Com as ressalvas óbvias de que não tem nada ganho ainda, que teremos uma eleição dificílima pela frente, já que nos bateremos contra a bandidagem fascista, mas já cabe à esquerda e demais setores do campo progressista debater e contextualizar em que conjuntura se dará a provável vitória de Lula em outubro.
Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog
Tudo indica que Lula dará prioridade máxima à tarefa história de reconstruir o país sob os escombros do estrago causado por Bolsonaro. Isso não significa deixar de lado urgências como matar a fome do povo, gerar emprego e renda e permitir que as pessoas possam viver em paz.
No entanto, boa parte da energia vital do governo estará voltada para repor tudo que foi dizimado nas dimensões sociais, ambientais, culturais, econômicas, políticas e civilizatórias.
Primeiro, vale a especulação sobre a natureza do Congresso Nacional a ser eleito. Sou otimista em relação ao crescimento da bancada dos partidos com compromissos populares, já que nunca houve uma politização tão intensa acerca da importância crucial do parlamento, mas mantenho a expectativa realista de que não formaremos maioria nem na Câmara nem no Senado.
Daí a necessidade imperiosa de atrair para o apoio ao governo setores do centro e até da centro-direita não bolsonarista. E isso independe da vontade de Lula e dos partidos aliados. É uma imposição do presidencialismo de coalizão vigente no Brasil, cuja superação só é possível vislumbrar no âmbito de uma reforma política. Só que não há no horizonte de curto e médio prazos perspectivas de que essa reforma venha a acontecer.
E, é claro, o apoio congressual fora da seara da esquerda cobra um preço evidente, na forma de algum nível de flexibilização dos pontos mais transformadores do programa. É preciso também se levar em conta a capacidade de mobilização dos movimentos sociais e demais entidades da sociedade civil para “empurrar o governo para a esquerda”, já que seus rumos estarão sempre em disputa.
Nesta conta entra ainda uma variável relevante: se conquistar a vitória no primeiro turno, o capital político de Lula será maior para levar adiante mudanças estruturantes e de forte apelo popular.
Mas, tomando a realidade como a medida de todas as coisas, o futuro governo Lula, por exemplo, deve mexer nos pontos da reforma trabalhista do golpista Temer que retiraram direitos e conquistas da CLT, mas não ajuda fazer greve de três meses, como os professores universitários durante o governo Dilma.
Abre parênteses: causa estranheza que sob Temer e as trevas bolsonaristas não se tem notícia de nenhuma greve expressiva no setor público. Fecha parênteses.
A democracia é igual à saúde. A gente só valoriza para valer quando perde. Sem prejuízo de sua combatividade e defesa intransigente dos direitos do povo, a banda mais radicalizada da esquerda fará muito bem ao Brasil se entender o caráter de reconstrução nacional que certamente o governo Lula adotará.