Por Boris Miranda, compartilhado de BBC News –
Barry Arm é uma estreita entrada do mar na costa sul do Alasca. Esta pequena área, porém, representa hoje uma ameaça com potenciais catastróficos.
Geólogos acreditam que as mudanças climáticas podem produzir ali um deslizamento de gelo e pedras capaz de provocar um tsunami na região.
Este seria apenas um dos “possíveis efeitos devastadores” das mudanças climáticas no Alasca e em outras regiões do Ártico, segundo a pesquisadora Anna Liljedahl — e eles poderiam aparecer já nos próximos anos.
A geóloga diz à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que a preocupação sobre o Barry Arm é muito grande porque ele poderia gerar um deslizamento muito maior do que todos os vistos no século 20.
“São fenômenos diferentes dos que conhecíamos antes. E o pior é que acreditamos que eles se tornarão cada vez mais frequentes”, diz a geóloga, do Centro de Pesquisa Woods Hole, no Alasca.
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Ela acrescenta que a energia de um deslizamento de terra como este poderia exceder a de um terremoto de magnitude 7.
“Esta é uma combinação muito perigosa e é apenas um dos exemplos dos perigos que temos no Alasca”, diz ele.
Frente a esses alertas, a Divisão de Estudos Geológicos e Geofísicos do Alasca expressou cautela e afirmou que monitora permanentemente possíveis movimentos de terra e deslizamentos na área.
O órgão diz ainda que produz modelos para prever o tamanho que um tsunami poderia ter — e como se espalharia.
A preocupação
O estreito de Barry Arm está localizado na Baía de Prince William Sound, no Golfo do Alasca.
É uma área com presença frequente de pescadores e que, antes da pandemia, também recebia turistas em navios de cruzeiro.
Um deslizamento de milhões de toneladas poderia acabar com essas atividades econômicas locais por tempo indeterminado, além de colocar centenas de vidas em risco.
Steve Masterman, diretor da Divisão de Estudos Geológicos e Geofísicos do Alasca, lembra que o maior tsunami da história aconteceu no Alasca, em 1958, produzindo uma onda de 520 metros.
Ele observa que as rochas liberadas naquela ocasião tinham apenas um décimo do tamanho de um deslizamento de terra hipotético em Barry Arm.
O paulatino degelo do permafrost, camada de solo congelado existente em regiões como Alasca, Nordeste do Canadá, Groenlândia (Dinamarca) ou Sibéria (Rússia), é apontado como um dos principais fatores de risco para tsunamis.
“O permafrost mantém a terra unida e, quando o gelo se transforma em água de repente, as condições mudam e o solo pode se mover”, explica Liljedahl.
A geóloga ressalta que fazer uma previsão é complexo, pois é difícil fazer um diagnóstico do comportamento e condições dessa camada congelada, apesar das inúmeras simulações computacionais já feitas por pesquisadores.
“Precisamos realmente saber um pouco mais para determinar o quão perigoso seria o deslizamento. É por isso que acreditamos ser necessário produzir conhecimento sobre essa ameaça”, diz ele.
Liljedahl, assim como Masterman e um grupo de cientistas, escreveram uma carta pública no meio do ano alertando sobre o risco deste deslizamento de terra e de um tsunami.
Outros perigos
O Alasca não é a única região em perigo, explica a geólogo do Centro de Pesquisas Woods Hole.
British Columbia, uma província no noroeste do Canadá, e a Noruega também enfrentam a possibilidade de deslizamentos de terra e tsunamis devido às mudanças climáticas.
“À medida que o aquecimento global continua derretendo geleiras e o permafrost, tsunamis produzidos por deslizamentos de terra se apresentam como uma grande ameaça”, explica ela.
No século passado, 10 dos 14 maiores tsunamis registrados ocorreram em áreas montanhosas glaciais — como na Baía de Lituya, Alasca, no tsunami de 1958.