Rafael Patto pelo Facebook –
Outro dia eu tava vendo um desses programas que mostram operações policiais de combate ao tráfico de drogas em aeroportos…
É impossível não pensar no quanto esse modelo de repressão ao narcotráfico é inócuo e, por que não dizer, injusto.
As pessoas que são capturadas, as chamadas “mulas”, invariavelmente são pessoas ferradas que acabam aceitando a “oferta” de correr um risco altíssimo em troca de muito pouco. São pessoas que têm família e uma história de dificuldades e sofrimentos. Em geral, quando são flagradas, depois daquele primeiro momento de dissimulação, “isso não é meu”, “não sei quem colocou isso aí na minha bagagem”, acabam entrando em desespero e se arrependem amargamente. São pessoas sem antecedentes criminais e nenhuma periculosidade.
Mas é sobre elas que a força da lei se abate com todo rigor.
Não que isso esteja errado. Infelizmente essas pessoas vão ter de pagar o preço pela escolha errada que fizeram. Mas é muito triste ver que esses pobres coitados, que não têm nada, acabam respondendo sozinhos por um crime muito mais organizado, muito mais hierarquizado, muito mais rizomatizado do que eles mesmos podem supor. É triste ver as “mulas” sendo abatidas como se elas fossem o topo dessa “cadeia alimentar”. É triste ver que, enquanto uns pobres coitados são condenados a anos e anos de prisão (muitas vezes num país estrangeiro) por causa de dois ou três quilos do produto, os chefões engravatados só sofrem a perda financeira de terem tido um “carregamento” detido, o que é nada em vista do volume que é transportado todo dia de lá pra cá e de cá pra lá por um verdadeiro reb anho de “mulas”. É revoltante saber que esses chefões engravatados, que exploram a miséria humana, ficam por aí, rindo da nossa cara, nos parlamentos pelo mundo afora, criando leis de “segurança” e “combate” ao narcotráfico, ou até mesmo concorrendo à presidência de alguns países…
Mundo cão!
