Um Brasil para nossos Pedros

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Por Jandira Feghali, para Brasil 247 – 

Pedro tem 13 anos e é negro. Filho de trabalhadora doméstica, tem quatro irmãos e mora numa favela. Estuda em escola pública, frequenta Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no primeiro sinal de febre procura a emergência pública. Joga bola no campo de areia, solta pipa perto de avenida movimentada e gosta de roupa da moda. O boné de aba reta, pago a muito custo, nunca sai da cabeça. Um jovem como tantos outros, mas um fator o distingue dos demais.




Pedro tem 3,7 vezes mais chance de ser assassinado do que qualquer amigo branco. Pedro vive num país que a cada três homicídios, dois são de negros, como ele. Levando-se em conta os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Pedro ou qualquer amigo negro está muito mais próximo da violência urbana ou da morte que qualquer outro cidadão branco. Violência que mata, fere e destrói famílias. Uma crueldade para com aqueles que são parte indivisível de nós, de nossa Cultura e de nossa História.

Etnia e classe econômica caminham juntas nas estatísticas desse Brasil ainda desigual, onde quem é “preto e pobre” morre ou tem dificuldades por ser “preto e pobre”. Das chacinas sociais nas periferias às truculências de uma polícia militarizada desde a Ditadura, o cidadão negro vive e enfrenta diariamente obstáculos de uma contradição histórica, intensificada pela exploração capitalista que atravessou os séculos e ainda persiste, inadmissivelmente, no século XXI. Segundo o DIEESE, salários de negros e negras são 36% menores e 60% da população desempregada há mais de 1 ano é negra.

O Brasil de hoje, felizmente, combate este cenário. Diferente da lamentável vista grossa com que governos anteriores aos de Lula e Dilma faziam à problemática da desigualdade social, a nação hoje encontra caminhos para valorizar, proteger, defender ou corrigir tais distorções. Estudar, ir à faculdade, ter o primeiro emprego e as condições básicas de cidadania são prioridades nas políticas destes governos.

No Parlamento também há formas de valorização, reconhecimento e fomento à cultura negra, como os projetos de lei dos mestres e mestras de tradição oral, de minha autoria, e do Cultura Viva, já sancionado, a aprovação das cotas em concurso público e nas universidades públicas. Essas políticas reinserem na sociedade a importância das tradições e manifestações culturais afro, alicerces de toda a nossa miscigenação cultural.

Há um longo caminho para se percorrer no combate às desigualdades e garantir aquilo que é direito da maioria de nossa população, que é negra. Se há chance de Pedro chegar à vida adulta sem ser parte das estatísticas de uma sociedade historicamente injusta, esta chance deve ser aproveitada agora. Por um Brasil de todos os brasileiros, sem preconceitos, violência ou discriminação social. Um Brasil para nossos Pedros. Afinal, o destino de ninguém deve ser selado pela aparência ou cor de pele. Que o Dia de Zumbi reforce e ative nosso combate contra o preconceito e a discriminação. Essa luta é de todos nós, brancos e negros.

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