Todo poder ao guardinha

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Facebook

Terça-feira à noite, São Paulo. A mais completa síntese do Brasil avacalhado dos últimos anos foi escrita diante de uma platéia exultante. Nenhum jornalista, analista ou cientista político poderia em breve discurso retratar a esculhambação do país. Sim, a grande mídia optou, com raras exceções, por ignorar a insanidade antidemocrática do discurso do juiz Sérgio Moro na cerimônia em que recebeu o título de Homem do Ano de 2017 concedido por notória publicação.





Moro revelou ali formalmente o conceito vulgar que tem de Democracia e seus entes, incluindo-se aí o Poder Judiciário do qual faz parte. Com a sem-cerimônia típica de palpites em churrasco com amigos, pediu a Temer que “influenciasse” o já folclórico e desmoralizado STF na discussão sobre a prisão de condenado em segunda instância.

Aquela coisa de “independência de Poderes”, sagrada entre os defensores da dita democracia burguesa, sabe? Frescura, considerou na prática o deixa que eu chuto curitibano, reverberando, é verdade, o tsunami medieval que assola parte do Brasil.

O que está por trás do pensamento simplório e, acima de tudo, antidemocrático de Moro? O mesmo que é marca da maioria do Judiciário do país, em qualquer instância. Os ritos e procedimentos que antes atendiam por garantias jurídicas, tornaram-se dispensáveis em nome de uma moralização que ele mesmo sabe anedótica.

Se um juiz sugere mão peluda presidencial no STF, de resto dispensável para quem tem o posto Ipiranga Gilmar Mendes ali, o que ocorre na Vara de Curitiba? E no Interior do País? Pelo lado otimista, diríamos que terça-feira o Brasil recebeu um atestado, se ainda fosse necessário, da farsa que é nosso Judiciário.

O saber justiceiro e quem sabe divino comporta também vassalagem e esperteza. Sobrou para Meirelles, citado pelo Homem do Ano. “Trabalho magnífico na Economia”, elogiou. Na sequência, um pedido de exceção na política que nega emprego aos pobres, precariza os que sobram e corta gastos sociais por 20 anos. “São necessários alguns investimentos para o refortalecimento da Polícia Federal…”

Repetiu o agir do novo chefe da PF, que tenta evitar que o desmonte na Previdência inclua sua turma. Aquela coisa do no dos outros pode, No meu, não.

Em resumo, o deprimente da noite paulistana de terça-feira foi o desnudamento em palavras do que já estamos vivendo tem algum tempo. O guardinha da esquina perdeu a modéstia, ganhou poder e toga e está se achando. Tempos impossíveis!

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