Por Celso Sabadin, jornalista, no Facebook
“As pessoas querem que os trens funcionem; não querem musiquinha”. Palavras do apresentador César Tralli, agora há pouco, no telejornal SP-1. É assim que os portadores de deficiências cultural e de percepção se referem à arte: música é “musiquinha”, cinema é “filminho”, pintura é “deseinho”, literatura é “livrinho”. Para os ignorantes, arte é algo supérfluo, dispensável. Não falta quem diga que arte é coisa de viado.
Tralli estava se referindo ao cancelamento do programa Música no Metrô, que lamentavelmente terminou no dia de hoje com um dos raros momentos de relaxamento para a população que diariamente se espreme nos trens do sistema metroviário paulista, cada vez mais sucateado e mal administrado.
O Estado de São Paulo, desgovernado por João Dória Jr., informou que a continuidade do programa era “inviável”, pois o custo mensal de tamanho luxo para a população era de 39 mil reais por mês, ou seja, pouco mais de mil reais/dia, dinheiro que não paga nem as fraldas de enchimento que o desgovernador usa em seu traseiro para tentar minimizar seu complexo de bunda murcha. Em outras palavras: o usuário não merece este micro-conforto.
No telejornal, Tralli aplaude a medida. Primeiro começando sua frase com um mais do que prepotente “as pessoas querem…”, como se tivesse sido feita alguma pesquisa para verificar o que o usuário realmente acha do fim do programa Música no Metrô.
Contaminado pelo vírus global, que se arvora há décadas de ser o legítimo porta-voz da população, o infeliz apresentador dita normas dizendo, no entender dele, o que as pessoas querem ou deixam de querer. Pior: todo o tom da matéria é feito de forma excludente, ou seja, como se fosse necessário optar por (A) música no metrô ou (B) que os trens funcionem.
O recado subliminar vem forte: a população não pode querer eficiência e conforto ao mesmo tempo: tem que escolher apenas um dos itens… e nenhum deles será cumprido, claro.
A próxima notícia é sobre um macaco encontrado no Jardim Botânico com o vírus da febre amarela. De fato, coisa grave. Mas não tão grave quando um apresentador encontrado no Brooklin contaminado com os o vírus da prepotência e da ignorância. E com câmeras e microfones a seu dispor, para difundi-los por toda a população.