Por Fernando Molica, Projeto Colabora –
Livro de Edir Macedo detalha o ‘grande projeto de nação pretendido por Deus’
Ao falar numa futura eleição de um presidente da República evangélico, o senador Marcelo Crivella (PRB), candidato a prefeito do Rio, tratou de um processo de conquista de poder já detalhado em livro lançado em 2008 pelo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo.
Escrito com a colaboração do jornalista Carlos Oliveira, “Plano de poder” não tem qualquer pudor em misturar política e religião. O livro defende a união dos evangélicos em torno de um objetivo político e trata da ascensão dos evangélicos como algo determinado pela Bíblia. Os autores chegam a falar em consolidação do “grande projeto de nação pretendido por Deus”.
Segundo Macedo e Oliveira, a Bíblia é um “manual que não se restringe apenas à orientação de fé religiosa, mas também é um livro que sugere resistência, tomada e estabelecimento do poder político ou de governo”. Um dos capítulos tem como título “A visão estadista de Deus”.
Os autores ressaltam, diversas vezes, a força eleitoral dos 40 milhões de brasileiros evangélicos. Tudo seria uma questão “de engajamento, consenso e mobilização” desses fieis. “Insistimos em que a potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo (…)”, destacam.
Segundo eles, “em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los (os fiéis) de forma incisiva a participar da política nacional”. “O momento é oportuno ao projeto divino de nação!”, comemoram. O livro diz, porém, que muitos evangélicos ainda não haviam identificado e assimilado “o projeto de poder político” de Deus e que eles precisariam “despertar ao toque da alvorada”.
Em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los (os fiéis) de forma incisiva a participar da política nacional. O momento é oportuno ao projeto divino de nação!Os autores chegam a comparar o processo de chegada dos evangélicos ao poder com a trajetória de Moisés na libertação dos judeus escravizados no Egito e a condução deste povo à terra prometida. O período de 40 anos de peregrinação no deserto até a chegada ao destino é citado como um tempo necessário para que os judeus se dessem conta da necessidade e dos desafios necessários para a construção de um Estado. Este período de amadurecimento seria semelhante ao atual, em que os cristãos – no livro, apenas os evangélicos recebem esta denominação – se preparariam para a chegada ao poder.
O livro também traz lições para o sucesso da empreitada: “O êxito em política, sobre tudo na atualidade, depende de um conjunto de ações estratégicas, bem elaboradas e objetivas, que vai desde o político como produto às ações dos que desejam elegê-lo”, ensinam os autores. Afinal, de acordo com eles, “Deus segue procedimentos normais e técnicos”.
Macedo e Oliveira destacam que qualidades como a dignidade e a respeitabilidade do “povo de Deus” fariam com que evangélicos governassem com justiça social “pelo temor que lhes é peculiar.” Eles afirmam que a honra não é um monopólio dosevangélicos, “mas é inerente aos cristãos que verdadeiramente temem a Deus.”
No fim do livro, os autores afirmam estar diante de dois interesses: o dos cristãos, de ter “representantes genuínos”, e o de Deus, “de que seu projeto de nação se conclua”. Clamam para que os evangélicos não deixem “que essa potencialidade seja desperdiçada”.
Desde os anos 1990 a Igreja Universal investe na eleição de políticos, trabalho que, no início, foi coordenado pelo então bispo Carlos Rodrigues, eleito deputado federal pela primeira vez em 1998 com o nome de Bispo Rodrigues. Reeleito, em 2005 ele renunciou a um novo mandato depois de ter seu nome envolvido em três escândalos de repercussão nacional, que envolviam bingos, máfia que desviava recursos destinados à compra de ambulâncias e o Mensalão (acabaria condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento deste último caso).
Em 2002, Marcelo Crivella, hoje bispo licenciado da Igreja Universal, foi eleito senador. Três anos depois, ele e o então vice-presidente, José Alencar, fundaram o PRB, que se transformaria num braço político da organização religiosa.
O partido conta com 22 deputados federais e 38 estaduais. No primeiro turno da eleição de 2016, elegeu 104 prefeitos e 1.627 vereadores – bem mais do que os 80 e 1.207, respectivamente, que foram vencedores na disputa de 2012. Seis de seus candidatos a prefeito disputarão o segundo turno no próximo domingo. O PRB tem como presidente interino Eduardo Lopes, bispo da Igreja Universal, ex-presidente do jornal ‘Folha Universal e suplente de Crivella no Senado.
O presidente titular do partido, Marcos Pereira, licenciou-se do cargo para assumir o Ministério da Indústria e Comércio de Michel Temer. Ele também é bispo licenciado da Igreja Universal e foi vice-presidente da Rede Record. Em sua página na internet, Pereira, entre outras qualificações, é identificado como advogado, professor de direito “e servo”: “Apenas servo, como ele costuma dizer”.