Um sujeito chamado Iñárritu

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Por Claudio Lovato, jornalista e escritor – 

O ser humano, tão grande e importante para si mesmo, tão insignificante diante do soberano espetáculo da vida. Qual é o nosso verdadeiro tamanho, afinal de contas? E o quão importantes realmente somos?




Para nós mesmos é isto: somos os protagonistas, e todo o resto – a natureza e as metrópoles, as guerras e as doenças, o luxo e os prazeres,as outras pessoas e as contingências da vida – apenas elementos colocados em nossa volta, em cima do palco no qual encenamos o grande teatro do “eu”.

Somos tanto, em certo momento, e, no entanto, de um minuto para outro, podemos entender – de maneira clara, dolorosa, mas também libertadora–que somos pouco mais que as formigas marchando (“Ants Marching”) de Dave Matthews.

Assisti há pouco a “O Regresso”, de Alejandro González Iñarritu. Conheço poucos autores, não apenas no cinema, mas também na literatura, na música e nas artes em geral, que compreendem e transmitem tão bem essa nossa eterna dicotomia conflituosa: de um lado, a soberba de nos sentirmos o centro de todas as coisas, e, de outro, a devastadora certeza de aniquilação do “eu” ao nos confrontarmos com situações em que nossa participação é inútil e nossa vontade, inócua.

“Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel” tratam disso; do poder do acaso e da inevitabilidade daquilo que acontece simplesmente porque pode acontecer. “Birdman” investe fundo na discussão do ego e de seu poder de nos conduzir pela vida afora – para o mal e para o bem. Em “O Regresso”, Iñárritu conta a jornada ao inferno, movida pelo sentimento de vingança (mas não apenas por isso), feita pelo personagem interpretado por Leonardo Di Caprio.

Mais uma vez, o diretor mexicano nos mostra que nada é tão grande e tão pequeno quanto o indivíduo, a pessoa, o ente humano. Nós. Somos tudo e, ao mesmo tempo – para nosso grande alívio –, nada.

  • Texto publicado orginalmente no jornal “Fala Bom Fim”, de Porto Alegre.

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