Trabalho do MST: afeto e resistência!

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Por Joel Guimarães, jornalista, no Facebook

Nesses tempos sombrios em que vivemos o afeto também é uma forma de resistência. Significa que a luta política não pode perder a ternura. 




No entanto, esse afeto, fraterno e solidário, não é amplo geral e irrestrito. E que é impossível para aqueles que lutam por um Brasil igualitário ter qualquer tipo de sentimento pelos algozes do povo, que não seja o asco e o desprezo.
E a razão é simples: há séculos os donos e senhores da zona rural brasileira oprimem, escravizam , torturam e matam os trabalhadores rurais, que ousam lutar por um direito fundamental e universal: a terra é de quem nela trabalha.

Apenas para dar um exemplo: nos últimos 35 anos estima-se que 1800 trabalhadores rurais foram assassinados na zona rural brasileira.  Já, aqueles que lutam por um Brasil solidário e igualitário dão exemplos no cotidiano que é possível lutar sem perder a alegria de viver e o humor. O afeto conquista corações e mentes.

O trabalho do MST que ocupou e ocupa latifúndios improdutivos dando a acesso a terra a quem nela trabalha é um exemplo prático de solidariedade e afeto. E o afeto nunca impediu que os sem terras endurecessem, quando isso se fez necessário.

Como negar que as ações do MST em 35 anos de existência tem um importante componente de afeto? O afeto pelo ser humano, o afeto pelos marginalizados.

O último levantamento realizado pela coordenação nacional do MST mostra que 35 anos depois de sua fundação o movimento tem em sua estrutura 100 cooperativas, 96 agroindústrias, 1,9 mil associações de produtores e 350 mil famílias assentadas (ou 1.4 milhão de pessoas) -é o maior produtor de alimentos orgânicos do país e o maior produtor de arroz orgânico de toda América Latina.
Seus assentamentos “estão espalhados por todo os estados ,já bateram recorde em safra de milho criolo e em produção de leite.

E o resultado financeiro de toda essa conquista é dividido entre todos os assentados e acampados nessas terras ocupadas pelos militantes do movimento.

Não há aí um componente de afeto fraterno e igualitário nessa dura luta dos sem terra? Não será o afeto a mais perfeita tradução da palavra amor?

Na prática, os sem terras mostram que o afeto não tirou a disposição e a coragem de seus militantes para enfrentar a violência dos latifundiários- responsáveis pelo assassinato de centenas de trabalhadores rurais -. Violência que vem crescendo sensivelmente. Mesmo assim resistem mantendo e ampliando suas conquistas.

E é o poder transformador do afeto que move o MST quando aposta na educação como mola mestra para a construção do novo homem e, por consequência na formação da nova geração dos militantes do movimento carinhosamente chamados de sem terrinhas .É a semente do novo homem brotando e anunciando a manhã de um novo mundo: libertário e igualitário e afetuoso!

Como diz o repórter José Mashio, autor do livro TEMPOS DE CIGARRO SEM FILTRO, “afeto também é resistência e educar é um ato de afeto e, portanto, de amor.”

Vale lembrar que no início da sua luta os Sem Terra “reunidos sob a bandeira do MST tinham como prioridade a conquista da terra. Mas eles logo compreenderam que isso não era o bastante. Se a terra representava a possibilidade de trabalhar, produzir e viver dignamente, faltava-lhes um instrumento fundamental para a comunidade da luta.

Para o MST, ” a continuidade da luta exigia conhecimentos tanto para lidar com assuntos práticos, como para entender a conjuntura política econômica e social. Portanto, arma de duplo alcance para os Sem Terra, a educação tornou-se prioridade do Movimento”.

 

Foto: Luiz Fernando

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