expiatório para satisfazer a opinião pública em razão do escândalo e proteger as autoridades maiores, que se beneficiaram do esquema e continuam em postos de poder.