Um plano de poder

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Livro de Edir Macedo detalha o ‘grande projeto de nação pretendido por Deus’

O grandioso Templo de Salomão, inaugurado pela Igreja Universal, em São Paulo, em 2014. Foto de Miguel Schincariol/AFP
O grandioso Templo de Salomão, inaugurado pela Igreja Universal, em São Paulo, em 2014. Foto de Miguel Schincariol/AFP

Ao falar numa futura eleição de um presidente da República evangélico, o senador Marcelo Crivella (PRB), candidato a prefeito do Rio, tratou de um processo de conquista de poder já detalhado em livro lançado em 2008 pelo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo.

O êxito em política, sobretudo na atualidade, depende de um conjunto de ações estratégicas, bem elaboradas e objetivas, que vai desde o político como produto às ações dos que desejam elegê-lo.

Edir Macedo

Escrito com a colaboração do jornalista Carlos Oliveira, “Plano de poder” não tem qualquer pudor em misturar política e religião. O livro defende a união dos evangélicos em torno de um objetivo político e trata da ascensão dos evangélicos como algo determinado pela Bíblia. Os autores chegam a falar em consolidação do “grande projeto de nação pretendido por Deus”.

Segundo Macedo e Oliveira, a Bíblia é um “manual que não se restringe apenas à orientação de fé religiosa, mas também é um livro que sugere resistência, tomada e estabelecimento do poder político ou de governo”.  Um dos capítulos tem como título “A visão estadista de Deus”.

Os autores ressaltam, diversas vezes, a força eleitoral dos 40 milhões de brasileiros evangélicos. Tudo seria uma questão “de engajamento, consenso e mobilização” desses fieis. “Insistimos em que a potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo (…)”, destacam.




Segundo eles, “em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los (os fiéis) de forma incisiva a participar da política nacional”. “O momento é oportuno ao projeto divino de nação!”, comemoram.  O livro diz, porém, que muitos evangélicos ainda não haviam identificado e assimilado “o projeto de poder político” de Deus e que eles precisariam “despertar ao toque da alvorada”.

Capa do livro escrito por Edir Macedo e pelo jornalista Carlos Oliveira. Reprodução
Capa do livro escrito por Edir Macedo e pelo jornalista Carlos Oliveira. Reprodução

Os autores chegam a comparar o processo de chegada dos evangélicos ao poder com a trajetória de Moisés na libertação dos judeus escravizados no Egito e a condução deste povo à terra prometida. O período de 40 anos de peregrinação no deserto até a chegada ao destino é citado como um tempo necessário para que os judeus se dessem conta da necessidade e dos desafios necessários para a construção de um Estado. Este período de amadurecimento seria semelhante ao atual, em que os cristãos – no livro, apenas os evangélicos recebem esta denominação – se preparariam para a chegada ao poder.

Em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los (os fiéis) de forma incisiva a participar da política nacional. O momento é oportuno ao projeto divino de nação!

Edir Macedo

O livro também traz lições para o sucesso da empreitada:  “O êxito em política, sobre tudo na atualidade, depende de um conjunto de ações estratégicas, bem elaboradas e objetivas, que vai desde o político como produto às ações dos que desejam elegê-lo”, ensinam os autores. Afinal, de acordo com eles, “Deus segue procedimentos normais e técnicos”.

Macedo e Oliveira destacam que qualidades como a dignidade e a respeitabilidade do “povo de Deus” fariam com que evangélicos governassem com justiça social “pelo temor que lhes é peculiar.” Eles afirmam que a honra não é um monopólio dos evangélicos, “mas é inerente aos cristãos que verdadeiramente temem a Deus.”

No fim do livro, os autores afirmam estar diante de dois interesses: o dos cristãos, de ter “representantes genuínos”, e o de Deus, “de que seu projeto de nação se conclua”.  Clamam para que os evangélicos não deixem “que essa potencialidade seja desperdiçada”.

Desde os anos 1990 a Igreja Universal investe na eleição de políticos, trabalho que, no início, foi coordenado pelo então bispo Carlos Rodrigues, eleito deputado federal pela primeira vez em 1998 com o nome de Bispo Rodrigues.  Reeleito, em 2005 ele renunciou a um novo mandato depois  de ter seu nome envolvido em três escândalos de repercussão nacional, que envolviam bingos,  máfia que desviava recursos destinados à compra de ambulâncias e o Mensalão (acabaria condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento deste último caso).

Em 2002, Marcelo Crivella, hoje bispo licenciado da Igreja Universal, foi eleito senador.  Três anos depois, ele e o então vice-presidente, José Alencar, fundaram o PRB, que se transformaria num braço político da organização religiosa.

O partido conta com 22 deputados federais e 38 estaduais. No primeiro turno da eleição de 2016,  elegeu 104 prefeitos e 1.627 vereadores – bem mais do que os 80 e 1.207, respectivamente, que foram vencedores na disputa de 2012. Seis de seus candidatos a prefeito disputarão o segundo turno no próximo domingo.  O PRB tem como presidente interino Eduardo Lopes, bispo da Igreja Universal, ex-presidente do jornal ‘Folha Universal e suplente de Crivella no Senado.

O presidente titular do partido, Marcos Pereira, licenciou-se do cargo para assumir o Ministério da Indústria e Comércio de Michel Temer. Ele também é bispo licenciado da Igreja Universal e foi vice-presidente da Rede Record. Em sua página na internet, Pereira, entre outras qualificações,  é identificado como advogado, professor de direito “e servo”: “Apenas servo, como ele costuma dizer”.

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