A tragédia paulista da falta de governo

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São Paulo tornou-se um buraco negro institucional. Praticamente todos os vícios que os grupos de mídia apontam no governo federal vicejam em São Paulo com muito maior intensidade, devido à falta de vigilância tanto da mídia quanto dos demais poderes.

Por aqui consolidaram-se vícios de estados atrasados.




Por exemplo, no Ministério Público Estadual, o cargo de Procurador Geral do Estado é um trampolim para uma futura secretaria de governo. Apesar da existência de procuradores aguerridos, há uma evidente subordinação do PGE ao grupo político que controla o Estado.

No caso dos grupos de mídia, a ideia fixa em se apresentar como condutora da oposição bloqueou a fiscalização de todos os atos de governo.

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É por isso que se chegou à iminência do maior crime já cometido contra a população de São Paulo, que será o racionamento desorganizado de água que se prenuncia.

A falta de água, especialmente em regiões menos assistidas, exporá a população a epidemias, aumento da mortalidade infantil. Se se chegar a esse ponto e as estatísticas apontarem essa letalidade, Alckmin, Mauro Arce, a Secretária Dilma Penna, o presidente da Sabesp estarão expostos a processos criminais, sim.

Quando foi depor na CPI da Assembleia Legislativa, Dilma Penna mostrou o desconforto com a situação, deixou claro que a irresponsabilidade vinha do governo do Estado, não dela. No dia seguinte, notas em jornais davam-na como demissionária por ter “perdido o comando”, sabe-se lá sobre o quê.

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Incúria ocorreu nos últimos anos, com o descaso da Sabesp em relação a um problema anunciado desde 2004. Mas nos últimos dois anos, a crise estava posta e a falta de ação enquadra-se em crime muito mais grave.

Por conta do período eleitoral, o médico Alckmin não cuidou de planejar um rodízio preventivo, responsável. Pensasse um pouco maior, aproveitaria o momento para ser o verdadeiro líder, que não foge do problema e comanda a reação contra o adversário: a falta de água. Em vez disso, fugiu da questão e de suas responsabilidades por mero oportunismo eleitoral.

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Nos últimos anos, São Paulo viveu a maior enchente da sua história. A razão foi a imprevidência do então governador José Serra, cortando verbas destinadas ao desassoreamento do Tietê. Essa razão básica foi sonegada dos paulistanos pela mídia.

Em nome da luta política maior, todos os demais problemas paulistanos foram varridos para baixo do tapete, o desmonte das universidades estaduais, dos institutos de pesquisa – Agronômico, Butantã -, das instituições de planejamento – Fundação Seade, Cepam, Emplasa -, do Museu do Ipiranga, do Instituto Butantã, da Fundação Padre Anchieta, o aparelhamento da estrutura cultural.

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Além disso, o discurso viciado, preconceituoso e agressivo da mídia modelou o personagem médio mais execrável do cenário político brasileiro: o cidadão que tirou o preconceito do armário e invadiu as ruas armado da agressividade mais inaudita.

São Paulo não é isso.

Esse exército de zumbis floresce em uma sociedade organizada, com movimentos sociais de vulto, vida cultural dinâmica, uma parte da elite moderna, de ONGs que fazem trabalhos exemplares, algumas cabeças empresariais arejadas.

Esse circo de horrores foi modelado por uma mídia que perdeu qualquer noção de responsabilidade.

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