Via José Sérgio Rocha, jornalista, no Facebook
João Victor Newland estava na praça, acompanhou a confusão e fez um relato do que viu, até onde viu.
“Resolvei me aventurar no evento pro Bolsonaro na São Salvador, e foi isso que vi em uns 20 minutos por lá:
Soube que ia acontecer esse evento e resolvi ir checar com meus próprios olhos como essa galera se organiza e o que é falado nesse tipo de evento, quais propostas são postas para discussão e por aí vai. Mas o que eu vi foi pior do que eu esperava.
Primeiro que 90% das pessoas que estavam lá eram homens brancos. Segundo que, como era de se esperar, nenhuma proposta foi discutida. Só se pregava um ódio descabido à esquerda, que o PSOL “vai sair da Alerj e vai direto pra Bangu 1, 2 ou da puta que pariu”, que não se conversa com esquerdistas porque eles “pregam o fuzilamento do cidadão de bem” e todo esse discurso raso e sem fundamento que a gente já está cansado de ouvir. Nada sobre educação, segurança, saúde, o que essa galera diz ser prioridade.
Depois de muita merda falada, algumas pessoas dos prédios em volta da praça começaram um coro de #elenão, e pessoas na praça aderiram ao coro. Ai, amigo, foi quando a merda começou. Começaram um canto que dizia que “Haddad é maconheiro e Ciro cheirador”, e uma mulher, que estava com criança pequena, retrucou falando que o local estava cheio de criança e que era descabido falar essas coisas na frente delas.
Foi aí que um homem, branco, camisa verde e amarela, “cidadão de bem”, foi na direção dessa mulher, se sentiu no direito de botar o dedo na cara dela, e a ameaçar de morte. Assim, de morte, com o dedo na cara. A mulher não se intimidou e chamou a polícia, mas ai a confusão já tinha começado. E essa galera já tem um roteiro certo pra seguir.
Primeiro foram todos correndo em direção da situação, e começaram os xingamentos. Puta, comunista, feminazi e outros absurdos. Depois falaram que era mentira e que era estava querendo aparecer (essa hora eu tava puto da vida e já no meio da confusão).
Vieram cerca de uns 20 homens, todos querendo briga, e chegaram empurrando quem estava pela frente, todos alterados e prepotentes. Uns outros filmando a cena toda, querendo mostrar que a “esquerda é intolerante” (então se eu aparecer em algum vídeo já sabem que sou meliante).
Depois de muita ameaça, xingamento, deboches e tudo o repertório que eles têm, a confusão começou a dispersar e achei uma boa ir embora, porque não tinha mais fígado para estar naquele lugar. Quando estava de saída da praça, perto do corpo de bombeiros, escuto SEIS TIROS DISPARADOS e, quando olho para trás, pessoas correndo e algum lunático gritando algo no microfone que eu não consegui entender o que era. Avisei a policia e fui embora.
Então está aí, um relato do que vi e vivi. Um relato de um ato a favor de um candidato claramente fascista em que as pessoas sentem no direito de colocar o dedo na cara de alguém e ameaçar de morte, que se sentem no direito de sacar uma arma e dar seis tiros para cima no meio da praça às 20 horas da noite de uma quarta feira, cheia de crianças, se sentem no direito de partir para a agressão porque não conseguem aceitar pessoas pensando diferente deles.
Saí de lá com um sentimento pessimista, porque mesmo num cenário em que derrotamos o Coiso nas urnas, nós já perdemos como pessoas e como sociedade. Pensem bem no que vocês assinam embaixo na hora de votar.”