Por Juliana Cardoso*, compartilhado de Viomundo –
Construção do monotrilho fez paulistano de cobaia. Empresa canadense Bombardier e governos tucanos proclamavam que seria o único monotrilho no mundo com alta capacidade de passageiros
Sem funcionar desde 29 de fevereiro por problemas no sistema de pneus (isso mesmo, pneus), a Linha 15-Prata do monotrilho continua a provocar dores de cabeças nos moradores da zona leste da cidade e que dependem desse meio de transporte para chegar ao trabalho ou à escola.
Centenas de passageiros que utilizam o monotrilho, inaugurado até o bairro de São Mateus há menos de três meses, são obrigados a enfrentar ônibus superlotados e o trânsito lento.
Os problemas com esse modal de transporte eram previsíveis.
Diversos especialistas em transporte público denunciaram lá atrás (em 2009) essa falsa promessa do então governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab.
Ambos repercutiram o que a Bombardier (multinacional canadense) garantia: o transporte seria de alta capacidade para absorver passageiros. E mais. Seria uma construção bastante rápida e bem barata.
Previsto para ser entregue da estação Oratório até São Mateus em 2012, o monotrilho demorou sete anos para ficar pronto. E foi inaugurado somente em dezembro do ano passado.
Com vários aditivos em seu contrato, foram gastos até o momento R$ 5,4 bilhões em algo que não funciona.
Por esse valor daria para terem sido construídos nove quilômetros de metrô convencional subterrâneo e que transporta até 60 mil passageiros/hora.
O problema com os pneus furados não foi caso isolado. Técnicos, inclusive canadenses, ainda não descobriram a causa ou pelo menos não é do conhecimento público. Com isso, o monotrilho continua parado.
Nesse curto período em que esteve em operação o monotrilho apresentou seguidas falhas. Até uma eventual colisão entre duas composições foi evitada por uma operadora.
A questão central é que o governo do Estado aceitou e vendeu a ideia, inclusive para técnicos do metrô, de que o monotrilho seria capaz de fazer alto carregamento de passageiros e com velocidade.
Projetado para transportar 35 mil passageiros/hora, o monotrilho estava recebendo 50 mil/hora.
Em 2015, nosso mandato organizou uma audiência pública sobre o assunto. Na ocasião, os especialistas convidados foram unânimes nas conclusões: monotrilho não é metrô. E que esse modal não suportaria a grande demanda dessa populosa região.
Hoje, começam a surgir o reconhecimento geral de que o mais viável teria sido expandir o metrô, esse sim autêntico transporte de massa. Mas o governo do Estado insistiu e o resultado hoje é lamentável.
Agora a Secretaria de Transportes Metropolitanos anunciou que pretende cobrar os prejuízos da paralisação e declarar até inidôneas as empresas (empreiteiras Queiroz Galvão e OAS, além da Bombardier) que construíram o monotrilho.
A sensação que fica dessa história é que a Bombardier fez do monotrilho um campo de testes e dos moradores cobaias. Afinal, proclamavam que seria o único monotrilho no mundo com alta capacidade.
*Juliana Cardoso é vereadora (PT), vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude e membro das Comissões de Saúde e de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo.