Por Claudio Lovato, jornalista e escritor –
Entrei na faculdade de Jornalismo aos 19 anos. Foi um momento mágico. Eu sempre quis estar ali. Nos meus primeiros dias como universitário, durante as aulas em alguma sala do prédio 7 da PUC-RS, o prédio da Famecos, eu olhava pela janela, alcançava com a vista um bom pedaço do campus e me sentia orgulhoso.
Eu tinha muitos ideais, claro. Ninguém vai para a faculdade de Jornalismo se não tiver muitos ideais. Eu pensava em repórteres investigativos sagazes, em colunistas corajosos, em editores íntegros, e queria me tornar um deles.
Quatro anos depois, em 1988, poucos dias depois de formado, comecei na profissão, como repórter de jornal, em Santa Catarina. Um ano depois, passei a editor, em outro jornal, à época concorrente da publicação na qual comecei.
Era um tempo em que, se eu pudesse escrever ou editar sete matérias em vez de seis, eu assim o faria, com coração apaixonado e respiração ofegante. No dia seguinte,ver a matéria assinada ou editada por mim publicada nas páginas do jornal era o prêmio que não tinha preço.
Eu vivia uma espécie de realização aos 20 e poucos anos. Uma realização que, mais adiante, mostrou-se necessitada de muitas e muitas camadas de reforço, sem dúvida – mas uma realização real.
Que dias maravilhosos, aqueles; dias de pouco dinheiro, de solas furadas, de textos ainda na puberdade – e de uma grande vigilância em relação ao exercício da moralidade e da ética no cotidiano profissional, sem as quais o Jornalismo é arma na mão de pervertidos.
Tenho pensado muito sobre isso tudo, tenho lembrado bastante daqueles tempos, mas não pelos motivos que eu preferiria. Tenho visto coisas na imprensa brasileira que me impelem a voltar correndo 30 anos no tempo.
E isso porque, diante do que tenho visto, mesmo jornalistas cinquentões como eu, que ainda se orgulham da profissão que escolheram, precisam de um lugar seguro para proteger aqueles ideais que nunca podem morrer, por mais que alguns os julguem ingênuos e anacrônicos.
Texto publicado originalmente na edição de novembro de 2014 do jornal “Fala Bom Fim”, de Porto Alegre.