Servidor que vivenciou ataque dentro do Palácio reconhece homens do GSI que aparecem nas imagens “vazadas” para CNN. “Tudo gente do Heleno, do Bolsonaro”, explicou
Por Henrique Rodrigues, compartilhado da Revista Fórum
Na foto: Agentes do GSI ajudam terroristas na invasão do Palácio do Planalto.Créditos: Palácio do Planalto/Reprodução
As imagens “vazadas” para a CNN Brasil na manhã desta quarta-feira (19) que mostram agentes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) aparentemente coniventes com os terroristas bolsonaristas que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto nos atos criminosos de 8 de janeiro fazem muito barulho nas redes sociais e estão sendo usadas como munição pela oposição ao governo Lula (PT) no Congresso Nacional, sobretudo porque mostram também a presença do ministro-chefe do GSI do atual governo, o general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, o ‘G. Dias’.
No entanto, o “vazamento” das imagens no mesmo dia da convocação de G. Dias para dar esclarecimentos no Congresso e poucas horas depois do acirramento dos ânimos pela abertura de uma CPI mista no parlamento, cuja insistência de vem de bolsonaristas, que querem inverter a lógica do que ocorreu na passagem de governo há alguns meses, uma vez que é notória a execução dos ataques por parte da extrema direita e por incentivo de suas lideranças, deixou uma impressão de manipulação em boa parte da sociedade, o que foi repercutido nas redes sociais.
As imagens, em si, falam muito pouco, já que é de conhecimento geral que o GSI naquela primeira semana de 2023 mantinha-se como um órgão público totalmente composto por militares alinhados ao antigo governo de Jair Bolsonaro (PL), que tinha acabado oito dias antes da invasão. E foi exatamente em decorrência disso que a Fórum foi ouvir o servidor da Polícia Federal então lotado na Presidência da República naqueles dias, que em primeira mão acusou o general Heleno e os agentes do GSI de estarem por trás dos ataques à democracia brasileira.
O PF explicou que todos os homens do GSI que aparecem nas imagens levadas ao ar pela CNN são do antigo governo, já que não havia ainda nenhuma mudança na instituição até aquele momento, explicando também que G. Dias, na verdade, estaria ‘atordoado’ com o que ocorria e não tinha a quem recorrer, já que “seus homens” estavam, de fato, a serviço da tentativa de golpe de Estado. O servidor da PF estava lá no momento da invasão e viu tudo pessoalmente, inclusive reportando imagens exclusivas da invasão para a Fórum, que fazia uma transmissão extraordinária ao vivo naquele domingo.
“São todos agentes do GSI da gestão anterior, do Heleno. São os bolsonaristas e eu nem precisaria dizer isso porque já ficou comprovado em tudo que foi revelado até agora, sobre as mudanças no quadro do GSI, que só ocorreram após os ataques do 8 de janeiro. Esse camarada de calça e camisa branca, que aparece ajudando o golpista invasor, ele era da gestão anterior. O tenente-coronel que era o comandante do Batalhão da Guarda Presidencial também era o da época dos bolsonaristas, e tava lá no dia. Toda a cúpula do GSI, naquele momento, em 8 de janeiro, era da gestão anterior e isso é público, todo mundo sabe. O G. Dias, quando assumiu, não trocou ninguém praticamente, ele foi trocar depois do 8 de janeiro. Nisso que a gente chama de ‘transição’, não houve nenhuma mudança significativa no GSI. Esse pessoal que tava no Planalto, não tinha como fazer a troca assim, relâmpago, na mudança de governo no dia 1° (de janeiro), porque diferentemente dos civis, os militares têm uma sistemática de mudança, de remoção, de movimentação diferente, então eram eles que estavam aqui e isso é algo muito óbvio. Aquele pessoal era todinho do Heleno”, explicou o servidor.
Ele ainda voltou a tecer críticas ao modelo do GSI e disse que o órgão de inteligência e assessoramento do presidente da República, tal como foi concebido e, principalmente, como foi usado por Bolsonaro, só serviu para manter o golpismo aceso, mesmo depois da troca de governo.
“Se não extinguir agora o GSI, eu não sei mais o que precisa ser feito para que isso aconteça. O GSI, com toda a contaminação profunda, não cabe mais dentro da estrutura da Presidência. Aliás, ele nunca coube. Esses homens estavam lá dentro comprometidos com o que ocorreu, com os golpistas, com os invasores e era gente do Heleno e do Bolsonaro. Eles estavam nisso desde antes do dia 12 (de dezembro) e o que se pode dizer é que muitos deles, muitos mesmo, seguem ainda lá dentro, até agora. O que você vê ali é o G. Dias confuso, como falei antes, atordoado… Ele nem mesmo sabia o que fazer. Naturalmente ele tinha claro na cabeça que aqueles seus militares ali, em tese seus subordinados, eram pessoas comprometidas com o golpe, até porque ele tinha acabado de chegar e tava com aquele pessoal todo antigo, do Heleno. Ele não soube o que fazer, e isso me parece até natural… Faltou um comando aquele dia, mas a culpa não é dele. Como comandar pessoas comprometidas com um golpe?”, acrescentou o PF.
O agente de Segurança que foi testemunha ocular dos atos terroristas dentro da sede da chefia do Estado brasileiro ainda reforçou que a intenção da oposição é usar as tais imagens “vazadas” para alimentar a chance de uma CPI que tumultue o ambiente político, já que as investigações estão avançadas e todos sabem quem são os invasores e seus líderes. Ele afirma não ver novidades no que foi mostrado, dizendo mais uma vez que aquele contingente de servidores do GSI era de bolsonaristas.
“Nas imagens da CNN fica claro que os caras (terroristas) só invadiram o Palácio porque a guarda (presidencial) permitiu, literalmente ela ‘fugiu’… Essas imagens só mostram que a ‘desorganização’ partiu do próprio BGP e dos homens do GSI que estavam ali, tudo gente do Bolsonaro, do Heleno. O coitado do G. Dias só me parecia preocupado em defender a entrada do gabinete presidencial”, concluiu.