Tudo o que você queria saber sobre Ortografia

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Por Paulo Magno da Costa Torres, compartilhado do Portal Cola Web – 

Ortografia (do grego orthós, correto, + graphê, escrita) é um conjunto de regras que instrui como escrever as palavras, empregar os sinais gráficos e pontuar corretamente um texto.

A ortografia é um produto cultural e uma convenção social, ou seja, é elaborada por pessoas especializadas na área, atendendo às necessidades da sociedade ou comunidade linguística em que é praticada.

Na língua portuguesa, a ortografia, como a concebemos hoje, provém de uma série de acordos ortográficos realizados entre os países lusófonos (aqueles em que se fala o português). Mais do que diferenciar se uma palavra é escrita com CH ou X, esses acordos sempre buscaram, muitas vezes sem sucesso, a unificação da língua portuguesa nos países de língua oficial lusitana.

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A eficácia da comunicação escrita muito se deve à ortografia. A padronização da grafia dos sons é o que permite, por exemplo, que, ao ler este texto, você seja capaz de compreendê-lo e interpretá-lo.

Entender o funcionamento da língua é imprescindível para qualquer bom leitor ser capaz de aprimorar suas competências interpretativas. Ao destacarmos a ortografia como um dos elementos responsáveis para a clareza de um texto e da comunicação, é necessário ter em vista que a padronização do sistema linguístico acontece de maneira seletiva, e que, mesmo nas questões de uso da língua, contexto social e individualidades deverão, sempre, ser fatores levados em consideração.

Regras gerais de ortografia

A escrita da língua portuguesa é normatizada por uma série de regras ortográficas gerais. Graças a essas regras, a língua escrita consegue reproduzir uma parte significativa da expressão oral.

Uso do Ç

REGRA EXEMPLOS
Em substantivos terminados em TENÇÃO (referentes a verbos derivados de -TER) atenção (ater), contenção (conter), manutenção (manter), retenção (reter)
Em substantivos derivados de vocábulos terminados em -TIVO ação (ativo), relação (relativo), aflição (aflitivo)
Em substantivos derivados de vocábulos terminados em -TOR redação (redator), atuação (ator), infração (infrator)
Em substantivos derivados de vocábulos terminados em -TO exceção (exceto), intenção (intento), relação (relato), eleição (eleito)
Em substantivos derivados de verbos dos quais se retira a desinência -R educação (educar), traição (trair), plantação (plantar)
No presente do subjuntivo e no imperativo de verbos terminados em -ECER aconteça (acontecer), amanheça (amanhecer), restabeleçam (restabelecer)
Em palavras de origem árabe e indígena açude, muçulmano, muriçoca, paçoca

Uso do E

REGRA EXEMPLOS
Em verbos terminados em -OAR e -UAR magoe (magoar), perdoe (perdoar), flutue (flutuar), atue (atuar)

Uso do I

REGRA EXEMPLOS
Em verbos terminados em -AIR, -OER e -UIR sai (sair), trai (trair), dói (doer), corrói (corroer), possui (possuir), diminui (diminuir)

Uso do G

REGRA EXEMPLOS
Em substantivos terminados em -AGEM, -IGEM, -UGEM garagem, linguagem, origem, vertigem, ferrugemExceções: pajem, lambujem
Em palavras terminadas em -ÁGIO, -ÉGIO, -ÍGIO, -ÓGIO, -ÚGIO contágio, colégio, prodígio, relógio, subterfúgio

Uso do J

REGRA EXEMPLOS
Em palavras de origem tupi, africana e árabe jiboia, jerimum, pajé (tupi); acarajé, jiló (africana); alforje, alfanje (árabe)
Em palavras derivadas de outras terminadas em -JA laranjal, laranjada (de laranja); cerejeira (de cereja)
Na conjugação dos verbos terminados em -JAR ou -JEAR Arranjei tempo para você. (verbo arranjar)
Para que eles viajem, precisam, primeiro, de férias, (verbo viajar)
Pássaros gorjeiam, (verbo gorjear)
Em palavras cognatas ou derivadas de outras que já contêm J nojo – nojento, nojeira, enojado
sujeito – sujeitar(-se), sujeição, subjetivo

Uso do S

REGRA EXEMPLOS
Nos sufixos -ÊS, -ESA, indicando nacionalidade, origem ou título calabresa, português, marquês, baronesa
Nos sufixos -ENSE, -OSO, -OSA (que formam adjetivos) catarinense, circense, palmeirense, amoroso, horroroso, tedioso, deliciosa, gasosa, cuidadosa
No sufixo -ISA (indicador de nomes próprios e de ocupação feminina) Luísa, poetisa, sacerdotisa
Após ditongo, quando houver som de /z/ lousa, ausente, coisa, náusea
Em palavras derivadas de verbos terminados em -NDER ou -NDIR compreensão, compreensivo (compreender); suspenso, suspensivo (suspender); expansão (expandir); confusão (confundir)
Em palavras derivadas de verbos terminados em -ERTER ou -ERTIR inversão (inverter); diversão (divertir)
Na conjugação dos verbos pôr (e seus derivados) e querer pus, compôs, repusermos, supusemos, quiserem, quisessem, quis
Em palavras derivadas de outras que já apresentam S analisar (análise); pesquisa (pesquisar); alisar (liso)

Uso do SS

REGRA EXEMPLOS
Em palavras derivadas de verbos terminados em -CEDER excesso, excessivo (exceder); intercessão (interceder); acesso (aceder)
Em palavras derivadas de verbos terminados em -PRIMIR impressão (imprimir); depressão, depressivo (deprimir)
Em palavras derivadas de verbos terminados em -GREDIR agressão, agressiva, agressor (agredir); progresso, progressista (progredir)
Em palavras derivadas de verbos terminados em -METER promessa (prometer); compromisso, compromissada (comprometer)
Em sufixos formadores do superlativo sintético de alguns adjetivos lindíssima, amicíssimo, altíssimo
Nas desinências do pretérito imperfeito do subjuntivo de todos os verbos estudasse, anotassem, lesse, vendêssemos, aplaudisse, repartissem

Uso do X

REGRA EXEMPLOS
Em palavras iniciadas por EN-, a não ser que derivem de vocábulos iniciados por CH- (encher – cheio) enxaqueca, enxame, enxerido, enxerto, enxugar, enxurrada
Em palavras iniciadas por ME- mexer, mexerica, xico
Exceção: mecha (substantivo)
Após ditongos abaixar, ameixa, paixão, frouxo
Exceções: recauchutar (e derivados); guache
Em palavras de origem indígena e africana e em palavras aportuguesadas do inglês xavante, xará, abacaxi (indígena); xingar, caxumba (africana); xerife, xerox (inglesa)

Uso do Z

REGRA EXEMPLOS
Nos sufixos -EZ, -EZA (formadores de substantivos abstratos a partir de adjetivos) surdez (surdo); invalidez (inválido); limpeza (limpo); nobreza (nobre)
Nos sufixos -IZAR (formador de verbos) e -IZAÇÃO (formador de substantivo) civilizar, civilização; autorizar, autorização; utilizar, utilização
Em palavras derivadas de outras que já apresentam Z razoável, razoabilidade, arrazoar (razão); azulejar, azulejado, azulejador (azulejo)

As dificuldades da ortografia do português

A ortografia portuguesa causa um desequilíbrio cognitivo que relativiza a ideia de equivalência entre sons e letras. Em alguns casos, um mesmo som é representado por letras diferentes: o som /z/, por exemplo, pode ser representado por três letras diferentes, como em vaso, exame e azul.

O contrário também acontece, ou seja, uma só letra representa mais de um som, como a letra X, em máximo (som de /s/), abacaxi (som de /ch/) e êxito (som de /z/).

Há ainda o caso de uma só letra representando dois sons (o X de táxi representa os sons /ks/) e duas letras para um só som (rr, ch, Iti, nh, qu, gu, ss, xc, sc, sç). Há até uma letra, o H, que não corresponde a nenhum som (homem).

A importância da ortografia

Em função dos problemas que envolvem a ortografia como convenção, mecanismo linguístico e fator discriminatório, muitos pesquisadores propõem uma convenção ortográfica essencialmente fonética, em que cada letra corresponda a um único som e vice-versa. O objetivo pretendido é fazer com que a ortografia seja um facilitador da comunicação. Todavia, outro empecilho, de mais difícil equação, surge: na hipótese de se estabelecer um projeto assim, as pronúncias das várias comunidades linguísticas fariam com que houvesse registros escritos diferentes, prejudicando a compreensão e afetando a comunicação.

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Sob esse prisma, verifica-se que a ortografia é essencial para a manutenção da língua: é ela que preserva sua unidade, já que é imune à variedade geográfica que permeia a oralidade. Um texto escrito pode ser entendido por qualquer falante de uma mesma língua, independentemente da comunidade linguística em que é falada. Esse é, aliás, o grande argumento dos defensores da proposta de unificação da ortografia dos países lusófonos.

Resolvendo dúvidas de ortografia

Quando uma dúvida quanto à ortografia de uma palavra aparece, a solução mais apropriada é consultar um bom dicionário ou gramática.

Porém há ocasiões em que isso não é possível. Nesses casos, pode-se recorrer a alguns recursos, entre eles:

  • substituir a palavra por um sinônimo que não cause dúvida quanto à grafia;
  • reformular a frase para evitar o emprego daquela determinada palavra;
  • procurar palavras de mesmo radical (quando possível). Por exemplo: aconselhar ou aconçelhar! Pensa-se em conselho; portanto, a grafia só pode ser aconselhar;
  • escrever a palavra nas versões possíveis a fim de contrastá-las. Por exemplo: análise – análize. Por meio da diferença, busca-se na memória a lembrança de como a palavra estava escrita quando vista anteriormente.

 

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