Tony Garcia revela que foi instruído por Moro a forjar prova contra José Dirceu em entrevista a Veja

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Em entrevista à TV 247, o delator relatou o que ouviu do repórter da revista. Confira a íntegra da revista concedida à Veja

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Tony Garcia (à esq.), capa de Veja e José Dirceu
Tony Garcia (à esq.), capa de Veja e José Dirceu (Foto: Reprodução)

247 – O empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia afirmou nesta sexta-feira (2), em entrevista exclusiva ao Boa Noite 247, que foi coagido pelo ex-juiz suspeito e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR) a forjar informações à revista Veja que pudessem comprometer o ex-ministro José Dirceu (PT). A entrevista foi concedida em 2006. Em 2012, Dirceu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito da Ação Penal 470, o chamado Mensalão, com voto da ministra Rosa Weber, que tinha Sérgio Moro como juiz auxiliar.PUBLICIDADE

Na TV 247, o jornalista Leonardo Attuch questionou: “nesta entrevista (à Veja), você dizia que o José Dirceu pagava o mensalão do PMDB. Você foi coagido pelo Moro, pelo Carlos Fernando a dizer aquilo?”. “Fiz”, respondeu Tony Garcia. O empresário contou o que ouviu do repórter de Veja. “Esse repórter me ligou e disse ‘sou da Veja e vim fazer uma entrevista com você a respeito do PT. Eu preciso estar com você. Você sabe quem me pediu para fazer essa entrevista. Vou poder fazer a entrevista de duas maneiras: ou com viés bom pra você ou contrário a você se você não quiser dar entrevista. Acho que isso (segunda opção) vai ficar ruim pra você'”.

Garcia destacou os esforços de Moro e aliados para prejudicar o Partido dos Trabalhadores. “O que eles botavam na minha boca… para buscar coisas contra o PT, para tirar o Lula da eleição. Fui instado a procurar coisas contra o PT através do Eduardo Cunha, que era meu amigo. Uma perseguição clara (contra o PT)”, disse. “Grande parte do estou falando, eu falei pra Gabriela Hardt. Eu denunciei, e nada acontece. Ela engavetou. O Brasil tem que passar isso a limpo. Eles (senadores) tinham de fazer uma CPI da Lava Jato”, acrescentou.

O delator já havia dito que, a mando de Moro, gravou de forma ilegal o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) em 2018. Garcia afirmou que Moro transformou “Curitiba na Guantánamo brasileira”. Disse que o senadorchantageou a rede Walmart.

Veja a íntegra da “entrevista” fabricada por Moro e pelos procuradores de Curitiba em que Tony Garcia também cita o advogado Roberto Bertholdo:

 – Como o senhor soube que Bertholdo pagava o mensalão do PMDB?

 – Ele me falava que tinha encontros semanais em São Paulo com pessoas que operavam essas coisas com o PMDB.

 – Com quem eram os encontros?

 – Com Delúbio Soares, Silvio Pereira e Marcelo Sereno. Ele me dizia que falava mais com o Silvio Pereira e o Delúbio.

 – O Marcos Valério não aparecia?

 – Bertholdo nunca falou dele. O Valério não era fonte dele. Ele dizia que a fonte dele era mesmo a direção do PT.

 – Onde eram os encontros?

 – Em escritórios ou hotéis. O Meliá era um deles. O escritório era o do Silvio Pereira. Ele tinha um escritório fora da sede do PT. Bertholdo tinha reuniões quase que religiosamente às segundas-feiras.

 – O que acontecia nos encontros?

 – Bertholdo dizia que tratava de indicações políticas do PMDB para o governo e também pegava recursos para fazer acertos dentro do PMDB. Ele dizia que apanhava o dinheiro, em espécie, em São Paulo, e depois o transportava a Brasília em jatos particulares ou alugados. Voava pessoalmente com dinheiro vivo. Muitas vezes estava acompanhado do assessor, Guilherme Wolf. O Bertholdo nunca andava com menos de R$ 50 mil, R$ 100 mil em dinheiro. Ele falava que era para fazer coisas eventuais, atender um ou outro.

 – O senhor sabe quantos deputados do PMDB recebiam dinheiro de Bertholdo?

 – Ele deixava claro que eram mais de 50 deputados do PMDB. Mas nunca falou em nomes e eu nunca perguntei porque não era do meu interesse. Os dirigentes maiores do partido, como Michel Temer, eu sei que não participavam, até porque estavam se afastando do governo. Ele só dizia que cada deputado tinha um preço. Havia uns que custavam R$ 10 mil, outros que custavam R$ 15 mil, outros R$ 20 mil, outros R$ 100 mil, outros R$ 200 mil. Que dependia do grau de importância do deputado e das matérias votadas.

 – Onde o dinheiro era entregue aos deputados?

 – Numa sala ao lado da liderança do PMDB na Câmara, quase sempre à noite. Ou então numa casa que ele alugou no Lago Sul e onde fazia festas para membros do PMDB, PT, ministros… Ele dizia que houve festa até com a presença do presidente da República.

 – Mas nunca citou os deputados do mensalão?

 – É fácil saber. Basta ver quem eram os deputados do PMDB que votavam com o governo. Quanto mais polêmicas eram as matérias em votação, e quanto mais o PT deixava de cumprir os compromissos acertados, mais as coisas se complicavam. Bertholdo me dizia que a única maneira de resolver era com dinheiro vivo.

 – Então era dinheiro em troca de voto favorável aos projetos de interesse do governo?

 – Não só projetos. Ele me disse que levantou R$ 8 milhões junto ao PT para fazer do José Borba líder do PMDB, por exemplo. E tempos depois, quando a turma do Anthony Garotinho destituiu o Borba, ele me disse que gastou outros R$ 6 milhões pagando a deputados do partido para o Borba voltar a ser líder. O caso do “Ratinho” também não é projeto. Bertholdo me contou uma vez que, junto com o Delúbio, estava negociando o apoio do Ratinho ao governo. Depois de um tempo, numa conversa por telefone, ele me disse o seguinte: “Lembra do negócio do Ratinho? Já deu certo. Está fechado. Teu amigo é f… Prestei o maior serviço ao presidente. Inclusive o Ratinho vai ajudar o PT em outras coisas no programa dele”.

 – Bertholdo chegou a dizer se pagou R$ 5 milhões ao Ratinho?

 – Nesse caso, ele nunca falou em pagamento. Só falou que tinha ido ao Ratinho, aproveitando a amizade que o Ratinho tem com o Borba, porque queria trabalhar isso para o PT.

 – O dinheiro que Bertholdo manipulava vinha todo dos contatos dele com a cúpula do PT em São Paulo?

 – Não, Bertholdo me falou várias vezes que também tinha dinheiro que vinha de Itaipu. O dinheiro para as campanhas no Paraná ele me falava que vinha de empreiteiros com contratos com Itaipu. Depois que ele assumiu o cargo de conselheiro de Itaipu, em 2003, várias vezes narrou para mim e para o seu então sócio, o Sérgio Costa, como ele tentava influenciar e cobrar dívidas antigas para credores de Itaipu.

 – Como era?

 – Ele dizia que o Samek era ligação forte dele. Mas que o Samek tentava fazer negócios sozinho ou com o Paulo Bernardo e que às vezes deixava ele fora da coisa. Mas que andava se enfronhando no esquema, estreitando relacionamento com o Samek. Tempos depois, o Samek passou a viajar com o Bertholdo nos jatos que ele locava para se deslocar de Foz do Iguaçu a Curitiba e Brasília.

 – O senhor viu os dois juntos?

 – Nunca, mas era isso o que Bertholdo propagava. Ele também tinha um relacionamento muito estreito com o José Dirceu. Eu mesmo ouvi duas conversas do Bertholdo com o José Dirceu. Uma delas ocorreu num aparelho de rádio Nextel. O relacionamento dele com José Dirceu era tão próximo que, uns 20 dias depois que o Waldomiro Diniz deixou o governo, o Bertholdo me disse que tinha sido convidado para assumir o lugar do Waldomiro Diniz… Eu ainda falei: “Vai sair um cara para entrar outro e ser queimado e jogado aos leões”. Uma semana depois, ele voltou de Brasília e disse: “Vou operar isso por fora. Tenho muito mais liberdade assim”. Ele efetivamente tinha um relacionamento estreito com a cúpula do PT e com a base do governo. Ele me disse que até operava contas do PT no exterior.

 – Onde?

 – Ele me disse que operava contas do PT, com doleiros, em Luxemburgo. Em 2003 e 2004, por exemplo, ele foi duas ou três vezes a Luxemburgo. O passaporte dele foi aprendido pela Polícia Federal. O registro deve estar lá. Ele me disse que um dos doleiros do PT era o Toninho Barcelona. Ele me falou isso numa conversa por telefone, no ano passado. Tenho certeza de que está gravado e está com a Polícia Federal.

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