Compartilhado de Jornal GGN –
Os jornalistas Luis Nassif, Marcelo Auler e Cintia Alves participam da live de lançamento; na sequência, o vídeo sobre a trajetória de Sergio Moro estará disponível permanentemente a todo o público
Os jornalistas Luis Nassif, Marcelo Auler e Cintia Alves participam da live de lançamento na TVGGN (www.youtube.com/tvggn) às 20h00 e, na sequência, às 21h00, o vídeo sobre a trajetória de Sergio Moro estará disponível permanentemente a todo o público
“Quando a Lava Jato começa em 2014, lá em 2015 estava nítido que tinha uma disputa geopolítica em andamento”, diz Nassif na abertura do programa. “Começamos a levantar lá atrás, inclusive recebendo críticas da chamada ‘esquerda consentida’ da mídia, dizendo que era teoria conspiratória (…)”
“Hoje, com esses últimos vazamentos dos hackers e da Vaza-Jato, vai ficando nítido todo esse processo, os acordos com o Departamento de Justiça para se apropriar de parte das multas (…)”
“A nossa ideia, com esse documentário, foi inicialmente contar a história de um homem comum. Nós não acreditamos em heróis, você não tem o herói – e quando a mídia transforma alguém em herói, o herói em geral acredita que ele está manipulando a mídia e não o contrário”
“Quando começou a construção do Moro – e logo depois que ele virou ministro da Justiça -, se percebia uma extraordinária mediocridade do Moro. Então, o desafio era o seguinte: como um homem comum, medíocre (no sentido de médio) conseguiu estar no epicentro do maior terremoto político que abalou esse país desde 1964?”
“A questão era contar a história desse homem comum. Quem era Sergio Moro? E, a partir daí, fomos colecionando um conjunto grande de histórias (…) A única qualidade característica do juiz Sergio Moro era um absoluto desprezo pelos códigos, pelos regulamentos. A partir disso, levantamos todos os abusos dele e os capítulos, a construção coletiva que permitiu a ele junto com o TRF-4, com o STJ, com o STF, praticar o maior atentado à democracia que tivemos desde 1964 – incluindo aí o impeachment de Collor”, diz Nassif.
Marcelo Auler caiu na história da Lava-Jato em 2015, “quando um amigo que já faleceu pensava em fazer um livro sobre o Sergio Moro”
“Estive com o Sergio Moro em 2007, quando estava no jornal O Estado de S.Paulo”, diz Auler. “Fui à Curitiba cobrir um grande caso que ele fez, ligada ao Fernandinho Beira-Mar. Depois, ele (Moro) foi a Brasília, nos encontramos duas ou três vezes (…)”
“Eu me lembro que, em uma quinta-feira, eu estava vindo embora e o Nassif me ligou e disse ‘você vai cobrir a entrevista dos procuradores?’. E eu disse ‘não estava sabendo de entrevista nenhuma’ Me apresentei aos procuradores – quem era Marcelo Auler? Um mero jornalista de blog, ele não era de nenhuma grande imprensa, e eles não me avisavam, não me recebiam, a Polícia Federal não quis me receber”
“O Nassif me alertou sobre uma entrevista que ia ter em uma sexta-feira, acabei adiando minha viagem (…) Fiquei lá, e eles não me atenderam direito. Só que eu conhecia o Paulo Galvão por chat, trocávamos e-mails, me apresentei a ele”
“A partir das minhas informações, não tendo contato oficial, passei a ter contatos na Polícia Federal e com pessoas ligadas à Polícia Federal. E aí comecei a levantar as irregularidades que estavam acontecendo na Lava-Jato desde o início, a primeira delas na questão do grampo do Alberto Yousseff. E aí conheci a perseguição a aqueles policiais que estavam querendo denunciar as irregularidades da Lava-Jato (…)”
“Enquanto a Cintia trabalhou muito em cima dos documentos oficiais dos processos, eu trabalhei nos bastidores da Polícia Federal, e nos bastidores dos advogados e do Judiciário de Curitiba”, afirma Marcelo Auler.
Nassif lembra que o lawfare (série de processos judiciais) começou com os delegados federais em Curitiba, através de dois expedientes: “um, a questão das ações de difamação, e jogavam todos no Tribunal de Pequenas Causas, e outro com a questão das fotografias (…) E eles, em um momento, conseguiram censurar uma matéria”
“A Erika (delegada Erika Mialik Marena) é aquela delegada que levou ao suicídio o reitor da UFSC, e conseguiu censurar uma matéria do Marcelo por algum tempo”, diz Nassif. “Ela censurou duas entrevistas que fiz com o Eugênio Aragão. Ela me censurou as duas, porque nas duas se falava dos vazamentos que ela cometeu – e eu falava isso com base em um depoimento prestado por um delegado”, diz Auler. “Ela não acreditava que eu sabia desse depoimento”
Cintia Alves destaca alguns pontos nas ilegalidades cometidas. “A Lava-Jato, para o bem e para o mal, tinha essa estratégia de divulgar os processos, deixar aberto para quem quisesse acessar. Outra coisa que eles faziam era gravar os vídeos das audiências, entregar para alguns jornais (principalmente o Estadão) Enfim, eles espalhavam esse material de maneira ampla e a gente conseguia ter acesso e bater o que saía no jornal e o que estava escondido no meio dos autos”
“O que começou a me chamar a atenção foram as audiências do caso triplex, no caso do Lula – saía no jornal uma série de acusações a respeito de apartamento de luxo (…) Quando você entrava no canal do Estadão para assistir cada uma das audiências, você via o pessoal falando ‘ah, eu ouvi falar que o triplex era do Lula, ‘eu acho que era do Lula porque ele veio aqui visitar’”
“Por bem ou por mal, como eles divulgaram muito esse material, quem teve interesse de fuçar e mostrar o que estava acontecendo tinha material para trabalhar. Então foi mais ou menos isso o que a gente fez”, ressalta Cintia. “A gente leu praticamente todas as acusações do Lula, dos três processos aqui e do que ia para Brasília, e colocava ponto a ponto o que tinha de absurdo ali”
“Quando começou a sair as sentenças de Brasília inocentando o Lula, para a gente não foi nenhuma surpresa – ninguém aqui é advogado na redação (…) A gente lendo já percebia que era absurdo tudo o que se escrevia sobre Lula, sobre o caso em si. Quando você tinha o componente político (…) nas sentenças, estava nítido o viés antipetista do Moro. Mas a crueldade era muito mais ampla, era a destruição de quem tivesse pela frente”, diz Nassif.
“A única característica que o Moro tinha era a crueldade extrema. A falta de limites. Se fosse para destruir o adversário, tinha que destruir o adversário”, diz Nassif
“Quando ele (Moro) vai assessorar a Rosa Weber no caso do Mensalão, era mais do que conhecido o estilo dele e a falta de limites dele a ponto do Celso de Mello dizer o seguinte: ‘o magistrado surge travestido de verdadeiro investigador (…)”
“Em linhas gerais, esse foi um projeto que fizemos uma campanha de financiamento coletivo. A gente lançou em meados do ano passado, e quem ajudou a gente a financiar já recebeu o link antes”, diz Cintia. “É nossa retribuição ao apoio”
“A base desse documentário foi o livro que Nassif e Auler escreveram (…) A gente tem cerca de nove horas de entrevistas gravadas, fizemos tudo remotamente (…) A gente também tem o trabalho de pesquisa”, diz Cintia.