Por Ulisses Capozzoli –
Frente ao desalento & a falta de perspectiva na linha do horizonte, uma notícia acena com alguma perspectiva.
Ainda que não se trate de panaceia, a cura para todos os males.
Pesquisa do Datafolha, publicada na edição de hoje (03/07) da “FSP”, mostra um realinhamento no espectro ideológico na sociedade nacional, em relação ao turbulento 2014.
O levantamento mostra um deslocamento à “esquerda”, termo genérico, sugerindo apenas que o apelo à lógica fácil, mecanismo de relojoaria do fascismo, já não funciona mais.
Há pouco, uma roupa vermelha, significava risco de agressão nas ruas.
O suficiente para questionar atributos de “Homo sapiens” à espécie de que somos parte.
A mudança no espectro pode ser o sinal mais evidente de que atingimos um fundo de poço.
Otimismo & ingenuidade? Pode ser. Não acredito que seja.
Sinais sutis. Algo como a luz de um pirilampo, cintilando na boca do túnel, que já esteve escura como breu.
Há pouco, a destruição do PT era redenção para todos os males.
Da má sorte no jogo do bicho ao excesso ou carência de chuvas.
Isso não significa que o PT não mereça críticas.
Que não tenha tido suas contradições.
Significa apenas que essa ideia era uma completa bestialização.
Ainda que, então, interlocutores agressivos tivessem disposição para substituir por truculência & afins, o que argumentos toscos não fossem capazes de impor.
Jornalistas desonestos, talvez apenas incompetentes.
Patifes, entre outros atributos.
Contribuíram para criar essa situação.
Lembram-se do: ─ Como o senhor conheceu a Marcela, senhor presidente?
Na constrangedora entrevista do golpista ao “Roda Viva” na TV Cultura?
Uma das muitas cenas que ficaram para trás.
Com o PT apeado, o PMBD mostrou sua face: a de um grupo de organizados achacadores.
Bandidos nas mais diversas interpretações da lei.
Com o PSDB como sócio ressentido & oportunista.
Ofendido por não ter tido, pela via das urnas, o que julga, por tradição senhorial de 500 anos, ser seu direito natural.
Desemprego, temor da polícia violenta, insegurança nas ruas, falta de perspectiva e descrença na justiça e em quem antes pairava acima de qualquer suspeita.
Era o que estava dissimulado abaixo da linha do horizonte, camuflado pela simplificação.
Lewis Carrol teria adorado conhecer a corte suprema.
O STF, antes de narrar as aventuras de Alice.
Uma corte de justiça nos moldes do completo nonsense.
154 servidores a cada um dos egos galácticos, que mudam o juízo de forma imprevisível. Dependendo da poção ou pedaço de bolo ingeridos.
Que se pretendem sérios, circunspectos, acima e além de qualquer suspeição. Nem a rainha louca, o chapeleiro maluco & o coelho branco foram tão exóticos.
Os problemas estão todos aí, na linha do horizonte, não mais abaixo dela.
Um presidente ladrão, achacador, com seu bando de salteadores.
É a metáfora e a realidade de dias duros & de desamparo.
Há urgência de organizar um encaminhamento, sob pena de uma formal guerra civil.
A exposição à luz do dia do que já ocorre sob camuflagem formal.
Uma criança baleada ainda no útero materno, cena da “cidade maravilhosa”.
Buracos, mato urbano, repressão a dependentes & impostura generalizada na “cidade linda”.
Como & quando teremos alguma solução para o caos é algo que pertence ao futuro.
O que só um Tirésias, o mitológico adivinho, poderia ver.
Mas um pirilampo cintila sua luz no final do túnel.
E esse não é um fato desprezível.
Ainda que não seja a solução. Nem pudesse ser.
É um pirilampo, oferecendo a sua luz.