Um momento emblemático do jornalismo: o cancelamento da assinatura da Folha

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Publicado no Site Conexão Jornalismo – 

A indiferença com que os jornais, impressos especialmente, tratava seus leitores ficou para trás. Profissionais das redações não ligavam para quem telefonava e se queixava de determinada reportagem, título ou omissão. Mandavam, os editores, os leitores “se queixarem com o bispo”, ou “ou papa” – nos casos mais graves. Hoje, tempos de internet e redes sociais, os desmandos das redações repercutem e, não raro, alteram o ânimo de redações. O caso em que a professora de jornalismo e representante do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Sylvia Moretzsohn decide encerrar a assinatura de quase três décadas com a Folha de São Paulo é exemplo disso. O post tem milhares de curtidas e centenas de compartilhamentos. Algo espantoso e que chegará, certamente, ao comando da redação da Folha. As razões você saberá em seguida.

Sylvia: desrespeito ao jornalismo praticado pela Folha
Sylvia: desrespeito ao jornalismo praticado pela Folha

Apenas para registrar, enviei esta mensagem à ombudsman:

Assunto: cancelando a assinatura




Data: Mon, 18 Jan 2016

Cara Vera,

Escrevo apenas para registrar que acabo de cancelar minha assinatura da Folha.

O motivo, você deve imaginar.

Sou assinante antiga, desde os anos 80, quando me formei e comecei a trabalhar como jornalista. Estou para fazer 57 anos, estou também para me aposentar como professora de jornalismo na UFF, depois de mais de 25 anos dando aula de algo que eu sempre valorizei muito mas que está cada vez mais raro encontrar.

Várias vezes, antes desta, estive para tomar essa atitude. No momento em que se cunhou a expressão “ditabranda”. No caso da ficha falsa da Dilma: não só pelo fato, mas pelos seus desdobramentos, a incapacidade de reconhecer o erro, a canhestra justificativa de que não se poderia afirmar que a ficha era verdadeira nem que era falsa (brilhante jornal que, na dúvida, publica…). Na decisão de contratar o Reinaldo Azevedo.

Mas tudo tem limite.

Não se trata, obviamente, da minha rejeição a posições de direita. Eu sempre achei que um jornal deve buscar a pluralidade. Mas é preciso buscar também a substância. Como disse uma colega, também professora e jornalista, colunista não é o sujeito que simplesmente vai lá e dá uma opinião: é alguém que traz informação original e qualificada. Definitivamente, não é o caso desse rapaz, que não tem condições de estar em nenhum jornal que se leve a sério.

Todo jornal faz suas escolhas. Ao acolher certos colaboradores, escolhe também o público que quer preservar e, consequentemente, o que pode dispensar.

É uma pena.

Abraço,

Sylvia

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