Por José Antônio Costeira Leite, jornalista –
Há uma antiga máxima no jornalismo que diz: “Uma foto vale mais que mil palavras”. Os colegas fotógrafos adoram. Com seu humor inigualável e genial para criar frases, o desenhista, humorista, dramaturgo, tradutor e jornalista Millôr Fernandes retrucava: “Se uma imagem vale mais do que mil palavras, então diga isto com uma imagem”. O que vale mais: imagens ou palavras? Quem sabe, o casamento entre as duas: o texto-legenda (TL). Não por acaso, o brilhante e polêmico jornalista José Ramos Tinhorão ganhou da professora Elizabeth Lorenzotti o título (no caso, subtítulo) de “legendário”, em sua biografia.
A origem da criança se perde no tempo. Há quem atribua o nascimento do TL ao Diário Carioca. Mas uma das parteiras parece ter sido o Jornal do Brasil que, em 1962, criou uma seção, no Caderno B, com fotos não aproveitadas pela pauta. Tinhorão: “O Illen Kerr fez uma foto de um maluquinho que andava pelo Leblon empurrando um aro de bicicleta, como brinquedo de menino. Achei bonita, estava meio nublado o dia”. A foto, infelizmente, se perdeu, mas vai aqui o texto:
“Em uma cidade onde rodam tantos loucos furiosos (cada lotação tem seis pneus e ainda leva um desvairado à roda do volante), um louco manso escolheu o calmo asfalto do Leblon para conduzir na ponta de um fio de arame a mais pacífica roda que o homem já inventou nas voltas da fantasia. Roto, sujo, esfarrapado, o louco de placidez empurra contra o poente o aro da bicicleta que é a roda de sua vida. Ultimamente segundo dizem os que já tinham aprendido a invejá-lo secretamente, o personagem não tem aparecido no Leblon para suas voltas habituais. Volte ou não, a sua imagem ficará nesta foto de Illen Kerr: o homem que conduz com um gancho, na tarde azul, a roda de seu destino. E assim deve continuar, até que a morte uma os extremos desse mistério que, afinal, constitui o círculo da vida.”