Tensão pré-eleitoral: bolsonarista politiza discussão no condomínio e agride ex-presidente da CUT

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O professor Paulo Valença não tem certeza do exato momento em que sua relação com o vizinho mudou. Pode ter sido durante a operação Lava-Jato ou ao longo do tortuoso processo de deposição da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas a antiga amizade, já abalada, acabou mesmo nas semanas que antecederam à eleição de Jair Messias Bolsonaro. No segundo semestre de 2018, Alberto Mendes Lemos, o vizinho de 66 anos, passou a tratar o ex-presidente estadual da CUT e ex-vice-prefeito de Olinda pelo PT, de “corrupto” e “petista ladrão”.

Por Inácio França, compartilhado de Marco Zero




Crédito: Acervo pessoal

Na manhã de terça-feira, dia 17 de maio, Valença estava desmaiado, sangrando com um corte profundo no alto da cabeça, enquanto o bolsonarista Alberto erguia uma lajota de cimento para arremessar no sindicalista desacordado. Só não conseguiu porque Mateus, um dedetizador que prestava serviços para o agressor o impediu. Das janelas do primeiro andar, um vizinho e uma vizinha viram quando Alberto desferiu pontapés nas costas de Paulo Valença, que tem 72 anos de idade.

A gota d’água que encerrou com violência uma amizade de quase três décadas foi essa agressão, ocorrida depois de um breve bate-boca motivado pela iniciativa de Alberto de encharcar com veneno para cupim o jardim do pequeno condomínio, com seis apartamentos divididos em dois prédios do tipo “caixão”, na praia de Maria Farinha, em Paulista. Valença conta que, ao ver o dedetizador pulverizar inseticida no terreno, se dirigiu a Alberto e pediu que parasse. “Eu disse que ele deveria ter combinado com os outros moradores, afinal naquela parte do jardim passam os canos que levam a água do poço para nossas torneiras”, explicou.

A resposta não poderia ter sido mais fora de contexto: “ele disse ‘saia daqui, seu petista corrupto, luladrão’. E agarrou o equipamento do dedetizador, como se fosse pulverizar veneno na minha direção. Eu segurei seu braço e o impedi, mas ele pegou a lajota e avançou na minha direção”. A partir daí, Valença não lembra do que aconteceu. Os vizinhos e o dedetizador lhe contaram que ele escorregou no chão molhado pela chuva e coberto por uma camada de lodo, bateu com a cabeça na grade do apartamento de Alberto e desmaiou imediatamente.

A cena da tentativa de atingi-lo com a lajota e os chutes nas costas, Valença também só soube porque escutou os relatos de Mateus e dos vizinhos que chamaram a ambulância do Samu. Na urgência do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado (Sassepe), ele foi medicado depois de passar por tomografia do crânio e radiografia da coluna cervical. De acordo com o advogado do sindicalista, Antônio Carlos Teixeira, todas as testemunhas se disponibilizaram a acompanhar Valença nesta quinta-feira, 19, para prestar os respectivos depoimentos na delegacia de Maria Farinha, onde a ocorrência foi registrada.

Um vizinho inconveniente

Inicialmente, Paulo e Alberto usavam seus respectivos apartamentos para veranear, com as duas famílias passando férias e feriados na praia. “A gente faz aniversário no mesmo dia, comemoramos juntos várias vezes. Nossos filhos são amigos uns dos outros. Somos dois velhos, não tínhamos nada que brigar”, lamenta o petista, explicando que era fácil de combinar os detalhes das festas, pois a grade da cozinha do seu apartamento fica diante da grade da cozinha de Alberto. Durante a pandemia, Valença foi morar de vez no condomínio com sua mãe, uma cadeirante que hoje está com 98 anos.

Valença explica que, nos período da prisão de Lula, em abril de 2018, até a eleição de Bolsonaro, Alberto foi se tornando mais agressivo, a ponto de comprar briga com um policial civil que almoçava em um self-service próximo por um motivo extravagante: segundo Valença, Alberto teria espancado com um pedaço de madeira uma cadela e um cachorro vira-lata que faziam sexo na rua. O policial tentou impedir e também teria sido agredido.

Depois disso, houve o primeiro embate direto entre os dois vizinhos. Foi em 2019, quando Valença chegava em casa com sua namorada. “Chegamos de madrugada, estávamos entrando pelo corredor do prédio, quando ele acendeu a luz e abriu a janela de repente, gritando ofensas para a minha namorada, acordando o condomínio todo. Um negócio absolutamente sem sentido”, recordou o sindicalista, explicando que chegou a prestar queixa contra Alberto, mas a primeira audiência nunca foi realizada por causa da pandemia.

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