E o Bem Blogado volta com a ótima escritora e jornalista Sonia Nabarrete (foto). Desta vez com um miniconto que alerta sobre a proliferação das armas. Nossa índole humanista, logicamente, não quer que o desfecho deste miniconto se transforme em realidade.
– #quarentextos –
Armas
Era uma vez um presidente que adorava armas e decidiu generosamente compartilhar esse prazer com seu povo.
A compra de armas foi facilitada, enquanto se tornava cada vez mais difícil comprar livros, remédios, comida.
Em pouco tempo, todo o país estava armado e todo mundo achava bom, embora fossem altos os registros de acidentes que mataram crianças curiosas.
Não era mais possível distinguir milicianos dos cidadãos que imaginavam garantir a própria segurança ao portar uma arma.
Tudo passou a ser resolvido no tiro: de briga no trânsito a término de relacionamento.
Os números de mortos por armas competiam com os que sucumbiam ao coronavírus.
A oposição também se armou e mostrou que era boa de pontaria naquele comício em que o presidente armamentista anunciava ainda mais facilidades para se adquirir armas.
Nada foi combinado, mas enquanto o presidente falava, recebeu inúmeros tiros, vindos de todas as direções.
Caiu sangrando, enquanto a segurança se mostrava desorientada com o ataque.
Pensando bem, até que não foi má ideia armar a população.
(Sonia Nabarrete) #quarentextos