Texto do jornalista Carlos Eduardo Alves sobre o preocupante momento de perdas de direitos dos trabalhadores e três curtos vídeos do sociólogo Boaventura de Sousa Santos a respeito do mesmo tema.
Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
As novas formas de exploração do trabalho trouxeram junto desafios já angustiantes para entidades, agremiações e militantes do campo popular. É evidente o prejuízo dos que labutam sem garantia trabalhista nenhuma e, também, tornou-se muito mais difícil do que antes organizar essa multidão em torno de sindicatos ou organizações que defendam seus interesses. Não há solução fácil para resolver a equação, mas não dá mais para fingir que essa situação não é preocupante.
É impressionante hoje o número dos trabalhadores que perderam o registro, a “carteira assinada” e seus consequentes direitos mínimos, e agora recorrem a outras ferramentas para tentar garantir a sobrevivência.
São por exemplo, motoboys, motoristas de aplicativos, camelôs, etc. Em algumas estatísticas, são englobados no selo “autônomos”. Alguns mais cínicos rotulam a turma como “empreendedores”.
Com a desregulamentação do trabalho, como organizar essas pessoas? Não existe ainda uma resposta certeira. Na verdade, não se sabe se um dia se conhecerá esse caminho das pedras. Antes mesmo da retirada de direitos promovida pelos desgovernos Temer e Bolsonaro, a revolução tecnológica já havia produzido um crescente desemprego principalmente na área industrial, reduzindo o “chão de fábrica”.
A esquerda, tradicionalmente forte na representação sindical do setor, inegavelmente teve seu poder de fogo de articulação diminuído com a nova situação.
É raro hoje o caso que era comum até duas décadas ou um pouco menos, o do jovem trabalhador que seguia a profissão do pai no setor industrial, muitas vezes na mesma empresa.
Atualmente, o adolescente filho do operário não encontrará vaga naquele local, se é que ele ainda existe, e tende a se sujeitar a uma ocupação precária ou vai se tornar um prestador de serviços em áreas ligadas, por exemplo, à tecnologia.
Não existe representação política ainda para esse novo e numeroso contingente de brasileiros. Não é um problema só de nosso país, é verdade, mas a situação específica do drama do desemprego e da política econômica excludente agravam aqui os efeitos da perversidade.
Iniciativas isoladas tentam dar um sentido coletivo às reivindicações dos precarizados, como no caso dos motoboys de São Paulo, mas a realidade é que ainda é muito pequeno o alcance entre aqueles que vivem daquela atividade.
Grave, porém, é que essa discussão, que se saiba, não está sendo travada publicamente pelas agremiações políticas do campo popular.
A tática do avestruz só adia a procura de caminhos e aumenta a despolitização de uma multidão de jovens trabalhadores, já bombardeados pela propaganda enganosa da “meritocracia”, um eufemismo para o velho e trágico, para quem busca saídas coletivas, do “cada um por si”, às vezes acompanhadas do apelativo e atrasado “e Deus por todos”.
O jovem hoje, principalmente se é das periferias ou da classe média baixa, é incentivado ao ideal consumista. irreal para sua condição social. O que lhe é oferecido é o sonho inalcançável. Diferente de seus pais, mal conhece o que significa um sindicato e descrê, em sua maioria, da Política como ferramenta para enfrentar seus problemas.
Como diria um velho revolucionário, o que fazer? Talvez um bom começo seja que os mais velhos compreendam que não é justo carimbá-los como alienados, dado que a eles não é oferecido o mesmo mundo em que as oportunidades profissionais pareciam óbvias e seguras.
Entender o que aspiram os jovens é preciso. Assim como é necessário reconhecer que os milhões de informais que tentam driblar a crueldade do desemprego com a sujeição às novas formas de exploração não é exatamente conformismo.
Escutar, entender esse novo mundo e buscar maneiras de politizar esse contingente formidável de sem-direitos é o desafio maior da esquerda que recusa a fossilização. Se não encontrarmos a saída desse beco, não há futuro.
O Sinpro-Rio comemora, desde 31 de maio, seus 90 anos de criação. No dia do aniversário, realizou uma ‘live’ com o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o cineasta Silvio Tendler. Assista trechos da fala de Boaventura Sousa Santos sobre os novos e preocupantes momentos para os trabalhadores e, consequentemente, os sindicatos.
Boaventura de Sousa Santos: a tentativa de destruição da classe trabalhadora
Boaventura de Sousa Santos: sindicatos e trabalhadores informais
Boaventura de Sousa Santos: os sindicatos e as causas identitárias