Um “habeas corpus” e o ódio incontido, criminoso

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Por Enio Esqueff, Ateliê Esqueff

Sem qualquer juízo de valor sobre o grande dramaturgo inglês – há algo de shakesperiano nos juízes promotores e desembargadores que querem Lula preso para todo o sempre: eles odeiam sem limites. Imagino-os a tomar diariamente, junto ao lauto café da manhã, o seu “Copo de Cólera”, (para pespegar Raduan Nassar). Eles representam, no Brasil, o rancor em estado puro.

Certa vez perguntei a um amigo que estivera numa cadeia comum, como eram, em geral, os presidiários. Respondeu-me o óbvio: que na grande maioria eram gente como todo o mundo. “Mas não há sangue ruim por lá?” insisti. Sua resposta: “O pior é que há: são poucos, mas há”.




Fala-se em Shakespeare e pensa-se logo em Iago, em Lady Macbeth, em Ricardo III. De fato, são personagens que de uma forma ou de outra, encarnam a crueldade sem peias. Execram o que consideram seus inimigos por motivos variados, mas não opõem limites nem um mínimo de temperança a seu rancor desenfreado. Não se fale como uma mera coincidência, a raiva que o juiz Sérgio Moro, ou seus comparsas, têm de Lula. O que os nutrem são seus preconceitos e uma imensa raiva. E como são juízes – e brasileiros – aos outros mortais do país, resta olhar. E se chocar.

É algo especioso discutir a pressa, e a determinação dos acusadores da Lava Jato de não concederem o “habeas corpus” ao ex-presidente. Quando juízes têm plena consciência de que condenaram um inocente – não lhes ocorre senão que suas sentenças sejam mantidas a qualquer preço. Move-se mundos e fundos para que a sua injustiça não se torne pública. “Chame o desembargador fulano de tal: –Mas ele está dormindo… –Não interessa, acorde-o imediatamente.”

Dá-se, digamos, que em meio à plena posse de seu corpo, ou seja, que corpo da vítima não esteja entre as quatro paredes de uma cela (este o sentido o “habeas corpus”), e o inocente comprove que não é culpado? O preconceito se abre ao desmascaramento e à desmoralização; e o seu corolário é a execração pública. Na verdade, é ela que começa a rondar a operação “Lava Jato”. Por isso Portugal pode não ser distante o suficiente para que um Sérgio Moro não se abale, em suas férias, para obstar a libertação do “seu” condenado.

Sejamos claros: o que move a turma da República de Curitiba não são apenas ódios subjetivos, os preconceitos dos juízes, os gestores da lei conforme a elite a que pertencem, mas o peso que lhes cobra parte da opinião pública, açulada pela mídia. Sabemos o que isso significa.

Um jornalista gaúcho contou de como a jeneusse doré brasileira, se comportou na Rússia, na Copa. Os filhinhos de papai – e o jornalista que relatou o que viu, não era de esquerda em absoluto – não se importavam em cantar músicas caipiras em restaurantes, com potentes aparelhos de som trazidos em suas mochilas, espantando a clientela; molestavam inescrupulosamente todas as mulheres que passassem pelas ruas e que lhes agradassem.

Alguém haverá de não desconfiar que são esses os que mais querem inculpar Lula? E que saem nas redes sociais a arrancar todos os palavrões e ameaças por qualquer absolvição, de um culpado por suas idéias, seja ou não por “habeas corpus?

O jornalista Ricardo Kotscho diz, com certa razão, que as manobras ilegais da Lava Jato vêm de fora. Se Obama e Trump mataram e matam, qual a diferença que existe entre manter seus supostos “inimigos” presos, com ou sem culpa? Concordo. Mas um amigo bastante confiável, me contou que ouviu de alguém chegado a Moro que, já há anos, ele nunca se dirigiu a Lula como tal, pelo nome. Mas pela alcunha inglesa de “Nine”– a versão, para ele, mais elegante dos “Nove Dedos”, como o xingam coxinhas.

Tudo bem, a Lava Jato serve a Trump, o homem que criou campos de concentração para crianças. Mas daí a ressalvar o ódio pessoal de Moro contra Lula, não deixa de ser ingenuidade. O homem odeia e põe a toga na frente; mesmo que a serviço dos EUA.

Obra: Os Magistrados (2014), óleo sobre tela e madeira,
117×157 cm (autor: Enio Esqueff)

Foto: Javam Ferreira Alves

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