Uma enciclopédia de crimes, este o restolho do desgoverno

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Por Enio Squeff, jornalista, escritor e artista plástico

Estamos nos tornando um país cada vez mais miserável, dia a dia menos donos de nós mesmos, e pior, nas ciências, no ensino, na saúde, na educação, na cultura, enfim, em tudo mais, apenas pioramos.




Tive, na minha juventude, alguns amigos que estudavam na escola militar em Porto Alegre. Foi com um deles que tive as primeiras noções de nacionalismo. Quando veio o golpe de 1964, afastamo-nos convenientemente. Não tinha nada a dizer para eles, depois de ver serem exilados do Brasil os seus melhores intelectuais e professores mais categorizados; e eles nada a falarem comigo, que também me soaria mal diante da sua violência e estupidez.

Como as de um músico militar que estudava comigo na escola de artes. Sorrindo, mas com a firmeza que ele aprendeu de seus superiores, afirmou que os militares ensinariam aos “paisanos”, ou seja à sociedade brasileira, como se governava um país. Ensinaram, de fato. Torturas, mortes, barbárie e censura.

Claro, não se podia dizer que estávamos censurados. Censuraram a censura. Depois deles firmei minha convicção de que milico e política só se casam em ditaduras e incompetência. De uma coisa, por isso, o atual o governo me convenceu. Quanto mais avisa que o Brasil pode cair numa ditadura, mais aumenta a minha convicção de que o meu pais não tem instituição que lhe valha. E, que meus amigos militares, lá atrás, estavam enganados.

O que temos hoje no Brasil é puro entreguismo. O linha dura ao qual pertencia o círculo que hoje governa o Brasil concluiu que só temos um caminho: sermos todos subordinado ao general Sylvio Frota, o cacique dos torturadores brasileiros.

Isso de entreguismo, para os mais jovens, talvez não lhes seja familiar e até nem importe muito. Eles acham que um sujeito como Elon Musk, é apenas um bilionário que tem interesses até altruístas. É uma temeridade. Lembro-me sempre do alerta feito por São Jerônimo (342-420) que afirmava, já em plena idade média, que : “Atrás de toda a fortuna, existe um grande roubo”.

Era uma assertiva peremptória e se pode discuti-la, assim como é altamente discutível os quatro evangelhos, dentre as dezenas ou até centenas, que ele escolheu como sendo os únicos dignos de credibilidade. Um amigo, a propósito, gosta de dizer que São Jerônimo, o autor da vulgata que se propagou nos quatro evangelhos, foi “o maior mentiroso da história”.

É possível. Mas nada me convence que tudo o que tenha dito seja falso ou inaceitável. E me assusta que um bilionário como Elon Musk não esteja disposto a não meter a mão grande na Amazônia. E que os militares olhem para tudo isso como absolutamente normal.

Para eles, o que vale é o mercado, não a nação.Dizem alguns analistas que os militares hoje são tão neoliberais como toda a turma da Fiesp. Ou seja, acham que quanto mais milionários estrangeiros se interessarem pela Amazônia (esta é a tese do general Heleno), tanto mais benefícios para o Brasil. Não é o que se está vendo.

Estamos nos tornando um país cada vez mais miserável, dia a dia menos donos de nós mesmos, e pior, nas ciências, no ensino, na saúde, na educação, na cultura, enfim, em tudo mais, apenas pioramos. Pouco a acrescentar.

É como se tivéssemos sido invadidos por outro país. E que ele se achasse no direito de botar abaixo nossas florestas, plantar bois e vacas nas terras , vendendo nosso subsolo, o nosso petróleo que a população subsidiou para que nossos técnicos o arrancassem do fundo de nossos mares, tudo em meio a uma inflação que nos empobrece.

Estamos nos transformando em párias de um mundo que nos despreza. Dias atrás, vi uma entrevista do violonista Yamandu Costa. Queixava-se do quanto o envergonhava ser olhado com menosprezo mundo afora. Era brasileiro, logo, não merecia respeito. E bradava que só esperava pelo fim do pesadelo do atual desgoverno a que fomos submetidos.

Não sei se o jornalista que o entrevistava pensava como ele. E é essa toda a questão. Desde que passamos a ser governado pelo que alguns amigos chamam de “o Inominável , é cada vez maior o número de brasileiros que deixaram de falar entre si.

Constato terem sido abertas duas caixas de pandora no Brasil: uma a da turma do ódio, da ignorância pavoneada, dos vendilhões, muitas vezes travestidos de religiosos, ou fardado; a outra caixa, a da nossa desilusão com o país e suas instituições completamente avacalhadas.

Sonhávamos com outro país e o que temos é o pior que dele poderíamos imaginar. Eleições? É possível que nos salvem, desde que aconteçam. Mas já sabemos que não podemos contar com quase nada do que sobrou. Não é só a convicção de que nossas Forças Armadas parecem estar inertes. Estão a favor do homem em tudo – pelo menos os que trabalham diretamente para o governo.

Felizmente os que estão nos seus quartéis, eu já não sei. Mas e a Justiça, o Parlamento, a chamada Grande Imprensa (que de grande só tem o tamanho), e a “elite“?

Lamento dizer ao respeitável público, é o restolho e só desesperança. Que nos venha o plebiscito, pelo amor de Deus. Se vier.

P.S. Esqueci-me de mencionar os quase 700 mil mortos pela incúria do Inominável e seu desgoverno. Acho, aliás, que uma enciclopédia como a Britânica, não bastaria para elencar seus crimes.—

Imagem: pintura de Enio Squeff

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