Tenista, filho de político, homenageado pelo PSDB: quem é o delator que implodiu o governo Temer

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Por Joaquim de Carvalho, em DCM

Cláudio Melo Filho, o homem que detonou os pilares do governo Temer, não é um simples lobista. É um personagem de dentro do sistema, neto de um ex-deputado e prefeito no Estado do Piauí, e que herdou do pai a função de defender os interesses da Odebrecht junto ao governo através de contatos qualificados no Congresso Nacional.

Em 2012, o então deputado tucano Bruno Araújo, hoje ministro, homenageou Melo Filho por "romper fronteiras"
Em 2012, o então deputado tucano Bruno Araújo, hoje ministro, homenageou Melo Filho por “romper fronteiras”

O deputado Paes Landim, com experiência de quase 30 anos na Câmara dos Deputados, fez uma homenagem a Cláudio Melo, o pai, quando ele faleceu, em fevereiro de 2012. Ainda não havia Lava Jato e Paes Landim, com o objetivo de engrandecer a biografia do amigo, disse que Cláudio Melo, o pai, foi contratado por Norberto Odebrecht para defender os interesses da empresa em Brasília.




Na capital da República, segundo Paes Landim, Cláudio Melo, o pai, em razão de “seu passado de tendência esquerdista”, se tornou amigo de Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Ulysses Guimarães e ajudou os três durante a Constituinte. Ele era remunerado pela Odebrecht, mas dava suas opiniões quanto às propostas para a Constituição.

Paes Landim é insuspeito para falar da tendência esquerdista do amigo, já que começou na política como militante da UDN e hoje está no PTB. Segundo Paes Landim disse no discurso de pesar pela morte de Cláudio Melo, o filho herdou do pai as funções na empresa.

Diz o deputado:

“Com o mesmo perfil, o de um rapaz trabalhador, já com formação de engenheiro, dinâmico, empreendedor, inovador, criativo e homem da absoluta confiança do Grupo Odebrecht, exatamente pela sua capacidade de trabalho dentro da linha traçada pelo velho Norberto Odebrecht, de trabalho e dedicação integral aos objetivos empresariais do grupo, que tanto honra a Bahia e o Brasil, até porque o Grupo Odebrecht se põe hoje em vastas partes do mundo.”

Cláudio começou a trabalhar na Odebrecht em 1989 como estagiário e subiu na empresa até assumir, em agosto de 2004, a vice-presidência de relações institucionais em Brasília. O pai estava doente e a decisão de chamar o filho para substituí-lo foi do então presidente da empresa, Emílio Odebrecht.

Na Odebrecht, as relações familiares têm um peso muito maior do que em outras empresas do mesmo tamanho. Uma vez em Brasília, Cláudio Melo herdou também os contatos políticos do pai, em um Congresso já sem Fernando Henrique, Covas e Ulysses.

“Em agosto de 2004, quando vim para Brasília, ainda não militava no meio político e não tinha contato com políticos, salvo aqueles que me conheciam por intermédio de meu pai. Nominalmente, dentre os políticos que eu já conhecia por intermédio de meu pai, cito: Geddel Vieira Lima, José Carlos Aleluia, João Almeida, Jutahy Magalhães e Heráclito Fortes”, diz ele no termo de sua delação.

A leitura das 82 páginas da deleção de Cláudio Melo Filho permite enxergar uma pessoa com a consciência de que, agindo em conluio com políticos experientes para defender a Odebrecht, prejudicava o Brasil.

“O propósito da empresa, assim, era manter uma relação frequente de concessões financeiras e pedidos de apoio com esses políticos, em típica situação de privatização indevida de agentes políticos em favor de interesses empresariais nem sempre republicanos”, afirma.

O primeiro passo dele em Brasília foi encontrar pessoas que fizessem a máquina funcionar mais rápido em favor da Odebrecht. Seu objetivo era liberar créditos, vencer concorrência, fazer novos negócios e modificar medidas provisórias e projetos de lei.

Encontrou na figura de Michel Temer o homem-chave na Câmara dos Deputados e, no Senado, estreitou os laços com Renan Calheiros. Na delação de Cláudio Nelo, tem-se uma imagem nítida de como o mundo se move na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios.

Para fazer Michel se mexer, ele recorria a Eliseu Padilha, Moreira Franco e, em menor grau, a Geddel Vieira Lima. Para colocar Renan Calheiros em ação, recorria ao Romero Jucá e, em menor grau, ao senador Eunício de Oliveira.

Todos do PMDB, todos governistas desde sempre, seja com Fernando Henrique ou Lula.

Cláudio Melo Filho conta que sabia que os pagamentos milionários da Odebrecht desembocavam em Michel Temer ou em Renan Calheiros. Parte era em doações oficiais, parte via caixa 2, mas fundamentalmente todos os pagamentos eram vinculados a contrapartida do governo ou de favores legislativos. Ou seja, era dinheiro de propina.

Tenista dedicado
Tenista dedicado

Com Geddel, além de encontrar um facilitador para os negócios da Odebrecht, descobriu um amigo. Eram vizinhos de condomínio no litoral baiano, andavam juntos pela praia e Geddel se sentiu à vontade para reclamar:

“Apesar dos pagamentos frequentes, Geddel sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele. Ele insistentemente alegava que nunca efetivamente demos a ele o que ele acreditava representar. Geddel sempre me dizia que se considerava um “amigo da empresa” e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente. Ele se comparava com outros políticos adversários do Estado, como Jacques Wagner e Paulo Souto, e reclamava por achar que estes recebiam pagamentos mais elevados do que ele”, diz Cláudio Melo na delação.

O problema é que ele via Geddel como um político de importância restrita a Bahia, mas com potencial de crescimento, pois já tinha dado provas de sem empenho, ao liberar recursos do Ministério da Integração Regional para a Odebrecht.

Cláudio Melo é muito diferente de Geddel. Os dois vêm de família de políticos, mas de perfis opostos. Geddel é o que se chama de “trator”, cobra comissões abertamente e não é conhecido pela discrição.

Já Cláudio Melo vem de uma família em que o pai foi líder estudantil e o tio, Luiz Navarro de Brito, irmão de sua mãe, era cientista político e viveu um tempo no exílio, durante a ditadura. Seu primo foi ministro da Controladoria Geral da União nos dois últimos meses do governo Dilma.

Melo também joga tênis e chegou a ocupar o primeiro lugar no Ranking Empresarial de Tênis Brasileiro. Como executivo e empresário, ajudava a manter uma obra social que usa o tênis como instrumento de resgate de crianças pobres e vítimas da violência no Rio Grande do Sul.

Ao contrário de Geddel, Temer e Renan nunca reclamaram, segundo Cláudio Melo Filho. Mas a Odebrecht nunca deixou de atendê-los, seja por intermédio de seus “prepostos” ou nas poucas vezes em que eles fizeram o pedido diretamente.

Tanto em uma situação como em outra, a Odebrecht também nunca deixou de receber a contrapartida da parte de Michel Temer e de Renan Calheiros: em última análise, dinheiro e favores públicos.

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