Um mês sem Lula e nem o mais tolo coxinha é capaz de dizer que o Brasil melhorou

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Por Cynara Menezes, publicado em Socialista Morena – 

Lá se vão 30 dias que o juiz Sergio Moro trancafiou o ex-presidente em suas masmorras em Curitiba, mas o Brasil continua célere ladeira abaixo

PÔSTER DA JÔ HALLACK

Neste momento, Lula está preso. Há um mês, o presidente mais amado do Brasil desde a redemocratização está trancado numa cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Mesmo que não ofereça risco algum à sociedade, Lula está impedido de conviver com seus filhos e netos, de sair à rua, de ver o povo. Está preso. Preso.




Desde o último dia 7 de abril, muita gente, como eu, não consegue conciliar o sono direito e acorda no meio da noite pensando que, enquanto estamos no sossego de nossos lares, dormindo o sono dos justos, Luiz Inácio Lula da Silva, aquele homem que tudo que fez nos últimos 40 anos foi lutar por um Brasil melhor, está sozinho numa cela. Pensar que existe alguém sendo alvo de uma injustiça é de acabar com o sono de qualquer um. E que este alguém seja Lula, então… Como pode?

Disseram ao povo que o Brasil ia melhorar se tirassem Dilma da presidência, e muita gente acreditou. Dilma saiu há dois anos já, e o Brasil só piorou. Disseram ao povo que o Brasil ia melhorar se o juiz Sergio Moro prendesse Lula, e muita gente acreditou. Lula está preso há um mês, e o Brasil continua célere ladeira abaixo. Nem o mais tolo dos coxinhas seria capaz de afirmar que nosso país melhorou com a prisão do petista –ou não continuariam destilando animosidade nas redes sociais.

Não diminuiu o desemprego, a bolsa não subiu, o dólar não caiu, a corrupção não acabou, a impunidade continuou, e o ódio, em vez de arrefecer, se intensificou

Não diminuiu o desemprego, a bolsa não subiu, o dólar não caiu, a corrupção não acabou, a impunidade continuou, e o ódio, em vez de arrefecer, se intensificou. As instituições ficaram ainda mais fragilizadas: não confiamos mais na Justiça, na Polícia Federal, nas Forças Armadas, nos políticos. O golpe disfarçado de impeachment criou um ambiente de negação da política, situação propícia para o fascismo vicejar.

Entramos numa bad trip que parece não ter fim com o golpe; a prisão de Lula trouxe ainda mais baixo astral e deprê. Por onde a gente olha, a coisa está ruim, nada se salva. Nem a Copa do Mundo nos anima. É como se nosso país, o dito país “alegre” da lenda, estivesse com uma nuvem carregada sobre si, uma nuvem pesada e estéril, incapaz de gerar a chuva redentora. É inegável que, com Lula no poder, o ambiente era outro, o clima era outro, as estatísticas eram outras. Vivíamos num país melhor para todos, não só para os pobres, mas também para os ricos. Fato.

Tudo que o Lula ensinou quando foi presidente, o resgate do nosso orgulho enquanto nação, o valor do brasileiro, se foi, e bem antes de sua prisão. Já andávamos de cabeça baixa desde que Temer e seu bando tomaram o poder, entregando nossas empresas a preço de banana, acabando com os direitos dos trabalhadores, reprimindo os sem-terra, destruindo a saúde e a educação públicas, ameaçando os índios. A prisão de Lula representou o encarceramento da última fagulha de orgulho que ainda havia em nós. Era essa mesma a intenção, trancafiar nossas esperanças, acorrentar nossos sonhos, algemar nossa vontade de lutar.

É inegável que, com Lula no poder, o ambiente era outro, o clima era outro, as estatísticas eram outras. Vivíamos num país melhor para todos,  não só para os pobres, mas também para os ricos. Fato

Isso não conseguiram. Prender Lula, ao contrário, está tendo o efeito de fazer a esquerda se unir como não víamos há tempos, e de reacender uma chama que estava fraquinha, sem brilho. Queriam apagar nossa estrela e o que fizeram foi tacar fogo nela; queriam esmagar a esquerda e lhe deram fôlego novo. Este é o tamanho do sacrifício de Lula ao aceitar ser preso injustamente.

Mas o Brasil, coitado, este nada ganhou com a prisão de Lula. Estamos só mais tristes e desacorçoados, com um futuro incerto pela frente. Imaginem que, se os derrotados não tivessem contestado o resultado da eleição em 2014, estaríamos apenas em mais um ano eleitoral. Agora nem sabemos se vai ter eleição.

Era bem capaz, inclusive, de o PT perder nas urnas, de maneira limpa, sem ser no tapetão. E o país não estaria em frangalhos como se encontra desde que o tucano Aécio Neves se recusou a aceitar as regras do jogo democrático e desafiou o resultado das urnas. Uma ironia e tanto, já que seu avô, Tancredo, a quem o playboy mineiro deve a carreira política, foi o grande nome da transição pactada da ditadura militar para a democracia. Mais de de 30 anos depois, Aécio foi um dos maiores responsáveis por fazer o Brasil empreender rumo oposto e perpetrar um novo golpe contra uma presidenta eleita.

Enquanto isso, Lula continua preso em Curitiba. Lula. Preso. Como pode?

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