Por Ricardo Kotscho, publicado em Balaio do Kotscho –
Com a água, ou melhor, a falta d´água batendo no seu pescoço, e como não temos eleições neste ano, finalmente o eterno governador paulista Geraldo Alckmin resolveu agir: a partir desta quinta-feira (8), quem gastar mais do que a média do consumo nos últimos 12 meses vai ter que pagar multa pesada, que pode chegar a 100% sobre o valor da conta.
Quando ainda estava em campanha pela reeleição, e conseguiu esconder até onde pôde o perigo de colapso no abastecimento de água, com a ajuda da imprensa amiga, o tucano tinha feito exatamente o contrário: prometeu descontos para quem gastasse menos. Só que, agora, não tem mais jeito de fugir do problema. Mesmo com a utilização do segundo volume morto do reservatório, o Sistema Cantareira está com apenas 6,8% da sua capacidade, o índice mais baixo registrado desde o início da estiagem.
Nem as fortes chuvas deste verão foram capazes de melhorar a situação. Ao contrário, as águas continuaram baixando nas represas e Alckmin começa mais um governo do mesmo jeito que terminou o anterior, correndo atrás do prejuízo. Ainda não ouvi ninguém falar em estelionato eleitoral.
A crise da água, as estradas do litoral norte torturando os turistas, o desmatamento fora de controle, a violência crescente, nada é capaz de atingir a invulnerabilidade do governador teflon. Nada é com ele.
Além de sua figura raramente aparecer no noticiário sobre as variadas crises que assolam São Paulo, há uma outra explicação para este fenômeno. Para a maioria dos eleitores, tudo é culpa do governo, sim, mas quando se pergunta de qual deles está falando, a maioria responde errado.
Em outubro passado, no mês da eleição, quando o instituto Datafolha perguntou de quem era a responsabilidade pela crise no abastecimento de água em São Paulo, 53% dos entrevistados responderam que era do governo federal e da prefeitura. Ou seja, a culpa era do PT, de Dilma e Haddad.
Tive um bom exemplo desta ignorância generalizada sobre as atribuições das três instâncias de governo, quando abriram um enorme buraco no asfalto aqui ao lado de casa. Até escrevi um post sobre o assunto quando a obra começou. Foi no início da Copa do Mundo, lembro-me bem. Seis meses depois, a obra ainda não tinha terminado, pois era um buraco que andava, subindo a alameda Ministro Rocha Azevedo, em direção à avenida Paulista, e deixando o trânsito congestionado o dia todo.
“Olha aí a porcaria do PT… Todo dia é isso e o prefeito não faz nada…”, blasfemou o motorista de táxi com a veemência dos que têm certeza do que falam. Ainda pedi que ele olhasse na placa da Sabesp colocada no caminhão junto à obra, mas ele não queria nem saber. “E daí? Essa porcaria da Sabesp não é da prefeitura?”.
De nada adiantou lhe explicar que Sabesp é a sigla da empresa de saneamento básico de São Paulo, controlada pelo governo estadual. O homem estava enfurecido, e assim continuou a viagem, xingando o prefeito e o PT. O taxista só sintoniza a rádio Jovem Pan. Alckmin, como se sabe, foi reeleito com um pé nas costas.
O governo federal tem culpa, sim, mas por não tornar obrigatório em todos os currículos escolares o ensino de noções básicas de cidadania. Por exemplo, ensinar quais são as responsabilidades dos governos federal, estaduais e municipais, e quais as atribuições dos três Poderes da República (para quem não se lembra, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário).
Fica a sugestão para o Datafolha fazer uma outra pesquisa sobre este tema. Desconfio que a absoluta maioria da população não saberá as respostas corretas. E é assim que as pessoas votam, eleição após eleição. Depois, reclamam dos governos e dos políticos que acabaram de eleger.