Ivani Guidini em seu Facebook –
Soube agora que Gabriel Sartori, um adolescente, foi assassinado em Londrina por um PM desgraçado.
Estou em Porto Alegre. Ontem, fiquei 4 horas em São Paulo, arrastada de um aeroporto para outro até conseguir conexão para cá. O que eu vi de moradores de rua naquela cidade, acampados em praças e terrenos, foi arrasador. Quando sobrevoava a cidade de Porto Alegre, iluminada pelas luzes noturnas, imaginei um abrigo estelar.
Até chegar ao hotel bem próximo do aeroporto, estava embalada por aquela imagem e mal olhei para as ruas da cidade. Havia passado o dia todo movida por uma garrafa de água e um pacote de bolacha. Quando cheguei no hotel cai na cama como uma bloco de cimento. Acordei ao nascer do sol com sensação de sufocamento . Corri para a janela do quarto do décimo andar e ela só abre um palmo. Um palmo! Fui na portaria descabelada e pedi para a recepcionista dar um jeito de arrumar outro quarto. Eu tenho claustrofobia. Ela respondeu que era padrão do hotel para segurança. Eu quase gritei: – segurança contra o homem aranha, cara pálida?
Sai pelas ruas para respirar e aí sim tive um choque de realidade. Eu não estava numa pousada estelar. Sentei num banco de uma praça e olhei em volta. Dezenas de sem tetos. Senti fome. Atravessei a rua e voltei com sacolas de marmitex. Distribui e devorei a minha ao lado deles. Tentei conversar mas nem uma frase com nexo saía da minha boca. Eles terminaram de comer e foram lentamente, um após outro caminhar sem rumo. Muitos deles catadores de lixo com suas carrocinhas. Eu não lembrava mais de ver tanta pobreza como vi nos anos 80 e 90.
Foram embora, e aqueles olhos opacos de olhares perdidos arrebentaram minhas entranhas. Fiquei lá um tempo e senti espasmos no lado esquerdo do meu rosto. Fiquei massageando para fazer parar e estranhamente imaginei que poderia ser um AVC ou qualquer coisa assim. Eu poderia ter morrido assim, sozinha como qualquer um deles, talvez em uma noite fria. Mas eu morri bastante hoje. E estou muito cansada e triste por fazer parte da espécie humana. A abertura da janela, de repente, fez muito sentido.
