Por Fernando Horta, Facebook –
As formas de protesto precedem as de participação, por óbvio. Tanto na História quanto nas sociedades, as elites (sejam da natureza que forem) estão somente dispostas a dialogar quando colocadas em condição de pressão. Nem o “estado democrático de direito” inverteu ou suprimiu o protesto, eis que a ideia de “democrático” é sempre subvertida e inferiorizada pela autoridade legal do momento e o termo “direito” tem extensão e profundide suficientes para serem usados como constritor da noção de cidadania.
Os protestos têm, portanto, duas funções básicas: provocar por ato de escárnio um mal-estar nas autoridades-alvo de forma a gerar uma noção social de transgressão com um custo social baixo, e sinalizar ao poder constituído que existe uma inconformidade forte o suficiente para impelir cidadãos a quebrarem as regras, transgredirem os limites sociais com o intuito de serem ouvidos.
Assim, a forma do protesto, quando legitimamente estabelecido, é inerente ao grupo protestante. Os que têm acesso à explosivos, usam explosivos. Os que tem acesso apenas à comida, fazem desta sua arma. Alguns protestos, entretanto, chamam a atenção pela falta de fulcro legítimo, eis que são pensados e financiados por agentes sociais diferentes dos que protestam.
Quando uma elite bate panelas, por exemplo, fica claro que a ação do protesto não foi pensada dentro do grupo social que o coloca em prática. Os “cacerolazos” do Chile em 71 e 73, da Argentina em 2012 e do Brasil em 2016 não foram pensados pelos grupos que deles fizeram uso. Eram movimentos de elite que não tinham na panela qualquer simbologia especial e sequer estavam passando fome.
Este mesmo fenômeno, da ingerência política externa através da brecha da “opinião pública” acontece em vários lugares no mundo em que protestantes escrevem cartazes e faixas em línguas diferentes das suas. Demonstra-se que o alvo da mensagem não são seus conterrâneos, o objetivo da mensagem não é unidade nacional. A mensagem, em língua diferente ou com códigos culturais e valores diferentes do grupo ou país que é exarada é um recibo dado publicamente pelo executor do serviço ao seu financiador.
Desde a Idade Média, os protestos com comida eram comuns, desde que os protestantes fossem populares. As comidas eram, por óbvio as que não mais estavam aptas ao consumo. E a simbologia ficava clara.
Afora o fato de ser barato, a simbologia do ovo traz consigo uma crítica ao cinismo das elites. A mensagem faz turvar a aura de intangibilidade e oferece ao protestado um momento em que ele será tocado pelo popular. Não somente contra a sua vontade, mas também contra a sua história. É a demonstração da percepção social do cinismo. O protestante desvela as construções imagéticas do poder, fazendo a elite ser tocada pela simbologia do popular. Simbologia esta que o protestado não tem nenhum apreço.
De alguma forma, isto explica porque líderes populares não precisam ter medo dos ovos.Cada grupo de protesto usa as armas mais comuns que tem ao seu alcance. Enquanto uns grupos jogam ovos, outros jogam sentenças judiciais ou emendas parlamentares.