Por Alexandre Schossler, publicado em DW Brasil –
Seis meses antes das eleições, ninguém pode ousar prever onde o Brasil estará em outubro. Possível detenção de Lula eleva ainda mais a incerteza e os ânimos, afirma o jornalista Alexandre Schossler.
A polarização que domina a sociedade brasileira desde a reeleição de Dilma Rousseff atingiu um novo ápice na madrugada desta quinta-feira (05/04), com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, na prática, coloca o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com um pé na cadeia.
Lula, maior nome da política brasileira nas últimas décadas, vive mais um capítulo do seu inferno pessoal, dentro de uma trajetória de ascensão e queda sem paralelos na história brasileira.
À parte a questão de se ele deve ir ou não para a cadeia (as evidências apontam para uma relação promíscua com a empreiteira Odebrecht), o que realmente preocupa é que efeito essa decisão terá sobre a sociedade brasileira.
A menos de seis meses das eleições gerais, o país parece caminhar irremediavelmente para o caos. E pelo menos três pontos elevam a sensação de incerteza, com prováveis reflexos nas urnas.
Primeiro, Lula, o líder nas pesquisas eleitorais, está fora do páreo, deixando frustrados e revoltados seus seguidores, que veem o ex-presidente como um perseguido político. Essa situação adiciona um elemento a mais no clima de intolerância que predomina entre seus apoiadores e críticos, uma situação que pode facilmente resvalar para a violência, como mostrou o ataque a tiros contra a caravana do ex-presidente.
Segundo, os políticos e partidos tradicionais estão descreditados entre os eleitores por causa das acusações de corrupção levantadas pela Justiça, principalmente na Operação Lava Jato.
Terceiro, a eterna questão da violência nas grandes cidades alcançou um novo patamar com a intervenção federal no Rio de Janeiro. O assassinato da ativista e vereadora Marielle Franco elevou a sensação de insegurança e impunidade entre a população.
No meio de tudo isso, um populista que defende a ditadura militar é o vice-líder nas pesquisas eleitorais. Os brasileiros não costumam apoiar soluções extremistas, seja à direita, seja à esquerda, mas não é mais possível descartar a eleição de Jair Bolsonaro.
Nas eleições passadas, era possível antever quem seriam os candidatos e que chances reais cada um tinha. Também a situação política, econômica e social do país transmitia mais estabilidade do que agora. Desta vez, ninguém pode ousar prever onde o Brasil estará em outubro de 2018, daqui a apenas seis meses.