Por Carlos Eduardo Alves, jornalista –
Dúvida (absurda talvez) de um confinado. Estou trancado no ap desde sexta à tarde. Sou duplamente grupo de risco, por idade e doença pré existente. Para complicar, moro sozinho, o que causa problemas práticos de abastecimento e de solidão intelectual. O primeiro dá para resolver com gente bacana. O segundo, começo a temer, pode levar o sujeito a começar a pensar bobagem. Como é aquela coisa, é “cabeça vazia, porta do diabo”? Todo habeas corpus preventivo é para a questão: deve haver limite para a exposição de, ideias quando o autor é personalidade pública?
Mais especificamente ainda, uma celebridade ou sub com poder de influenciar tem direito irrestrito, mesmo quando coloca em risco a saúde ou vida de outros?
A minhoca veio depois do assustador descaso, quando não pilhéria, revelado por figuras públicas sobre o coronavírus. Não se fala aqui de Bolsonaro, praticamente inimputável por reconhecida imbecilidade. Vários outros exibiram ignorância básica ou interesseira no episódio.
No Jornalismo, por exemplo, Alexandre Garcia, com colunas em jornais e espaço em centenas de rádios, zombou durante dias da “gripezinha”. Xico Graziano, o ogro do agro e consultor da CNN, trilhou o mesmo caminho. O notório Edir Macedo negou o perigo (coisa de Satanás) e veiculou um vídeo assustador e criminoso de um professor da Federal de SP que também minimizava a pandemia.
Tem ainda o padeiro francês chique de SP, Malafaia etc. Esses caras podem pôr em risco a vida de alguém que confia cegamente em opinião que julga capacitada?
Sei que é assustador sequer sugerir a possibilidade de coibir a expansão da ignorância, mas em caso concreto de ameaça à sobrevivência das pessoas essa regra democrática não pode ser questionada?
Talvez seja uma reflexão, e é só isso e não uma opinião, tão absurda que só pode ser atribuída ao tempo difícil que todos nós responsáveis estamos passando, mas criei coragem para expô-la.
Aceito sugestão de terapia mental, se esse for o diagnóstico.