Uma crônica “meninomalista”, uma foto idem. Dignas de um domingo ao cair da tarde. Dois artistas batendo bola. Dois meninos
Bela tabela.
Bola com o autor do texto, Claudio Lovato: “A foto foi presente do Américo Vermelho. As palavras foram surgindo. E ficou assim. Bom domingo pros amigos.”
Recebeu o passe e tocou de primeira, Américo Vermelho: “Deu vida à foto….deixou de ser estática e ganhou movimento….Esse é o Claudião!”
DOIS MENINOS
Um está no gol… O outro chuta…O que está no gol fala alguma coisa…O outro ri alto
As traves e o travessão formam sombras alongadas na areia….Demarcando o território do qual os dois são donos absolutos
É domingo, e os carros deslizam no asfalto da avenida, se amontoam, se provocam
No calçadão, as pessoas vêm e vão, desviam umas da outras
Um casal pede dois cocos no quiosque
Os meninos invertem as posições… O que estava no gol vai chutar… O que estava chutando vai pro gol (de má vontade)
Em volta deles: A cidade é claridade, palavrório e buzina
E o mundo segue em sua cacofonia de beleza e loucura
Esperança e tragédia… Vida e morte
Um chute… E outro… E outro
O menino que está no gol diz alguma coisa…. O outro cai na gargalhada, e responde
Então os dois riem… E riem… E riem
E parece que não vão mais parar de rir… Nunca mais… Parece que vão rir para sempre
Até que decidem que é hora de ir embora
Um deles pega a bicicleta… O outro põe a bola debaixo do braço
Vão para casa… Para seus pratos feitos com arroz, feijão, bife e ovo… Cobertos com um pano sobre o fogão
Os dois se vão de bicicleta pela ciclovia… Gritando… Rindo… Rindo alto… Rindo sem parar
Dois meninos… Dois irmãos.