Por Renato Pinto Flor, jornalista, publicado em Espalhafatos & Fotos –
Recentemente, estive na Terra do Fogo. Ushuaia, a cidade mais austral do continente, situada ao extremo sul da Ilha Grande da “Tierra del Fuego”, é cercada por Montanhas glaciais e fica a margem do Canal de Beagle, de onde partem as famosas expedições para a Antártida.
Era inicio do inverno, se é que por lá algum dia não é inverno. Não havia muita neve, mas as ruas estavam cobertas por gelo. O lugar é um charme, uma espécie de Campos do Jordão polar. A colonização de Ushuaia se deu com a construção de um grande presídio no final do século XIX.
Já em 1982, a região foi base do exército argentino durante a guerra das Malvinas. O clima nacionalista toma conta da cidade, ainda mais que cheguei em 9 de julho, data em que los hermanos comemoravam o bi-centenário da independência argentina.
Os moradores locais são em sua maioria funcionários do governo enviados para lá no período do conflito. Quem não é funcionário público provavelmente trabalha com turismo.
A Cidade do Fim do Mundo, como é chamada Ushuaia, é ainda uma espécie de Zona Franca. Seu porto tem grande atividade com acesso tanto pelo Pacífico quanto pelo Atlântico. O local sobrevive do turismo e da indústria de “montagem”, que nacionaliza produtos vindos do exterior. Talvez por isso tudo seja muito caro por lá.
Encontrei gente de diversos países que vão ao “Fim do Mundo” em busca de uma paisagem única que combine montanhas, mar, geleiras e florestas. Por conta disso, a região oferece uma infinidade de opções para liberar a adrenalina, pode-se descer uma montanha sobre um snowboard, esqui ou numa moto de neve.
Quem é mais tranquilo pode aproveitar a paisagem fazendo esqui de fundo, caminhadas com raquetes, cavalgadas, passeios puxados a trenós ou simplesmente sentir a brisa do alto de uma montanha.
Tem ainda o Canal de Beagle, de onde partem diversas embarcações com passeios pelo arquipélago. Dizem que no verão algumas ilhas ficam tomas por pingüins, que vão à região em busca de alimento.
Só consegui ver leões marinhos, que convivem pacificamente com uma infinidade de espécies de aves, que usam pequenas ilhas para descansar e, provavelmente, aproveitar um pouco do sol que brilha no inverno.
O sol nasce as 9h30 e se põe às 17h. Portanto, como dia é curto, então é preciso correr. O ritual era acordar cedo, ainda escuro e sair do hotel por volta de oito horas. Dalí, seguir para algum passeio: estação de esqui, navegação ou centro invernal. Quando estava muito cansado, procurava um museu ou algo mais “cultural” pela cidade.
A gastronomia local também é muito interessante. Diferente do resto da Argentina, as carnes não são primorosas no fim do mundo. Por lá se destacam a caça e os frutos do mar. A vedete nas mesas fueguinas é a Centolla, um caranguejo gigantão que se escolhe vivo no restaurante e, depois de preparado, come-se com as mãos. Outro prato bem comum é o cordeiro patagônico, que é servido de várias maneiras, mas a mais comum é a do assado em fogo de chão, ao mais puro estilo gaúcho. Com muito vinho, claro.
Estava ao sul da Patagônia e ainda tinha muito a explorar, resolvi então subir até El Calafate, a cidade dos Glaciares. A cerca de 1000 quilômetros de Ushuaia, Calafate é uma pequena cidade localizada na província de Santa Cruz, próximo à fronteira com o Chile, onde fica o Glaciar Perito Moreno, a maior geleira em extensão horizontal do mundo. Mas isso fica para o próximo post.
Vejam algumas fotos: